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Mais velhos criticam a geração mimimi. Mas eles criaram os jovens de hoje

Se a juventude de agora tem uma vida mais fácil que a nossa, também somos responsáveis por isso

Darth Vader e Luke Skywalker ensaiando confronto sem sabres de luz (Divulgação/Reprodução)
DR

Da Redação

Publicado em 18 de março de 2022 às 13h49.

Aluizio Falcão Filho

Toda semana vejo memes que satirizam a geração atual, especialmente pelo chamado mimimi e por um suposto caráter fraco, características que teriam surgido por conta de uma vida mais fácil do que aquela experimentada há trinta ou quarenta anos. Segundo esses críticos, bom mesmo seria o tempo em que só havia telefone fixo, a música se tocava em um disco de vinil e tudo no carro era manual – do câmbio à manivela para abrir o vidro da porta. Neste mundo analógico, tudo era mais difícil e as provações moldaram um presumível caráter forte nos baby boomers e em integrantes da chamada geração X.

Faço parte dessa safra de coroas. Tenho orgulho de minhas realizações e das caraterísticas que adquiri como adolescente nos anos 1970 e 1980. Mas não as considero melhores que as dos jovens da atualidade. E vou além: se a juventude de agora tem uma vida mais fácil que a nossa, também somos responsáveis por isso.

Desde que meus filhos eram pequenos, me preocupei em poupá-los de certas dificuldades pelas quais passei ao longo da minha vida – e percebo isso, claramente, em vários amigos que experimentaram os desafios, as agruras e as delícias da paternidade. Essa é uma característica dos pais e mães entre 45 e 65 anos: preferem poupar seus filhos de certos perrengues.

Isso pode causar um caráter fraco? Sim. Uma geração de molengas? Talvez. Mas, se isso acontecer, nós, mais velhos, teremos nossa parcela de responsabilidade, pois pavimentamos uma estrada que, em nosso tempo, era de terra e pedregulhos.

Não deixa de ser curioso. Há pessoas que criaram jovens acomodados porque deram tudo de bandeja para esses filhos durante a infância e a adolescência – e muitos deles se revoltam com a falta de iniciativa de sua prole. Talvez nem tudo seja reflexo do que ocorre na sociedade. Pelo menos uma parte deste comportamento que parece existir por aí foi moldado dentro dos lares de classe média e nas casas dos mais ricos.

É preciso ressaltar que crescer em um ambiente confortável e sem desafios não é determinante para produzir jovens encostados. Desde que comecei a empreender, tive a colaboração de pessoas que vieram de famílias abastadas com grande iniciativa e sem medo de trabalhar. A capacidade de realização, muitas vezes, é uma característica que inspirada pelo exemplo – mas há aqueles que trazem isso já gravado no DNA e se tornam indivíduos proativos e empreendedores.

Tento passar essa mensagem aos meus filhos, mostrando diariamente que o esforço, o trabalho e a dedicação trazem resultados benéficos tanto do ponto de vista espiritual como material. Ontem, por exemplo, minha filha mais nova ficou estudando para uma prova até tarde a acordou às 6:15 para ir à escola.

Ela tem claramente uma inclinação maior para as matérias de Ciências Humanas, mas navega muito bem nas demais disciplinas. Em um determinado momento da noite passada, veio até mim para dizer, com orgulho, que havia acertado as dezoito questões do roteiro do estudo de Física.

Ensinar pelo exemplo é importantíssimo e cria fortes raízes na personalidade dos filhos. Ainda nessa semana, havia perguntado a alguns CEOs e empresários o que eles tinham aprendido de importante com seus pais e mães. O resultado dessa enquete foi tema de minha coluna no dia 14 de março. Quase todos responderam que aprenderam com a geração passada a importância do trabalho duro e dedicado para suas carreiras.

É fácil zombar dos mais jovens. Aliás, quando eu tinha 22 anos e coloquei meus pés na redação da Gazeta Mercantil (já extinta) ouvi várias zombarias em relação ao meu cabelo, minhas roupas e o comportamento da minha geração. Hoje, décadas depois, percebo o mesmo efeito pernicioso: diminuir a importância da juventude através da chacota.

Nos anos 1980, não dei bola e segui em frente. Fui estagiário, repórter, editor-assistente, editor, diretor de redação, diretor editorial e Publisher. Os jovens de hoje provavelmente vão percorrer um caminho semelhante e crescer profissionalmente.

Quando eles tiverem 50 anos, estabelecidos em cargos de chefia, vão caçoar dos mais jovens? Isso seria uma verdadeira heresia para quem cresceu sob a égide dos tempos politicamente corretos. Uma coisa, porém, é certa. Daqui a trinta anos, o emprego como conhecemos hoje será algo raro. Teremos um número maior de empreendedores em toda a sociedade, muitos deles trabalhando individualmente. Para sobreviver neste novo universo, será preciso foco, dedicação e garra. O tal mimimi, que tanto falam, terá de ser abafado – ou extinto. O cenário do futuro será definido pela capacidade de gerar resultados. E isso não será obtido por pessoas sem resiliência e com caráter fraco.

