Carreiras que apresentem desafios e oportunidades de aprendizado são mais atrativos para os Gen Z (Thinkstock/Tijana87/Divulgação)
Redação Exame
Publicado em 11 de março de 2025 às 08h02.
Por Rogério Chér, sócio fundador de Devello e da Winx, especialista em Liderança, Cultura e Engajamento
A Geração Z, composta por aqueles nascidos entre 1995 e 2010, entra no mercado de trabalho com expectativas que não podemos ignorar. Engajar os zoomers, como são conhecidos, não é apenas uma questão de adaptação, mas uma oportunidade para as organizações aprimorarem suas culturas e gestão de pessoas em benefício de todas as gerações.
A partir da nossa experiência prática com organizações de diferentes ramos e portes, aqui estão 6 iniciativas que sugerimos para atrair, engajar e inspirar a Gen Z no trabalho.
Cuide das gerações anteriores
A Gen Z é obviamente influenciada pelas experiências de trabalho de seus familiares e amigos das gerações X e Y. Se essas gerações relatam experiências negativas, os zoomers podem desenvolver uma visão cética em relação ao mundo corporativo.
Segundo Patrick Lencioni, autor de “Os 5 desafios das equipes”, a desmotivação é contagiosa. Se as gerações anteriores estão desanimadas, isso se espalha rapidamente para os mais jovens. É essencial criar um ambiente onde todas as gerações se sintam valorizadas e apoiadas. Antes de focar na Gen Z, mostre a ela quais são as melhores práticas com as demais faixas etárias.
Pesquisas da Winx no Brasil revelam organizações com apenas 38% dos funcionários que se sentem engajados no trabalho. Imagine o que podemos esperar dos demais 62%. Para mudar essa realidade, as empresas precisam garantir que as gerações mais antigas tenham oportunidades de crescimento e reconhecimento, criando um ciclo positivo que inspire os zoomers. É preciso governar clima, engajamento, cultura e liderança como regra, não apenas como gestão de crise quando o clima é ruim e perdemos talentos. Assim, os mais antigos também revelarão o maior grau possível de gratificação com o trabalho. Isso aumenta a chance de contágio positivo.
Lembre-se: serão líderes das gerações X e Y que estarão na liderança da Z. Se não estiverem engajados, como engajarão?
Ofereça caminhos alternativos de carreira
Planos de carreira convencionais dificilmente empolgarão a Geração Z. Por outro lado, rotas que apresentem desafios e oportunidades de aprendizado contínuo podem ser mais estimulantes.
Em vez de apresentar um organograma rígido, com suas tradicionais estruturas de cargos, ofereça "trilhas de desafios" que permitam aos zoomers escolher tarefas, equipes, horários e ferramentas que mais os motivem.
Daniel Pink, em seu livro “Motivação 3.0”, destaca que a motivação intrínseca é impulsionada, entre outras variáveis, pela autonomia. Esse é, para nós, o caminho a se adotar com a GenZ.
Estimule algum nível de liberdade para que seus zoomers possam escolher tarefas e desafios além das suas descrições de cargo (tarefas), pessoas da sua área ou de outros departamentos com quem adoraria fazer este trabalho (equipes), com autonomia para gerenciar seu tempo neste projeto dentro de um cronograma acordado com a liderança (horários) e com os recursos que entender mais adequados (ferramentas).
Desloque o olhar da GenZ de cargos e organogramas para desafios. Apresente aos zoomers os problemas e as oportunidades mais relevantes da organização em seu atual ciclo estratégico, e pergunte: em quais deles você gostaria de nos ajudar?
Lembre-se: deixe-os fora da caixa, para que possam pensar e agir fora dela!
Ressignifique liderar como privilégio
Para muitos jovens, a ideia de liderança está associada a tarefas burocráticas e estressantes, longe do que realmente importa. No entanto, liderar pode ser um privilégio quando visto como oportunidade para influenciar a estratégia e a cultura organizacional.
Gary Hamel, em “Humanocracia”, argumenta que as organizações precisam descentralizar o poder e capacitar seus talentos a assumirem papéis de liderança. Isso não apenas aumenta a agilidade, mas inspira os mais jovens a verem a liderança como uma forma de impacto positivo.
