IA: como profissionais do RH podem se preparar para usar essa ferramenta (SvetaZi/Getty Images for National Geographic Magazine)
Autor colaborador
Publicado em 19 de julho de 2025 às 08h00.
A presença da inteligência artificial no ambiente de trabalho não é novidade, inclusive no setor de recursos humanos.
Não é que a tecnologia seja o problema. O problema é quando ela vira substituto das relações humanas em vez de apoiá-las. Quando a IA passa a ocupar o espaço de escuta que antes pertencia às lideranças ou às relações entre colegas, ela pode reforçar uma cultura de isolamento. Em vez de promover vínculos, corre-se o risco de substituir conexões reais por interações com algoritmos.
Existe também o risco da ilusão de cuidado. A presença de uma ferramenta digital voltada ao bem-estar pode gerar uma percepção de que a empresa está fazendo algo relevante pela saúde emocional dos times. Mas se essa ação não estiver integrada a uma cultura de confiança e acompanhamento real, ela funciona como uma fachada. E fachadas, no campo emocional, tendem a gerar frustração e desengajamento.
Diante desse novo cenário, é fundamental que líderes de RH vão além da simples adoção de tecnologia e reflitam profundamente sobre como estão promovendo o bem-estar emocional dentro da organização.
Identifique onde os colaboradores sentem que não são ouvidos ou acolhidos. Isso pode ser feito por meio de pesquisas internas, grupos focais ou canais de feedback anônimos.
Teste soluções de IA que ofereçam suporte emocional, mas sempre com supervisão humana para garantir qualidade, ética e segurança no atendimento.
Utilize indicadores de bem-estar emocional junto a métricas tradicionais para que a liderança tenha uma visão completa da saúde do time e possa agir de forma preventiva.
Invista no desenvolvimento dos gestores para que saibam acolher o sofrimento emocional dos colaboradores, reconhecendo que a tecnologia é uma aliada, mas não substitui o cuidado humano.
Estabeleça políticas claras para garantir a privacidade, o consentimento informado e o uso responsável dos dados coletados, alinhadas às melhores práticas de governança corporativa e às legislações vigentes, como a LGPD.
Integrar a IA aos programas de bem-estar vai muito além de uma simples tendência tecnológica: é uma resposta necessária a uma demanda humana legítima por acolhimento, orientação e equilíbrio emocional. Mas essa integração só será eficaz se guiada por critérios claros de governança, ética, supervisão humana e respeito à privacidade.
Líderes de RH têm hoje uma oportunidade— e uma grande responsabilidade — de conduzir essa transformação com sabedoria. Isso exige superar a falsa oposição entre tecnologia e humanidade, adotando uma abordagem integrada, na qual IA e liderança humana se complementem.
Ouvir os colaboradores com atenção verdadeira, identificar precocemente sinais de sobrecarga emocional e transformar dados em ações concretas de cuidado serão, cada vez mais, os diferenciais das organizações que querem prosperar em um mundo complexo e emocionalmente desafiador.
A questão, portanto, não é se devemos usar IA para apoiar o bem-estar, mas sim: como faremos isso sem perder o que torna uma organização verdadeiramente humana?