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Aluizio Falcão Filho

Toda semana vejo memes que satirizam a geração atual, especialmente pelo chamado mimimi e por um suposto caráter fraco, características que teriam surgido por conta de uma vida mais fácil do que aquela experimentada há trinta ou quarenta anos. Segundo esses críticos, bom mesmo seria o tempo em que só havia telefone fixo, a música se tocava em um disco de vinil e tudo no carro era manual – do câmbio à manivela para abrir o vidro da porta. Neste mundo analógico, tudo era mais difícil e as provações moldaram um presumível caráter forte nos baby boomers e em integrantes da chamada geração X.

Faço parte dessa safra de coroas. Tenho orgulho de minhas realizações e das caraterísticas que adquiri como adolescente nos anos 1970 e 1980. Mas não as considero melhores que as dos jovens da atualidade. E vou além: se a juventude de agora tem uma vida mais fácil que a nossa, também somos responsáveis por isso.

Desde que meus filhos eram pequenos, me preocupei em poupá-los de certas dificuldades pelas quais passei ao longo da minha vida – e percebo isso, claramente, em vários amigos que experimentaram os desafios, as agruras e as delícias da paternidade. Essa é uma característica dos pais e mães entre 45 e 65 anos: preferem poupar seus filhos de certos perrengues.

Isso pode causar um caráter fraco? Sim. Uma geração de molengas? Talvez. Mas, se isso acontecer, nós, mais velhos, teremos nossa parcela de responsabilidade, pois pavimentamos uma estrada que, em nosso tempo, era de terra e pedregulhos.

Não deixa de ser curioso. Há pessoas que criaram jovens acomodados porque deram tudo de bandeja para esses filhos durante a infância e a adolescência – e muitos deles se revoltam com a falta de iniciativa de sua prole. Talvez nem tudo seja reflexo do que ocorre na sociedade. Pelo menos uma parte deste comportamento que parece existir por aí foi moldado dentro dos lares de classe média e nas casas dos mais ricos.

É preciso ressaltar que crescer em um ambiente confortável e sem desafios não é determinante para produzir jovens encostados. Desde que comecei a empreender, tive a colaboração de pessoas que vieram de famílias abastadas com grande iniciativa e sem medo de trabalhar. A capacidade de realização, muitas vezes, é uma característica que inspirada pelo exemplo – mas há aqueles que trazem isso já gravado no DNA e se tornam indivíduos proativos e empreendedores.

Tento passar essa mensagem aos meus filhos, mostrando diariamente que o esforço, o trabalho e a dedicação trazem resultados benéficos tanto do ponto de vista espiritual como material. Ontem, por exemplo, minha filha mais nova ficou estudando para uma prova até tarde a acordou às 6:15 para ir à escola.

Ela tem claramente uma inclinação maior para as matérias de Ciências Humanas, mas navega muito bem nas demais disciplinas. Em um determinado momento da noite passada, veio até mim para dizer, com orgulho, que havia acertado as dezoito questões do roteiro do estudo de Física.

Ensinar pelo exemplo é importantíssimo e cria fortes raízes na personalidade dos filhos. Ainda nessa semana, havia perguntado a alguns CEOs e empresários o que eles tinham aprendido de importante com seus pais e mães. O resultado dessa enquete foi tema de minha coluna no dia 14 de março. Quase todos responderam que aprenderam com a geração passada a importância do trabalho duro e dedicado para suas carreiras.

É fácil zombar dos mais jovens. Aliás, quando eu tinha 22 anos e coloquei meus pés na redação da Gazeta Mercantil (já extinta) ouvi várias zombarias em relação ao meu cabelo, minhas roupas e o comportamento da minha geração. Hoje, décadas depois, percebo o mesmo efeito pernicioso: diminuir a importância da juventude através da chacota.

Nos anos 1980, não dei bola e segui em frente. Fui estagiário, repórter, editor-assistente, editor, diretor de redação, diretor editorial e Publisher. Os jovens de hoje provavelmente vão percorrer um caminho semelhante e crescer profissionalmente.

Quando eles tiverem 50 anos, estabelecidos em cargos de chefia, vão caçoar dos mais jovens? Isso seria uma verdadeira heresia para quem cresceu sob a égide dos tempos politicamente corretos. Uma coisa, porém, é certa. Daqui a trinta anos, o emprego como conhecemos hoje será algo raro. Teremos um número maior de empreendedores em toda a sociedade, muitos deles trabalhando individualmente. Para sobreviver neste novo universo, será preciso foco, dedicação e garra. O tal mimimi, que tanto falam, terá de ser abafado – ou extinto. O cenário do futuro será definido pela capacidade de gerar resultados. E isso não será obtido por pessoas sem resiliência e com caráter fraco.

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