Segundo uma pesquisa da McKinsey, 70% dos funcionários valorizam líderes que são mentores e inspiradores. Portanto, use os líderes mais engajadores da sua organização para mostrar aos zoomers que liderar é uma jornada de crescimento e contribuição.
Envolva a Geração Z em mentoria reversa
A Geração Z chega ao mercado de trabalho com uma visão de mundo influenciada pela tecnologia e pelas mudanças sociais. Em vez de apenas ensinar, as empresas podem aprender com esses jovens por meio de mentorias reversas.
Tracy Maylett, autor de “Engajamento MAGIC”, destaca que culturas de aprendizagem são essenciais para o engajamento. Seriam menos impactantes com a GenZ? Quando os zoomers percebem que suas opiniões são valorizadas e que podem contribuir para a evolução da empresa, em aprendizado recíproco, sentem-se mais conectados e motivados.
De verdade, o mundo organizacional precisa de ares insurgentes e desafiadores do status quo, como a GenZ pode provocar. Vamos pensar nos habituais ciclos de avaliação de desempenho e feedback. Para que servem? Para identificar em quais competências as pessoas são ruins. Para que serve o feedback? Para contar isso a elas! Para que servem os PDIs (planos de desenvolvimento individual)? Para “consertar” estes pontos falhos dos funcionários. Tudo pouco animador, o que torna o ambiente de trabalho uma caricatura perversa.
Culturas de aprendizagem apoiam seus talentos a desenvolverem o que eles sabem que não sabem, e a descobrirem o que nem sabiam que ignoravam. Perfeito! Mas os zoomers, por outro lado, chegam sabendo muito coisa que as empresas ignoram sobre as visões de mundo dessa geração, seus estilos de viver e se relacionar, suas percepções sobre empresas e negócios, consumo e sociedade. Estar em um ambiente que deseja aprender com eles, em mentorias reversas, será certamente um sinal de que são valorizados, suas opiniões importam e seus empregadores são receptivos com suas ideias e contribuições.
Um estudo da PwC revelou que 65% da Geração Z querem feedback constante e oportunidades de desenvolvimento. A mentoria reversa não apenas atende a essa necessidade, mas também cria um ambiente de crescimento compartilhado.
Fomente ambientes de trabalho significativos
Para engajar a Geração Z, é crucial criar experiências de trabalho que vão além das tarefas diárias. O acrônimo MAGIC (Meaning, Autonomy, Growth, Impact, Connection), de autoria de Tracy Maylett, da DecisionWise, oferece um framework poderoso para isso:
Uma pesquisa da LinkedIn mostra que 86% da Geração Z considera o aprendizado e o desenvolvimento como prioridades no trabalho. Ao alinhar essas necessidades com um ambiente significativo, as empresas podem aumentar o engajamento e a retenção.
Um estudo da Deloitte mostra que 49% da Geração Z preferem trabalhar em projetos que tenham um impacto social positivo. Portanto, alinhar os desafios corporativos com causas maiores pode ser uma estratégia poderosa para engajar essa geração.
Promova conexão humana
A Geração Z valoriza relacionamentos autênticos e um senso de comunidade no trabalho. Mesas de pebolim e happy hours não são suficientes; é preciso criar espaços onde as pessoas possam se conectar de verdade, compartilhando histórias e visões de mundo.
Patrick Lencioni enfatiza que a confiança é a base de qualquer equipe de sucesso. Quando as pessoas se sentem seguras para serem vulneráveis, a conexão humana se fortalece.
Um estudo da Harvard Business Review mostra que funcionários que têm um melhor amigo no trabalho são sete vezes mais engajados. Portanto, fomentar um "clã" dentro da empresa, onde todos se sintam parte de uma família, é essencial para engajar a Geração Z.
Em resumo:
Pensando em atrair e engajar a GenZ, leve em conta essas 6 iniciativas:
Como Gary Hamel afirma em *Humanocracia*, o futuro do trabalho depende da capacidade das organizações de se tornarem mais humanas e adaptáveis. A Geração Z não é apenas o futuro; ela é o catalisador para uma nova era de engajamento e inovação no trabalho.