Revista Exame

Quanto custa um hectare para fazer vinho na Borgonha, na França?

Em 2014, o Grupo LVMH desembolsou impressionantes 101 milhões de euros para adquirir o lendário Clos de Lambrays, uma joia de 8,7 hectares em Morey Saint Denis

 (Catarina Bessell/Exame)

(Catarina Bessell/Exame)

Publicado em 23 de novembro de 2023 às 06h00.

Última atualização em 23 de novembro de 2023 às 14h56.

A região da Borgonha, na França, é sinônimo de prestígio e excelência quando o assunto é vinho. Seus vinhedos produzem alguns dos rótulos mais cobiçados e caros do mundo. Mas, afinal, quanto vale 1 hectare (pouco mais que um campo de futebol) nesse terroir repleto de história e tradição vinícola?

Em uma visita recente à Borgonha, tive a oportunidade de fazer essa pergunta a diversos produtores. Para compreender melhor as respostas que me foram apresentadas, é preciso entender, antes de mais nada, que cada hectare na Borgonha é mais do que apenas um pedaço de solo; é uma parcela (limitadíssima) de um legado enológico que remonta a séculos de história.

Grandes operações

Alguns eventos marcantes ocorridos nos últimos anos no mundo dos negócios envolvendo vinícolas ajudam a contextualizar as fascinantes narrativas desses viticultores. Em 2014, o Grupo LVMH desembolsou impressionantes 101 milhões de euros para adquirir o lendário Clos de Lambrays, uma joia de 8,7 hectares em Morey Saint Denis. Outro marco ocorreu em 2017, quando Stan Kroenke, proprietário do icônico Screaming Eagle do Napa Valley, comprou 11 hectares da Bonneau do Martray situados em Corton. O preço? A cifra extraordinária de 200 milhões de euros.

Transações desse porte sem dúvida estabeleceram novos parâmetros no mercado de vinhos. Além disso, a crescente demanda por vinhos da Borgonha verificada no período pós-pandemia ajudou ainda mais a elevar os preços.

Um produtor me contou que recentemente investiu em terras na ascendente Maranges pelo valor de 150.000 euros por hectare. Sua lógica intrigante reside no fato de que, se tivesse comprado terras em Meursault, região de maior prestígio, levaria cerca de 150 anos para recuperar o investimento. Ele destacou o exemplo de um último hectare de um vinhedo Meursault Premier Cru, o qual foi vendido por exorbitantes 6 milhões de euros.

Outro fato curioso que alguns produtores compartilharam é que, caso eles pensassem apenas em uma relação risco-retorno, o melhor negócio a ser feito seria vender as uvas por eles cultivadas aos negociantes, os quais ficariam responsáveis por todo o processo de vinificação e comercialização dos vinhos. Mesmo podendo ser economicamente mais vantajoso, muitos produtores são resistentes a esse caminho diante do desejo de manter e expandir o legado e a história de suas famílias.

Além disso, os produtores revelaram que o governo local tenta conter a expansão desenfreada de grandes grupos na região, especialmente estrangeiros, mas há estratégias para contornar essa barreira, como o aluguel de terras para esses empresários, combinado com um direito de compra após um período determinado.

Assim, há um conjunto de fatores que tem levado os preços do hectare na Borgonha a aumentos ainda maiores. A possibilidade de produzir história em forma de um objeto desejado mundialmente e em quantidades limitadas pela natureza é muito valorizada. Ou, como ensinam na Academia, a demanda “puxa para cima” o preço do ativo.

Acompanhe tudo sobre:1257VinhosFrançabebidas-alcoolicasBebidas

Mais de Revista Exame

Borgonha 2024: a safra mais desafiadora e inesquecível da década

Maior mercado do Brasil, São Paulo mostra resiliência com alta renda e vislumbra retomada do centro

Entre luxo e baixa renda, classe média perde espaço no mercado imobiliário

A super onda do imóvel popular: como o MCMV vem impulsionando as construtoras de baixa renda