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E se fosse possível comprar ‘profissionais reborn’?

Como a obsessão pela perfeição pode afetar negativamente as relações de trabalho e os resultados das empresas

Na era dos filtros, simulações e bebês reborn, o mercado se depara com a criação do "profissional reborn" (CreativaImages/Getty Images)

Na era dos filtros, simulações e bebês reborn, o mercado se depara com a criação do "profissional reborn" (CreativaImages/Getty Images)

Publicado em 10 de julho de 2025 às 13h34.

Última atualização em 10 de julho de 2025 às 14h06.

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Por Paula Esteves, Co-CEO da Cia de Talentos, diretora da ABRH Berrini e da ONG Instituto Ser+

Todo mundo só fala em “bebê reborn” e, à primeira vista, o objeto do momento não tem nada a ver com carreira, mundo do trabalho e outros temas que costumo abordar por aqui. Mas tem algo por trás desse interesse que me chama a atenção: a busca por uma perfeição quase irreal, que imita a vida nos mínimos detalhes e, ainda assim, é totalmente artificial.

É sobre isso que quero falar. Não sobre as bonecas em si nem sobre o debate sobre a infantilização dos adultos. O que me interessa é o fascínio por figuras hiper-realistas: bonecas que “enganam” fácil, cuidadosamente feitas para parecerem uma criança de carne e osso. Totalmente diferente dos bebês de plástico com que eu brincava quando criança.

Nesse caso, o artificial parece real — só que um real idealizado. Assim como os filtros nas redes sociais que deixam a pele "perfeita", que "consertam" nossos defeitos.

A tolerância à falha existe?

E é diante disso tudo que eu me pego pensando sobre a nossa tolerância à falha — ou a falta dela. Será que, daqui a pouco, vamos querer criar "profissionais reborn"? Pessoas perfeitas, milimetricamente criadas para performar, sem problemas, sem contradições, sem defeitos, sem erros.

Afinal, quantas vezes nós, enquanto líderes, não esperamos que um talento venha "pronto de fábrica"? Não há tempo, dinheiro nem energia para ensinar, treinar e desenvolver as pessoas.

Sei que lidar com pessoas pode ser desafiador. Dá trabalho, exige dedicação, escuta, paciência e disposição para enfrentar o imprevisível — mas é também no meio de toda essa complexidade que surgem os aprendizados mais potentes.

Pessoas erram, mudam de ideia, têm dias bons e dias ruins. E é exatamente por isso que são capazes de criar, de improvisar, de se adaptar quando o caminho muda. São essas “falhas” que, muitas vezes, abrem espaço para o novo.

O alerta aqui não é contra a busca por excelência ou produtividade. É contra a ilusão da perfeição programável.

Cumprir metas x imprevisibilidade humana

Empresas precisam performar, entregar bons resultados, cumprir metas, porém isso demanda uma capacidade para lidar com a imprevisibilidade e as imperfeições humanas. Tentar controlar absolutamente tudo — inclusive o comportamento das pessoas — pode até parecer eficiente no curto prazo, mas mata a diversidade de pensamento, a autonomia e a criatividade. No fim, não há inovação, apenas repetição de processos que não levam a qualquer lugar diferente.

Claro que não devemos romantizar o erro nem aceitar tudo passivamente. A ideia é reconhecer que desenvolver talentos continua sendo uma parte essencial e insubstituível do trabalho de qualquer organização que pretende crescer de verdade.

Na era dos filtros, simulações e bebês reborn, vale lembrar que nossa autenticidade — cheia de falhas e nuances — é o que nos permite inovar de verdade. Um recado especialmente importante em tempos de processos de seleção e recrutamento pasteurizados, mas isso é assunto do próximo artigo.

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