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O desafio de ser melhor a cada dia é o meu guia

Hoje vejo o quanto os relacionamentos com os colegas da faculdade são importantes durante sua vida profissional

FELIPE MENDES General manager da GfK para a América Latina (Divulgação/Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 25 de dezembro de 2021 às 14h04.

Por Fabiana Monteiro

FELIPE MENDES -General managerda GfK para a América Latina

Nasci e me criei em Santos, em 1974, e venho de uma família de educadores. Minha mãe, Mara, era professora e meu pai, Nelio, diretor de escola pública. Então, o apreço e respeito pela educação sempre foram algo muito presentes em mim. Graças à minha mãe, consegui uma bolsa em um colégio particular no Ensino Fundamental, o “Clubinho Pluft”, onde fiquei até o momento de seguir para o Ensino Médio, desta vez em uma escola estadual.

Tenho uma gratidão muito grande ao Pluft e à sua diretora e fundadora, Rosangela Martins, porque sei hoje do impacto de uma boa educação de base, com a qual minha família não teria condições de arcar naquele momento. Além do conteúdo a que tive acesso, convivi com pessoas com condição econômica melhor que a minha, o que me fez experimentar coisas e lugares que eu talvez não tivesse acesso, despertando em mim o desejo de conquistar “mais coisas” em minha vida.

Aos 15 anos, comecei a trabalhar como balconista em uma pequena loja que pertencia ao meu querido padrasto e talvez ali tenha despertado em mim o desejo de fazer Administração de Empresas. Foi esta a minha opção quando, em 1991, iniciei a faculdade em minha cidade natal. Neste processo, havia prestado vestibular para a melhor faculdade de Administração na época, a Getúlio Vargas, porém não passei na segunda fase. Não prestei para a Universidade de São Paulo, que era pública e gratuita, mas deveria haver feito. Hoje vejo o quanto os relacionamentos com os colegas da faculdade são importantes durante sua vida profissional e, se pudesse, haveria estudado um ano mais para entrar em uma Universidade de primeira linha.

No meu terceiro ano da graduação, uma tia, Marisa Camara, conseguiu para mim uma entrevista em uma empresa de pesquisa de mercado, onde ela trabalhava e que ficava na cidade de São Paulo. Era a inglesa Research International. Subi “a serra” cheio de sonhos, fiz a entrevista e fui aceito como estagiário, pelas mãos da fantástica Enny Sayomi. Sou muito grato a ela e ao Roland Hopman, que dedicou muito atenção em me orientar e me deu a oportunidade de ser efetivado.

No entanto, o custo desse sonho foi alto: passei a correr contra o tempo, acordando por volta das 5h30, tomando um ônibus para a capital, trabalhando, retornando para Santos no fim do dia, indo à faculdade e retornando para casa por volta de 23h30. Assim foram os meus dois últimos anos do curso, mas valeu a pena e nada faria de diferente.

Em seguida, fui atrás da minha pós-graduação, em Marketing, que fiz de 1996 até 1998, na “ESPM”. Durante este processo, saí da Research International e tive uma passagem rápida pela Itautec, até chegar à Philip Morris. Mais uma vez, quem me abriu as portas foi uma colega que trabalhara comigo na Research, a Cláudia Checcia, que me recomendou a Nadine Dahoui, outra pessoa que me ensinou muito e me deu muito apoio.

Na Philip Morris fiquei por um ano e meio. Dali eu mudei dentro do próprio grupo para outra empresa que se chamava Kraft e que, em 2012, foi rebatizada de Mondelez. Entrei como assistente de marketing, por indicação do Paulo Mareuse, e saí como gerente de Produto pleno. Tive grandes chefes e grandes líderes ali, e um deles se chamava André Vercelli, que é meu amigo até hoje e do qual sigo usando algumas técnicas de liderança de equipe. Depois de trabalhar com ele por dois anos, tive dois chefes, Marcelo Luz e Alaís Fonseca, que me abriram as portas para uma trajetória de crescimento rápido dentro da companhia.

Porém em 1999 a Mondelez decide mudar-se para Curitiba. Eu tinha acabado de conhecer aquela que viria a ser a minha companheira de vida, a Vanessa Lemos. Havia também acabado de comprar o meu primeiro apartamento em São Paulo e, como poderão imaginar, para alguém que tivera uma infância simples, comprar um imóvel representava uma conquista muito importante.

