Ivani Silveira, vice-presidente de RH da Ternium
Redatora
Publicado em 7 de outubro de 2025 às 14h24.
“Meu pai sempre dizia: você pode fazer tudo o que um homem faz.” Filha de um metalúrgico nordestino em São Bernardo do Campo, Ivani Silveira, membro do Clube CHRO da EXAME e Saint Paul, cresceu ouvindo essa frase como um princípio de vida.
Aos poucos, percebeu o peso daquelas palavras em sua própria trajetória. Quando chegou à vice-presidência de Recursos Humanos da Ternium, maior produtora de aço da América Latina, já trazia consigo três décadas de experiência em ambientes industriais historicamente dominados por homens, sustentando uma visão clara de que diversidade não é acessório, é estratégia de negócios.
A confiança transmitida pela família se tornou uma espécie de pilar pessoal para reformular culturas organizacionais que ainda não olhavam para a diversidade.
Ivani ingressou como trainee no Grupo Techint e construiu carreira em setor do aço e tubos para o setor de energia. Passou por posições de gestão no Brasil e na matriz da companhia, na Itália, coordenando políticas de RH em países como México, Argentina, Canadá e Japão.
Com MBA em Recursos Humanos (FIA-USP) e programas executivos em Stanford e no IMD (Business School for Management and Leadership Courses), consolidou experiência em projetos de Fusões e Aquisições, mudanças culturais e gestão de talentos.
Mas foi ao longo da trajetória que desenvolveu consciência sobre a urgência da inclusão. “No momento em que percebemos que havia massa crítica de mulheres nas universidades, entendemos que era hora de atraí-las. Mas não bastava contratar. Era preciso preparar líderes e ambientes para recebê-las.”
Hoje, à frente de uma equipe responsável por 3.600 funcionários diretos e cerca de 4.000 contratados no complexo industrial da Ternium em Santa Cruz, no Rio de Janeiro, Ivani defende que políticas de diversidade e inclusão não podem ser vistas como ações periféricas.
Para ela, trata-se de estratégia central de negócios.
Ela explica que o avanço começou quando universidades passaram a formar mais engenheiras e profissionais de áreas técnicas.
Na Ternium, os pilares são claros:
A empresa mantém programas de estágio, trainee e aprendizagem com foco em representatividade, além de iniciativas específicas como o “Programa de Mentoria para Jovens Negros”, criado para impulsionar talentos. Há ainda círculos internos de discussão, mentorias de carreira para mulheres e medidas de flexibilidade para pais e mães no retorno da licença parental.
A mudança cultural, segundo Ivani, depende de enfrentar vieses inconscientes. Ela cita um episódio em que discutiu com um diretor a candidatura de uma engenheira para uma vaga na manutenção.
“Ele dizia que o trabalho era muito difícil, que exigia estar no turno da noite. Mas a profissional queria a vaga. O viés dele era de que só homens poderiam ocupá-la. Nosso papel é justamente questionar isso”, conta Silveira.
Ivani Silveira, vice-presidente de RH da Ternium
O avanço, reforça, precisa ser mensurável. Hoje, 29% da diretoria da Ternium é composta por mulheres, sendo que em 2019, ela era a única. Entre os líderes em geral, o índice subiu de 16% para 30%.
“Ainda falta muito, especialmente na operação, mas já temos a consciência e os ganhos que vêm com essas mudanças.”
Para Ivani, o futuro da diversidade corporativa dependerá da capacidade das empresas de conectar inclusão a resultado.
“As novas gerações esperam representatividade. Os consumidores cobram. E empresas que não se apropriarem dessa pauta vão perder talentos”
Com 31 anos de carreira no Grupo Techint, somando os períodos na Tenaris e na Ternium, ela reconhece que a consciência sobre desigualdades foi amadurecendo ao longo do tempo, inclusive em sua própria visão de mundo.
No fim, volta ao ponto inicial sobre a diversidade não ser uma concessão, mas uma vantagem competitiva. “Não pode ser tratada como acessório. É um tema sério, que gera resultado econômico e melhora o ambiente de trabalho. É isso que nos move.