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A era dos ‘superprofissionais’: as empresas elevam exigências, mas não os salários

Processos seletivos estão mais longos e complexos, com pressão por desempenho acima da média e pouca flexibilidade para negociar benefícios

Pesquisa mostra que 9 em cada 10 empresas entram na era da disputa pelos “superprofissionais” (FlicStock/Getty Images)

Pesquisa mostra que 9 em cada 10 empresas entram na era da disputa pelos “superprofissionais” (FlicStock/Getty Images)

Publicado em 12 de julho de 2025 às 08h01.

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Se antes era suficiente ter a maioria dos requisitos técnicos e algumas soft skills bem desenvolvidas, agora parece que o jogo mudou. Empresas entraram de vez na era dos superprofissionais — e estão cada vez mais exigentes. Segundo levantamento da consultoria Michael Page, especializada em recrutamento de média e alta gerência, 9 em cada 10 companhias estão em busca de talentos com performance acima da média, combinação técnica-comportamental de ponta e, de preferência, retorno imediato.

"Como há um clima de incerteza econômica global, as companhias querem contratar apenas funcionários que ‘já cheguem rodando’ e tragam algum retorno financeiro", afirma Marina Brandão, gerente da Michael Page. Para ela, há uma busca quase unânime por contratações 100% certeiras — o que tem tornado os processos seletivos mais longos, com mais etapas e entrevistas mais aprofundadas.

Além disso, o tempo médio de duração desses processos aumentou 15% em relação ao ano passado. E o número de candidatos avaliados também subiu.

“Está mais comum as empresas demandarem candidatos extras, além do número inicial previsto, o que naturalmente estende o processo”, diz Brandão.

Para Stephano Dedini, diretor-executivo da Michael Page, a régua está mais alta do que nunca. “Não basta ter oito de dez habilidades desejadas. É preciso ter 11 ou 12. As empresas estão pedindo perfis mais completos, com destaque técnico e comportamental”, afirma.

A IA ajuda, mas ainda não faz todo o processo

A inteligência artificial, segundo Dedini, apoia nas etapas mais operacionais do processo como, por exemplo, buscas de perfis, filtros e preparação de material, mas o elemento humano e a conexão direta do candidato com todos os stakeholders acabam não tendo muito impacto.

"As etapas mais longas acontecem quando envolvemos mais stakeholders. A ideia é ter visões diversas e tomar uma decisão mais colegiada para compartilhar o risco e minimizar a possibilidade de não escolher a pessoa certa para o cargo", afirma.

Um processo seletivo interminável 

Outro ponto que mudou foi a estrutura das entrevistas. Se antes uma conversa com o gestor resolvia, agora é comum que o candidato passe por RH, gestor direto, diretoria e até compliance. Em alguns casos, há simulações e dinâmicas em grupo mesmo para cargos executivos.

Apesar da demanda maior por qualificação, essa exigência não tem sido acompanhada de ofertas salariais mais competitivas. Pelo contrário: há uma tendência de conservadorismo.

“Notamos que as empresas estão buscando fazer o famoso ‘mais com menos’. Isso quer dizer que a régua está mais elevada, mas não ligada diretamente a uma remuneração mais agressiva”, afirma Dedini.

No fim das contas, o recado das empresas está claro: só entra quem já estiver pronto para entregar — mesmo que o pacote não seja dos mais atrativos.

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