Isso fez com que eu buscasse opções em São Paulo e tive a sorte ser aceito como gerente de produtos da Refinações de Milho Brasil (RMB), em janeiro de 2000. Esta tradicional empresa havia se instalado em 1930 na capital paulista, como subsidiária da norte-americana Corn Products Company e tinha no seu portfólio, entre outras marcas, o caldo Knorr, o amido de milho Maizena e a marca Hellmann’s, com a qual fui trabalhar.

Uma linda corrida de obstáculos

Numa dinâmica natural de mercado, a RMB acabou comprando a Arisco em março, e em seguida (junho), foi comprada pela Unilever. Assim acabei, meio que por acaso, indo trabalhar no marketing desta gigante e realizando um dos meus sonhos profissionais: ser Gerente de Produto da Unilever. Lembro que aquela tia que me indicou lá atrás para a Research International, a Marisa, também tinha trabalhado ali e só falava maravilhas. Ela era um grande modelo profissional para mim, o que acabou me despertando natural e precocemente o desejo de um dia também fazer parte daquela equipe.

Meu chefe na Unilever era o argentino Douglas Denham, que contribuiu para acelerar muito a minha carreira. Aprendi muito neste período e sou muito grato a ele. Aos 27 anos, ainda muito jovem, me tornei diretor. Aos 30, já casado, tive a oportunidade de mudar de país pela Unilever e fui trabalhar no Chile. Assim realizei outro grande sonho, o de ser expatriado. Moramos um ano e meio em Santiago e, depois, mais dois anos e meio no México, onde tive a felicidade de ter como chefe Alfie Vivian, que hoje é general manager da empresa nos Estados Unidos e vice-presidente do segmento de refrescos da Unilever para a América do Norte.

Foi um período muito feliz da minha vida, ainda mais porque, em julho de 2007 nasceu o meu primeiro filho, em solo mexicano. Ainda assim, eu e minha esposa decidimos voltar para o Brasil, para que nosso filho cultivasse as raízes familiares dele. Era Março de começo de 2008 e, depois de 15 anos de trajetória profissional, retornei àquela empresa que me ofereceu uma oportunidade de estagiário, a Research International, mas agora como seu presidente. Assim, não poderia ter escolhido um roteiro melhor para este meu regresso ao país.

Mas, ironia do destino, fui também o último presidente da história desta empresa no Brasil. Na metade de 2008, a mega companhia britânica de comunicação WPP, dona da RI, adquiriu também a TNS e, por uma questão de realinhamento estratégico, no início do ano seguinte, promoveu uma fusão destes dois braços de pesquisa, com toda a estrutura global da RI sendo transferida para a TNS. A nova estrutura e forma de trabalho não me agradou e segui o meu caminho, atuando em outra empresa do setor, a Ipsos numa jornada de dois anos e meio.

Finalmente, em julho de 2012, assumi a direção geral de uma das divisões do Grupo GfK no Brasil, essa que é uma empresa de data analytics. Desde então, tenho vivido a jornada mais excitante da minha vida profissional, com muitos desafios e oportunidades fantásticas de crescimento pessoal e profissional. Hoje sou o responsável pela empresa em toda a América Latina, gerenciando 300 profissionais em 8 diferentes países.

Por uma atitude de aprendiz para toda a vida

Um dos meus piores chefes, me fez uma das melhores perguntas, em um almoço bastante difícil: “Felipe, por que você não investe em você? Há quanto tempo você não faz um bom curso?” Percebi o quanto fazia sentido aquilo o que ele estava me dizendo, afinal, me dedicava a um monte de coisas, trabalhava que nem um doido, mas fazia tempo que eu não ia para um “banco escolar”.

Pouco tempo depois, tive a oportunidade de entrar para o grupo YPO, sigla para Young Presidents Organization, graças à indicação de Fernando Sálvia. Essa é uma comunidade global de executivos em postos de liderança, que busca o desenvolvimento constante, através da troca de experiências e educação formal.

E a partir do momento que entrei no YPO, não parei mais de estudar. Em 2015, fiz um curso na London Business School; em 2016, em Harvard; em 2017, outro na Fundação Getúlio Vargas; mais outros três em Harvard, em 2019, 2020 e 2021 (e já me inscrevi para 2022). Então, basicamente, ao longo destes últimos anos venho dedicando parte relevante do meu tempo para os estudos, minha formação e aperfeiçoamento. Isso tem um custo pessoal e financeiro alto, mas como aquele chefe me alertou, hoje eu vejo isso como um investimento em mim. Isso me faz um profissional melhor hoje, mas também me prepara para o futuro.

