Apesar da boa reputação, os profissionais maduros ainda são minoria nos processos seletivos, segundo a pesquisa (LattaPictures/Getty Images)
Repórter
Publicado em 30 de abril de 2025 às 12h35.
Última atualização em 30 de abril de 2025 às 13h16.
Mesmo com remuneração equivalente à de profissionais mais jovens e alto nível de qualificação, trabalhadores com 50 anos ou mais seguem enfrentando barreiras para se manter no mercado. Segundo novo levantamento do Pandapé, plataforma de recrutamento, mais da metade (52,4%) dos respondentes percebe o etarismo como um entrave para a retenção de talentos maduros.
A pesquisa revela que a remuneração — muitas vezes apontada como obstáculo à contratação — não é vista como um problema por 60,7% dos entrevistados, que consideram os salários desse público compatíveis com os de outras faixas etárias. Outros 21,4% afirmam que o valor pode ser até maior.
“Existe um mito de que contratar pessoas mais velhas custa mais caro ou traz menos retorno. Os dados mostram justamente o oposto. O problema não é técnico, é cultural”, afirma Thomas Costa, porta-voz do Pandapé.
A pesquisa analisou a base de candidatos com e acima dos 50 anos cadastrados no Infojobs e entendeu principais setores, dores e desafios para conquistar vagas. Além disso, consultou 85 empresas de todo o Brasil, onde líderes de RH responderam quais iniciativas e políticas estão sendo estabelecidas para combate ao etarismo. Os dados foram coletados entre março e abril de 2025.
Inclusão ainda tímida
Apesar da boa reputação, os profissionais maduros ainda são minoria nos processos seletivos. Dos mais de 58 mil currículos cadastrados na base do Pandapé, apenas 10,2% são de candidatos com mais de 51 anos — a menor proporção entre os grupos adultos. Desses, mais de 55% têm formação superior, técnica ou pós-graduação, mas quase 80% estão fora do mercado.
Mesmo com reconhecimento explícito de suas qualidades — 47,6% das empresas valorizam seu comprometimento e 46,4% destacam a experiência acumulada —, apenas 29,8% dizem contar com boa participação dessa faixa etária em seleções. E 16,7% afirmam que raramente ou nunca contratam pessoas com 50 anos ou mais.
A falta de diretrizes internas também contribui para a perpetuação da exclusão: apenas 15,5% das empresas afirmam ter políticas claras contra o etarismo, enquanto quase 40% não discutem o tema de forma estruturada.
Barreiras invisíveis
Na percepção das empresas, os principais desafios para integrar esses profissionais em equipes multigeracionais incluem:
Além disso, 34,5% reconhecem que a discriminação por idade ocorre dentro da empresa, mesmo sem registros formais — uma evidência de que o preconceito ainda atua de forma velada, mas impactante.
Talento estratégico desperdiçado
Com o aumento da longevidade e o avanço das transformações digitais, cresce também a demanda por requalificação constante e diversidade de perspectivas. Mas 61,9% dos entrevistados acreditam que o mercado ainda não está preparado para aproveitar o potencial dos profissionais 50+.
“O etarismo é uma barreira invisível, mas negativamente poderosa, que custa caro em termos de produtividade e inovação. É preciso que as lideranças deixem de ver a diversidade geracional como um desafio e passem a encará-la como vantagem competitiva”, afirma Costa.