A nova tendência do mercado agora não é o executivo equilibrar todos os pratinhos em uma empresa, é fracionar o seu tempo em diferentes projetos - e em diferentes empresas. (DNY59/Getty Images)
Repórter
Publicado em 22 de junho de 2025 às 08h09.
A ideia de um CEO com crachá fixo e exclusividade total a uma empresa está dando lugar a uma nova forma de atuação. Profissionais C-Level como CFOs, CMOs, CTOs e até CEOs estão cada vez mais aderindo ao modelo fractional, no qual dedicam parte do seu tempo a diferentes empresas, em regime parcial. A nova tendência do mercado agora não é o executivo equilibrar todos os pratinhos em uma empresa, é fracionar o seu tempo em diferentes projetos - e em diferentes empresas.
O modelo de contratação, que já está consolidado nos Estados Unidos, ganha força no Brasil e começa a remodelar o topo das estruturas corporativas.
“Estamos observando um movimento cada vez mais forte de executivos seniores que não querem mais estar presos a um único CNPJ”, afirma Eliane Aere, presidente da ABRH-SP (Associação Brasileira de Recursos Humanos em São Paulo). “Eles preferem atuar em projetos de alto impacto, com liberdade, ao mesmo tempo em que compartilham sua expertise com diversas empresas.”
Mais do que uma escolha individual, o modelo fractional responde a uma demanda crescente do mercado: acessar talentos estratégicos sem arcar com os custos de uma contratação full-time. É o caso de startups em expansão, empresas em transformação digital ou negócios em processo de reestruturação, que precisam de inteligência de gestão para crescer, mas ainda não comportam a estrutura tradicional de uma alta liderança fixa.
Para Aere, a adesão ao modelo está conectada à busca por flexibilidade, ao avanço da gig economy e ao fortalecimento de estruturas corporativas mais horizontais. “É uma nova lógica de trabalho, que exige maturidade das lideranças e visão estratégica por parte das empresas”, diz.
A ascensão dos fractional executives também reflete uma mudança cultural entre os profissionais mais experientes, que valorizam mais a autonomia, a diversidade de desafios e o impacto do que cargos fixos ou estabilidade convencional.
“Esse modelo rompe a ideia tradicional de carreira linear e responde bem ao contexto atual, em que o conhecimento técnico e a capacidade de adaptação são mais valorizados do que o status do cargo”, afirma Aere.
O movimento também tem nome entre especialistas em recursos humanos: C-Level as a Service (CaaS).
“É uma resposta direta à realidade de muitas empresas que cresceram, mas ainda não comportam um C-Level permanente — seja por estrutura, orçamento ou momento de maturidade”, afirma Frederico Torres, sócio-sênior do Grupo Hub.
Criado para atender demandas específicas, como reestruturações, expansão de mercado ou desafios financeiros, o modelo C-Level as a Service permite que líderes experientes ajudem empresas a se desenvolver de forma mais rápida e estratégica — e sem os custos de uma contratação tradicional. Segundo Torres, a prática tem se mostrado particularmente valiosa em startups e PMEs em busca de escalabilidade.
A expectativa em torno desse mercado é alta: de acordo com a consultoria Future Market Insights, o segmento global de “talento como serviço” deve atingir US$ 1,17 trilhão até 2032, crescendo a uma taxa anual de 11,7%.