Não é demais sugerir que você jamais acredite que já está “formado”, pois isso é um processo contínuo. E falo isso com conhecimento de causa, pois parei de estudar por muitos anos e percebi o dano que fiz para mim mesmo. Hoje sou um crente do que se convencionou chamar de lifelong learning, o aprendizado para vida inteira. Com todas as mudanças que o mundo tem vivido e a possibilidade que os avanços na saúde trouxeram, para que possamos nos manter ativos por mais tempo precisarem demonstrar ao mercado que seguimos atualizados e, portanto, relevantes. Através das minhas ações e palavras, tento passar essa mensagem para as pessoas que trabalham comigo, aos meus amigos e meus filhos.

Mesmo preparados, alguns precisam de uma “caixa maior”

Sabemos hoje o quanto o CEP da rua em que nascemos tem a ver com sucesso que teremos na vida. Se você nasce em um bairro muito carente ou violento, há uma grande chance de que venha a ter muitos problemas para alcançar uma vida feliz e bem-sucedida. Nasci em um lugar simples, mas, como disse, filho de educadores, e isso fez a diferença na minha vida. Mas quantos não tiveram essa sorte e ficaram pelo caminho?

Por isso que acredito que precisamos “dar oportunidades diferentes, para que as pessoas tenham oportunidades iguais”, ou seja, precisamos promover o equilíbrio. Uma analogia simples para exemplificar o conceito: se eu quero fazer com que três crianças com idades diferentes enxerguem o que está acima de um muro, ao dar a elas caixas com o mesmo tamanho, não promoverei oportunidades iguais. Aquela que tem 13 anos vai conseguir facilmente olhar o outro lado, pois com a ajuda daquela caixa seu peito vai estar mais alto que o muro. A de sete anos talvez passe apenas os olhos, mas ainda assim conseguirá ver alguma coisa. Já a de três, mesmo com aquela caixa, não conseguirá ver nada, pois o que ofereci foi insuficiente para que ela superasse aquele obstáculo.

Essa analogia reflete a diferença entre igualdade (mesma caixa) e equidade (mesma oportunidade). O Brasil é desigual e precisamos reduzi-la, mas não com culpa ou acusações, simplesmente aceitando a ideia que pessoas com históricos diferentes precisam receber caixas de tamanho diferente, para atingir os mesmos objetivos. Os americanos têm uma expressão que diz “ check your privileges ”, a qual traduzo como “aceite seus privilégios e os use para o bem de outros menos privilegiados”.

A partir daí, vale a meritocracia, algo que promovo como líder e até vou além no conceito: acho uma covardia um líder aceitar a mediocridade de sua equipe de maneira passiva, isto é aceitar um nível de resultados abaixo do que cada pessoa tem potencial para entregar. Acho importante também não confundir “capacidade de entrega” com ambição, pois algumas pessoas realizam um trabalho excelente, porém o seu sonho é fazer por muitos anos aquela mesma atividade e isso precisa igualmente ser respeitado.

A grande sabedoria é dar espaço de crescimento para quem quer crescer, mas entre aqueles que não querem crescer, seguir exigindo entregas no limite de sua capacidade. Parece cruel, mas não é: essa atitude garante que essas pessoas terão uma maior empregabilidade que outras, garantindo o sustento próprio e de suas famílias por toda a sua carreira profissional.

Desafios para a nova geração de líderes

O propósito das empresas deve estar conectado com aquilo que elas fazem. A empresa em que trabalho se chama GfK, uma sigla para Growth from Knowledge (Crescimento pelo Conhecimento). Então, se tenho isso como princípio, devo apoiar instituições que tenham foco muito grande em melhorar a educação. Se sou uma empresa de química, por exemplo, preciso apoiar projetos de limpeza de rios, de saneamento. Não tenho dúvidas que teremos um país melhor quando as empresas exercerem aquilo que elas trazem desde o seu nascimento no Brasil, sua “Razão Social”, lógico que em seu conceito expandindo.

