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Live de bloco? E se não tiver mais carnaval em 2021?

Com a pandemia, as festas populares estão sob ameaça. Lives de desfiles de escolas e blocos de rua seriam uma opção?

Carnaval 2021: como vai funcionar diante do coronavírus? (NurPhoto / Colaborador/Getty Images)
GD

Guilherme Dearo

Publicado em 6 de maio de 2020 às 06h30.

Última atualização em 6 de maio de 2020 às 15h13.

Ainda é muito cedo para afirmar, mas há uma grande probabilidade do Carnaval 2021 não acontecer. Caso isso se confirme, o Brasil e, em particular, a capital baiana (onde acontece o maior carnaval do país) deve sofrer um impacto avassalador, maior que em outras cidades brasileiras, uma vez que o evento movimenta a economia local, gerando emprego e renda para empresas e trabalhadores informais.

Somente em 2020, o Carnaval movimentou 1,25 bilhão de reais na economia soteropolitana, segundo a Secretaria de Turismo do Estado da Bahia (Setur).

Como sabemos, o Carnaval é mais que uma festa, afinal há uma grande cadeia produtiva que depende de um evento desta magnitude para ser sustentável financeiramente o ano todo. Além disso, o mega evento é uma experiência de catarse coletiva, aguça os sentidos e também as memórias afetivas.

A Bahia reinventou o Carnaval brasileiro com o trio elétrico, a guitarra baiana, os blocos de matriz afro e uma estrutura profissional que virou modelo para várias cidades do Brasil e do mundo. Milhares de turistas viajam longas distâncias para viver esta experiência singular e diversa.

Com a pandemia do novo coronavírus , o Carnaval e as festas populares podem estar ameaçados. Toda a cadeia de entretenimento e da economia criativa está em risco. Como reagiremos a esta situação?

Por isso, precisamos pensar juntos com a indústria cultural, novos modelos de entretenimento neste contexto que será o “novo normal”, no qual não será possível, a médio prazo, a aglomeração de pessoas e eventos públicos de grande porte.

Não há respostas prontas para esse problema. Só em falarmos sobre a probabilidade do cancelamento do carnaval já causa uma grande comoção pública. Mas, quem atua com planejamento estratégico ou utiliza ferramentas do futurismo, precisa trabalhar com cenários. O cancelamento do carnaval (ou uma versão diferente dele) é um cenário relevante a ser considerado. Até mesmo o prefeito de Salvador e o governador da Bahia já demonstraram publicamente preocupação com o tema.

Fica a provocação: existem hoje no mercado tecnologias que podem minimizar o impacto econômico de um possível cancelamento do Carnaval, a exemplo de realidade virtual, realidade aumentada, as já mais popularizadas transmissões via live streaming e até mesmo ambientes virtuais 3D, a exemplo dos jogos como o Second Life. Seria esse o caminho? Um carnaval multitela, semipresencial ou híbrido? São respostas que devemos buscar.

A experiência digital nunca substituirá o calor humano. Mas mesmo se trabalharmos com esse cenário catastrófico é possível pensar em formas que possam gerar renda para os trabalhadores da cultura, a exemplo de músicos, técnicos de som, artistas plásticos e, de alguma forma, envolver trabalhadores informais, possibilitando que eles tenham acesso à economia digital.

Paulo Rogério Nunes é consultor de diversidade, empreendedor (Divulgação/Divulgação)

Essa reflexão é sobre o Carnaval, mas devemos pensar em outras cadeias produtivas que serão impactadas, de forma similar, com essa pandemia. Precisamos pensar em como impulsionar o delivery e o e-commerce para zonas periféricas, por exemplo. É preciso, também, garantir acesso ao crédito para os pequenos e nano negócios que representam 99% do setor privado brasileiro.

As crises costumam ser combustíveis para inovação. O Airbnb e o Uber foram criados entre os anos de 2008 e 2009, no auge da crise econômica mundial, como soluções para baratear e tornar mais acessíveis segmentos tradicionais.

Sem dúvidas, chegou a hora de reinventarmos o entretenimento. Esse desafio é para todo o Brasil, e em especial para a Bahia, a terra onde surgiu o samba, que gerou o cinema novo, que abriu as portas do Brasil para o rock, que exporta a capoeira a centenas de países, que inventou a batida do samba reggae e que agora precisa ajudar na criação de um novo modelo criativo para o mundo. O desafio é grande, mas não é impossível.


