O fenômeno, apelidado de “office housework”, é especialmente comum entre mulheres: elas têm duas vezes mais chances de acumular tarefas invisíveis em comparação aos homens (Jessica Peterson/Getty Images)
Repórter
Publicado em 30 de julho de 2025 às 07h57.
Imagine que, no meio de um projeto importante, você se vê sendo solicitado a organizar uma reunião de última hora, ajudar a treinar um novo colega ou até mesmo limpar a sala de conferências após um encontro. Essas atividades são exemplos do que o fenômeno corporativo conhecido como "office housework" representa. São tarefas administrativas, sociais e de bastidores que, embora necessárias para o funcionamento da equipe, raramente são reconhecidas como contribuições significativas para o avanço da carreira.
O fenômeno é especialmente comum entre mulheres: elas têm duas vezes mais chances de acumular tarefas invisíveis em comparação aos homens, segundo um levantamento da Harvard Business Review com mais de 7.000 profissionais de diferentes setores e países.
Além disso, uma pesquisa do Center for WorkLife Law, da Universidade da Califórnia, apontou que as mulheres são 48% mais propensas a serem vistas como “ajudadoras” e, por isso, têm mais dificuldade em recusar tarefas administrativas, sociais e de bastidores o que reduz seu tempo em projetos de alto impacto e visibilidade.
O problema da tendência "office housework" não está apenas na sobrecarga de tarefas, mas no impacto que isso tem no crescimento da carreira. Ao invés de investir em projetos estratégicos que geram resultados e reconhecimento, o profissional acaba distraído com atividades que, embora importantes para o bom funcionamento do escritório, raramente são levadas em conta nas avaliações de desempenho.
“Isso pode resultar em uma carreira estagnada, onde o profissional sente que está se esforçando muito, mas sem a recompensa proporcional”, diz Andre Purri, CEO da Alymente.
Apesar de ser algo desafiador, há uma saída amigável, segundo o CEO. “Reportar à liderança, os custos e benefícios dessas ações, é fundamental para não passar despercebido”, diz. “Dizer ‘não’ com elegância é uma habilidade estratégica. Preservar seu tempo e sua reputação constrói autoridade profissional, do contrário, você acaba invisível, mesmo trabalhando muito”.
Não basta apenas saber o que não aceitar, é preciso ter clareza ao dizer não. Entre as sugestões estão:
“Ser generoso no trabalho deve ter equilíbrio”, diz Purri. “Diga sim para iniciativas que tragam retorno claro e estratégico e aprenda a recusar dignamente o que consome seu tempo e energia de maneira improdutiva. Esse ajuste pode ser o diferencial para construir uma carreira sólida e reconhecida.”
A maioria dos líderes ainda não enxerga com clareza o que está por trás da sobrecarga de alguns profissionais, conta Purri.
"Essas tarefas invisíveis não fazem barulho. Elas acontecem nos bastidores, como ao organizar a agenda, acolher o novo colega e resolver a pendência do time. Geralmente, caem no colo de quem é mais disponível, e como são tarefas que ninguém quer fazer, acabam sendo vistas como um 'favor' e não como trabalho", diz.
O líder que presta atenção, no entando, vai perceber que aquela pessoa que está sempre ocupada nem sempre está evoluindo. "Ela normalmente está apagando incêndio o dia inteiro, mas sem espaço pra crescer, inovar ou aparecer", afirma o executivo.
E aqui entra um ponto-chave. Segundo Purri, também é papel do líder dizer não. "Proteger o time do excesso, redistribuir o que está mal alocado, abrir espaço pra que cada um possa focar no que realmente importa. Liderança não é só garantir que tudo seja feito, é garantir que tudo esteja sendo feito pelas razões certas e pelas pessoas certas."