Carreira

O que o caso do “vertical bar pilates” revela sobre os cuidados com a IA no RH

Vídeos de entrevistas feitas por IA viralizaram no TikTok recentemente (um dos mais famosos é aquele em que o "robô recrutador" repete a frase “vertical bar pilates”). A repercussão trouxe um alerta: a IA pode errar neste momento importante da carreira - o que fazer?

O uso da IA no mundo de RH exige cada vez mais um humano por trás da tecnologia  (NongAsimo/Getty Images)

O uso da IA no mundo de RH exige cada vez mais um humano por trás da tecnologia (NongAsimo/Getty Images)

Sofia Esteves
Sofia Esteves

Fundadora e Presidente do Conselho Cia de Talentos/Bettha.com

Publicado em 10 de julho de 2025 às 13h26.

Última atualização em 10 de julho de 2025 às 13h28.

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Por Sofia Esteves, Fundadora da Cia de Talentos, Bettha.com e Instituto Ser+

Quem me conhece sabe que sou uma grande entusiasta da inteligência artificial e que venho estudando o assunto há alguns anos. Ainda assim, um episódio recente me fez refletir sobre o cenário em que essa inovação acaba provocando desconforto e insegurança, em vez de cumprir seu papel como aliada dos negócios.

Estou me referindo aos vídeos de entrevistas conduzidas por IA que viralizaram no TikTok — um dos mais famosos é aquele em que o "robô recrutador" repete, por 25 segundos, a frase “vertical bar pilates” (“barra vertical de pilates”, na tradução para o português). Um erro no sistema.

Segundo a jovem que passava pelo processo seletivo, a experiência foi um tanto assustadora, e ela só conseguiu rir da situação depois que recebeu comentários engraçados sobre o vídeo compartilhado na internet. Na hora, contudo, a sensação foi de frustração e insegurança.

Processos seletivos - a possível bug na "IA entrevistadora"

Todo esse desconforto, veja bem, não tem a ver com a inteligência artificial em si, como se a tecnologia fosse algo totalmente novo para jovens profissionais. A questão é que, em geral, processos seletivos já geram alguma ansiedade. As pessoas se preocupam em se preparar, em apresentar seu melhor, em alinhar suas respostas às expectativas da empresa — e, agora, elas ainda precisam considerar a possibilidade de enfrentar um bug na "IA entrevistadora".

Independente de o caso do “vertical bar pilates” ter sido um episódio isolado ou não, o fato é que ele não foi o primeiro — e dificilmente será o último. Casos de IAs que desviam da função têm se tornado cada vez mais comuns, muitas vezes porque ninguém está olhando com atenção suficiente para esses pontos críticos. Parece que, em alguns casos, as empresas estão apenas criando uma camada superficial de tecnologia por cima de modelos como o GPT, sem testar adequadamente ou entender os reais riscos envolvidos.

Diante disso, é natural que surjam mil e uma perguntas: como agir quando um erro de tecnologia interfere em uma atividade? No caso específico do recrutamento, será que essa falha pode impactar na conquista da vaga? Em uma entrevista com IA, posso pedir para o robô uma pergunta ou isso será mal interpretado? A tecnologia consegue interpretar meu tom de voz? Ela entende figura de linguagem? Qual a melhor abordagem: responder de forma natural, como faria para uma pessoa, ou de forma mais objetiva, como se estivesse preenchendo um formulário?

Todas essas dúvidas são naturais e não acho que elas sejam um impeditivo para o uso da tecnologia no recrutamento ou em qualquer outra prática corporativa. Concordo com a visão de que a IA não é mais uma opção — ela é fundamental para gerar escala, eficiência e otimização, além de eliminar vieses inconscientes. Só que o resultado dessa adoção está diretamente ligado à forma como ela é implementada.

A diferença entre uma transformação que gera eficiência e uma que causa pânico está na preparação do terreno. Isso significa, antes de tudo, pensar na experiência de quem está do outro lado da tecnologia. E mais: entender os riscos, testar corretamente cada solução antes de implementá-la e garantir que a IA escolhida realmente cumpra a função para a qual foi projetada.

Como usar a IA no recrutamento de forma eficiente?

Quando converso sobre o assunto na Cia de Talentos, Bettha.com e em outras empresas nas quais sou conselheira, sempre reforço o ponto de que é, sim, importante incorporar a tecnologia, mas com ética, responsabilidade e cuidado. Precisamos analisar como a inovação impacta as pessoas e os negócios.

No caso específico do recrutamento com IA, minha recomendação é esclarecer o uso para quem está participando. Ou seja, explicar de forma clara como funciona aquele processo, qual o papel da inteligência artificial nessa atividade, como eventuais erros são tratados e garantir um canal de suporte acessível em caso de dúvidas ou problemas.

Empresas que não fazem esse dever de casa correm o risco de transformar um processo que deveria ser mais ágil, democrático e eficiente em uma experiência distópica, que gera frustração e até danos à própria reputação da marca empregadora.

No fim das contas, uma das lições que fica é que os tantos ganhos positivos da adoção da IA dependem de como a tecnologia é introduzida, do cuidado com a comunicação e da clareza sobre seu uso.

Por isso, use a tecnologia para escalar, otimizar e transformar — mas não se esqueça de continuar pensando como um ser humano. É essa combinação que separa a inovação da frustração.

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