A união de atores para alavancar a moda circular e azul no Brasil
O setor da moda corresponde ao 2º setor mais poluente, responsável por 10% das emissões globais de CO2 e quase 20% da geração de águas residuais descartadas
Da Redação
Publicado em 16 de dezembro de 2021 às 15h00.
Última atualização em 16 de dezembro de 2021 às 16h09.
Por Guilherme Weege*, Michele Oliveira** e Angélica Rotondaro***
O setor da moda teve participação relevante nas discussões da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26). No encontro, foi lançada a nova versão da Carta da Moda, documento apresentado pela primeira vez em 2018, que trouxe como meta a redução de emissões de CO2 pela metade até 2030.
O segmento da moda corresponde ao segundo setor mais poluente, sendo responsável por 10% das emissões globais de CO2 e quase 20% da geração de águas residuais descartadas. Isso sem contar questões relacionadas aos direitos humanos. A transformação dessa cadeia demanda comprometimento de muitos stakeholders: grandes marcas, startups, fornecedores de matéria-prima, o setor de logística, governos, investidores e consumidores.
Se entre a década de 1990 e 2000 a moda ganhou escala com o fast fashion, acelerando também os problemas decorrentes da omissão pelas externalidades, a década atual é a oportunidade de ser um first mover de novos modelos de negócio alinhados à circularidade. Isso inclui rever matérias-primas, inovar com tecidos recicláveis e biomateriais, desenhar uma cadeia retornável para a produção de novas mercadorias, bem como trazer um resgate do design local.
A Ellen MacArthur Foundation, no relatório Rethinking Business Models for a Thriving Fashion Industry, traz que novos modelos de negócio da economia circular permitirão às empresas terem lucro sem produzir novas roupas. Aluguel, consertos, revendas e utilização de roupas já em circulação em outras cadeias de produção podem representar 23% do mercado da moda até 2030 e movimentar US$ 700 bilhões, além de reduzir a emissão de CO2 e o consumo de água.
Trazemos aqui dois casos no Brasil. Na indústria da moda, já há empresas que incluíram o eixo da circularidade aos processos produtivos, conseguindo levar produtos mais sustentáveis a preços viáveis aos consumidores finais. Entre as ações nesse sentido, destacam-se a produção de roupas com menos uso de água no processo de lavanderia e utilização de produtos químicos, bem como a confecção de malha utilizando PET (poliéster oriundo do processo de reciclagem de garrafas de plástico), algodão desfibrado (produzido a partir da reciclagem de retalhos de tecido da própria indústria) e poliéster biodegradável em suas coleções. No país, iniciativas como essas já são adotadas, por exemplo, pelo Grupo Malwee.
Pela perspectiva de thinktanks, o Climate Smart Institute traz o tema da moda dentro do contexto de uma economia circular e azul, com chamadas de negócios e apoio a startups. Para sair do eixo Rio-São Paulo e democratizar a moda circular, o instituto desenhou o programa Cerrado Circular, com a instalação de um polo no Mato Grosso do Sul. O local é centro de apoio a empreendedores, com a valorização de materiais da biodiversidade, além do design e saberes de etnias tradicionais.
Embora não haja metas oficiais para uma moda circular e azul no Brasil, já se percebe a maturidade de vários agentes da indústria com iniciativas que possibilitem a transição para uma economia de zero carbono, deixando de lado a tradicional fórmula produz, compra, usa e descarta.
*Guilherme Weege é CEO do Grupo Malwee.
**Michele Oliveira é diretora do Comitê de Moda Circular e Azul no Climate Smart Institute.
***Angélica Rotondaro é diretora executiva no Climate Smart Institute e membro do conselho do Insper Metricis.
Por Guilherme Weege*, Michele Oliveira** e Angélica Rotondaro***
O setor da moda teve participação relevante nas discussões da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26). No encontro, foi lançada a nova versão da Carta da Moda, documento apresentado pela primeira vez em 2018, que trouxe como meta a redução de emissões de CO2 pela metade até 2030.
O segmento da moda corresponde ao segundo setor mais poluente, sendo responsável por 10% das emissões globais de CO2 e quase 20% da geração de águas residuais descartadas. Isso sem contar questões relacionadas aos direitos humanos. A transformação dessa cadeia demanda comprometimento de muitos stakeholders: grandes marcas, startups, fornecedores de matéria-prima, o setor de logística, governos, investidores e consumidores.
Se entre a década de 1990 e 2000 a moda ganhou escala com o fast fashion, acelerando também os problemas decorrentes da omissão pelas externalidades, a década atual é a oportunidade de ser um first mover de novos modelos de negócio alinhados à circularidade. Isso inclui rever matérias-primas, inovar com tecidos recicláveis e biomateriais, desenhar uma cadeia retornável para a produção de novas mercadorias, bem como trazer um resgate do design local.
A Ellen MacArthur Foundation, no relatório Rethinking Business Models for a Thriving Fashion Industry, traz que novos modelos de negócio da economia circular permitirão às empresas terem lucro sem produzir novas roupas. Aluguel, consertos, revendas e utilização de roupas já em circulação em outras cadeias de produção podem representar 23% do mercado da moda até 2030 e movimentar US$ 700 bilhões, além de reduzir a emissão de CO2 e o consumo de água.
Trazemos aqui dois casos no Brasil. Na indústria da moda, já há empresas que incluíram o eixo da circularidade aos processos produtivos, conseguindo levar produtos mais sustentáveis a preços viáveis aos consumidores finais. Entre as ações nesse sentido, destacam-se a produção de roupas com menos uso de água no processo de lavanderia e utilização de produtos químicos, bem como a confecção de malha utilizando PET (poliéster oriundo do processo de reciclagem de garrafas de plástico), algodão desfibrado (produzido a partir da reciclagem de retalhos de tecido da própria indústria) e poliéster biodegradável em suas coleções. No país, iniciativas como essas já são adotadas, por exemplo, pelo Grupo Malwee.
Pela perspectiva de thinktanks, o Climate Smart Institute traz o tema da moda dentro do contexto de uma economia circular e azul, com chamadas de negócios e apoio a startups. Para sair do eixo Rio-São Paulo e democratizar a moda circular, o instituto desenhou o programa Cerrado Circular, com a instalação de um polo no Mato Grosso do Sul. O local é centro de apoio a empreendedores, com a valorização de materiais da biodiversidade, além do design e saberes de etnias tradicionais.
Embora não haja metas oficiais para uma moda circular e azul no Brasil, já se percebe a maturidade de vários agentes da indústria com iniciativas que possibilitem a transição para uma economia de zero carbono, deixando de lado a tradicional fórmula produz, compra, usa e descarta.
*Guilherme Weege é CEO do Grupo Malwee.
**Michele Oliveira é diretora do Comitê de Moda Circular e Azul no Climate Smart Institute.
***Angélica Rotondaro é diretora executiva no Climate Smart Institute e membro do conselho do Insper Metricis.