Bolsonaro (Arthur Menescal/Getty Images/Getty Images)
Colunista
Publicado em 26 de novembro de 2025 às 12h03.
A prisão de Jair Bolsonaro era um dos fatos mais esperados no meio político nos últimos meses. Tanto por ser considerado o destino mais provável do ex-presidente desde que se tornou réu no Supremo Tribunal Federal, quanto pelas repercussões que pode ter sobre o cenário eleitoral em 2026.
Desde que foi recolhido ao regime domiciliar, ainda em agosto deste ano, aliados reforçaram que seria preciso aguardar um desfecho final para a situação do “capitão” antes de movimentar o tabuleiro eleitoral.
Pois bem, antecipada em alguns dias pela determinação preventiva de Alexandre de Moraes, mas tornada definitiva pelo trânsito em julgado do processo, o encerramento do processo penal de Bolsonaro não deve esgotar sua participação — ainda que virtualmente — no jogo político nacional.
O day after à prisão preventiva, no último sábado, já trouxe alguns impactos relevantes no curto prazo — especialmente a intensificação da pressão para que seja votada a anistia no Congresso —, mas não alteram o cenário estrutural de governabilidade, nem o quadro para 2026. A prisão definitiva decretada nesta terça-feira, e que também será cumprida na sede da Polícia Federal em Brasília neste primeiro momento, deve ter efeitos semelhantes: aumento do ruído vindo de aliados, mas dificilmente irá mudar o curso dos acontecimentos.
A perspectiva segue sendo de manutenção do cronograma previsto na direita para o anúncio da candidatura de oposição a Lula, nos primeiros meses do próximo ano. Além disso, Tarcisio de Freitas continua como principal nome na oposição para o projeto eleitoral. A competitividade do governador de São Paulo nas pesquisas, a boa receptividade do establishment e a inviabilidade da família Bolsonaro — seja pela via jurídica, seja pela alta rejeição — o consolidam como favorito neste campo.
Veja abaixo como a prisão de Bolsonaro deve impactar os principais personagens deste enredo:
A situação do ex-presidente ficou mais delicada com a divulgação do vídeo que mostra a tentativa de violação da tornozeleira com ferro de solda. Se antes a tendência era de que retornasse brevemente à prisão domiciliar após o trânsito em julgado, o episódio no sábado pode adiar esta possibilidade. Caso Bolsonaro permaneça mais tempo em regime fechado, na sede da Polícia Federal, as discussões sobre a prisão humanitária e o PL da Anistia no Congresso ocuparão mais tempo e espaço que o previsto inicialmente.
O calendário de visitas, pensado para tentar articular o tabuleiro de 2026, também fica prejudicado e precisará ser reorganizado. Como consequência, as discussões sobre o cenário eleitoral, que já não ocorreriam no curtíssimo prazo, só devem ganhar fôlego quando ele estiver em casa, empurrando qualquer decisão efetiva para o início do próximo ano.
Considerado o herdeiro mais viável de Bolsonaro, Flavio havia iniciado movimentação nas últimas semanas para se cacifar como player nas próximas eleições. O senador já tinha, contudo, poucas chances reais de se tornar candidato à Presidência — seja pela falta de apoio na direita e no centro, seja pela vontade de renovar seu mandato no Senado. O próprio deu declaração neste sentido esta semana.
A vigília convocada em apoio ao pai, que motivou a prisão preventiva, foi vista por parlamentares da oposição como um ato desastrado e deve gerar maior isolamento de Flavio fora do bolsonarismo mais aguerrido. Até mesmo a (já baixa) possibilidade de se tornar o vice numa chapa com Tarcisio tem sido rechaçada com mais firmeza, inclusive por aliados na direita. A avaliação é de que Flavio acentuaria a rejeição à candidatura presidencial e que sua situação jurídica também pode se agravar, caso ganhe maior evidência e persista em ações para interferir na situação de Bolsonaro.
A citação ao seu nome por Alexandre de Moraes no pedido de prisão foi lida como alerta: Flavio deve se recolher para evitar enfrentar as mesmas complicações que o irmão Eduardo, já réu em processo por coação.
O calendário para Tarcisio não deve ser alterado com a prisão de Bolsonaro. A expectativa já era de eventual anúncio apenas no primeiro trimestre de 2026 — timing que serve ao objetivo de favorecer uma amarração melhor de sua sucessão em São Paulo e dar tempo de apresentar entregas de sua gestão.
O posicionamento rápido em solidariedade ainda no momento da prisão preventiva foi bem recebido pelo entorno do ex-presidente e visto como necessário para consolidar a relação. Apesar da possibilidade de desgaste adicional por parte da esquerda por ter considerado a prisão “injusta”, já é esperado que esta e outras falas de Tarcisio em defesa de Bolsonaro e criticando Alexandre de Moraes sejam exploradas por adversários na campanha. Portanto, segue o jogo para o governador, que continua à espera de um sinal de seu líder político.
Os primeiros dias no Congresso após a prisão de Bolsonaro têm sido marcados por maior ruído e pressão pela votação da proposta de anistia — já convertida de forma mais realista em redução na dosimetria de penas. Assim, matérias de interesse do governo podem ser afetadas, como a votação da proposta de corte linear de benefícios tributários, uma das principais para atingir a meta de 2026.
No entanto, boa parte do trabalho para recomposição do orçamento já foi concluída, com a aprovação do PL de atualização do IR de imóveis, em que foram incluídas as medidas de receitas e despesas da MP 1303. E, se num primeiro momento o centrão criticou a prisão, após a divulgação do vídeo sobre a tornozeleira é esperado algum recuo na defesa de Bolsonaro por parte das lideranças fora da direita.
Com isso, o Planalto trabalha com um cenário de retomada de votações nas próximas semanas para o avanço de temas como LDO e Orçamento. Questões paralelas e não diretamente relacionadas a Bolsonaro, como a indicação de Jorge Messias ao Supremo e as reações do PT à escolha de Guilherme Derrite para relatar o PL Antifacção, tendem a gerar maior tensão no Congresso do que a própria prisão.
Mostra disso foi o anúncio de rompimento de Hugo Motta com Lindberg Faria, a aprovação no Senado de projeto que regulamenta o piso salarial para agentes de saúde e o pouco tempo dado por Davi Alcolumbre para articular a aprovação de Messias, até 10 de dezembro. Temas que deixam o governo em estado de alerta, mas que não derivam da prisão de Bolsonaro.