Paulo Rogério Nunes é consultor de diversidade, empreendedor e autor do livro “Oportunidades Invisíveis”. Faz parte da rede alumni do Bekman Klein Center da Universidade Harvard.

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Ainda é muito cedo para afirmar, mas há uma grande probabilidade do Carnaval 2021 não acontecer. Caso isso se confirme, o Brasil e, em particular, a capital baiana (onde acontece o maior carnaval do país) deve sofrer um impacto avassalador, maior que em outras cidades brasileiras, uma vez que o evento movimenta a economia local, gerando emprego e renda para empresas e trabalhadores informais.

Somente em 2020, o Carnaval movimentou 1,25 bilhão de reais na economia soteropolitana, segundo a Secretaria de Turismo do Estado da Bahia (Setur).

Como sabemos, o Carnaval é mais que uma festa, afinal há uma grande cadeia produtiva que depende de um evento desta magnitude para ser sustentável financeiramente o ano todo. Além disso, o mega evento é uma experiência de catarse coletiva, aguça os sentidos e também as memórias afetivas.

A Bahia reinventou o Carnaval brasileiro com o trio elétrico, a guitarra baiana, os blocos de matriz afro e uma estrutura profissional que virou modelo para várias cidades do Brasil e do mundo. Milhares de turistas viajam longas distâncias para viver esta experiência singular e diversa.

Com a pandemia do novo coronavírus , o Carnaval e as festas populares podem estar ameaçados. Toda a cadeia de entretenimento e da economia criativa está em risco. Como reagiremos a esta situação?

Por isso, precisamos pensar juntos com a indústria cultural, novos modelos de entretenimento neste contexto que será o “novo normal”, no qual não será possível, a médio prazo, a aglomeração de pessoas e eventos públicos de grande porte.

Não há respostas prontas para esse problema. Só em falarmos sobre a probabilidade do cancelamento do carnaval já causa uma grande comoção pública. Mas, quem atua com planejamento estratégico ou utiliza ferramentas do futurismo, precisa trabalhar com cenários. O cancelamento do carnaval (ou uma versão diferente dele) é um cenário relevante a ser considerado. Até mesmo o prefeito de Salvador e o governador da Bahia já demonstraram publicamente preocupação com o tema.

Fica a provocação: existem hoje no mercado tecnologias que podem minimizar o impacto econômico de um possível cancelamento do Carnaval, a exemplo de realidade virtual, realidade aumentada, as já mais popularizadas transmissões via live streaming e até mesmo ambientes virtuais 3D, a exemplo dos jogos como o Second Life. Seria esse o caminho? Um carnaval multitela, semipresencial ou híbrido? São respostas que devemos buscar.

A experiência digital nunca substituirá o calor humano. Mas mesmo se trabalharmos com esse cenário catastrófico é possível pensar em formas que possam gerar renda para os trabalhadores da cultura, a exemplo de músicos, técnicos de som, artistas plásticos e, de alguma forma, envolver trabalhadores informais, possibilitando que eles tenham acesso à economia digital.

Paulo Rogério Nunes é consultor de diversidade, empreendedor (Divulgação/Divulgação)

Essa reflexão é sobre o Carnaval, mas devemos pensar em outras cadeias produtivas que serão impactadas, de forma similar, com essa pandemia. Precisamos pensar em como impulsionar o delivery e o e-commerce para zonas periféricas, por exemplo. É preciso, também, garantir acesso ao crédito para os pequenos e nano negócios que representam 99% do setor privado brasileiro.

As crises costumam ser combustíveis para inovação. O Airbnb e o Uber foram criados entre os anos de 2008 e 2009, no auge da crise econômica mundial, como soluções para baratear e tornar mais acessíveis segmentos tradicionais.

Sem dúvidas, chegou a hora de reinventarmos o entretenimento. Esse desafio é para todo o Brasil, e em especial para a Bahia, a terra onde surgiu o samba, que gerou o cinema novo, que abriu as portas do Brasil para o rock, que exporta a capoeira a centenas de países, que inventou a batida do samba reggae e que agora precisa ajudar na criação de um novo modelo criativo para o mundo. O desafio é grande, mas não é impossível.


Paulo Rogério Nunes é consultor de diversidade, empreendedor e autor do livro “Oportunidades Invisíveis”. Faz parte da rede alumni do Bekman Klein Center da Universidade Harvard.

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