Outra crença que tenho para o futuro deste país e que se faz necessário criar um ambiente positivo para a inovação. Precisamos deixar de formar apenas empregados e formar mais empregadores, pessoas que darão empregos. Caso você esteja saindo da universidade e entrando no mercado de trabalho agora, pense sempre em gerar empregos, pois isso contribuirá para o crescimento do Brasil, e é isso que nós, como nação, precisamos.

Fomos abençoados com diversos recursos naturais (área, fontes diversas de energia, clima, baixa frequência de fenômenos naturais letais), mas ao mesmo tempo nossa renda média é pequena, a educação deixa muito a desejar e somos pouco competitivos, quando comparados a nossos concorrentes diretos no mundo. Então esta geração que está vindo tem que ter essa vontade de transformar o País em um lugar melhor. Muito já foi feito, mas há ainda muito por fazer.

A preparação constante para uma vida plena

Aos 47 anos, posso dizer que estou no segundo minuto do segundo tempo da minha vida. Já vivi os primeiros 45 minutos, mas desejo que essa partida siga para a prorrogação e preciso me preparar para ela, cuidando de 4 elementos da minha saúde: mental, física, social/emocional e financeira. Quero crer que tenho chance de viver até os 120 anos, ainda que ninguém na minha família tenha passado nem perto disso.

Em relação à saúde social e emocional, minha esposa e meus filhos, o Vinicius e o Henrique, bem como meus pais, tios e primos, são aqueles a quem dedico a maior parcela do meu “investimento” social. Espero ter a companhia deles por muitos anos e que o nosso relacionamento seja pautado pela sinceridade e respeito, mas também com independência.

Ainda sobre a família, tive meu segundo filho já com 39 anos, portanto imagino que terei netos lá pelos meus 70 anos e espero poder brincar muito com eles durante sua infância. Isso leva ao segundo elemento, que é a saúde física. A cada ano que passa, acredito mais que o meu corpo é o bem mais precioso que tenho, mas também tenho claro que tem uma “vida útil”. Tento comer um pouco melhor, fazer exercícios com um pouco mais de regularidade, dormir o necessário, tomar água e todas aquelas coisas que sabemos fazer bem. Tomo também o vinho que tanto adoro e faço um churrasco sempre que posso, tentando manter esses prazeres, mas com moderação.

Isso se conecta ao terceiro elemento, que é a saúde mental. Precisamos ter momentos de descanso mental, ainda que neles estejamos aprendendo coisas diferentes, ou apenas nos distraindo. Estou sempre lendo algo e tenho enorme prazer nisso, pois me sinto atualizado, mais capaz e mais seguro, além de sempre pensar que com isso estou retardando algumas doenças degenerativas do cérebro.

Esse hábito também colabora para a minha saúde financeira, já que se vou viver mais, vou precisar trabalhar por mais anos e preciso me manter como “carta dentro do baralho”. Se deixo de me atualizar, em algum momento alguém me tira do baralho, e o jogo segue. Encontrar o balanço ideal entre desfrutar do dinheiro que recebe, mas ao mesmo tempo economizar para o futuro, é uma grande sabedoria e acho que a aprendi tarde na vida, lá pelos meus 35 anos. Até aí, economizei um pouco mais do que deveria, o que com certeza é uma melhor opção de vida do que gastar um pouco mais do que deveria.

Para terminar, ser um executivo de ponta é como ser um atleta de elite. Você compete contra os outros, bem como contra você mesmo. Desejo que encontre muito prazer nessa decisão, caso seja a sua, para que sua carreira seja longínqua e vitoriosa.

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FELIPE MENDES -General managerda GfK para a América Latina

Nasci e me criei em Santos, em 1974, e venho de uma família de educadores. Minha mãe, Mara, era professora e meu pai, Nelio, diretor de escola pública. Então, o apreço e respeito pela educação sempre foram algo muito presentes em mim. Graças à minha mãe, consegui uma bolsa em um colégio particular no Ensino Fundamental, o “Clubinho Pluft”, onde fiquei até o momento de seguir para o Ensino Médio, desta vez em uma escola estadual.

Tenho uma gratidão muito grande ao Pluft e à sua diretora e fundadora, Rosangela Martins, porque sei hoje do impacto de uma boa educação de base, com a qual minha família não teria condições de arcar naquele momento. Além do conteúdo a que tive acesso, convivi com pessoas com condição econômica melhor que a minha, o que me fez experimentar coisas e lugares que eu talvez não tivesse acesso, despertando em mim o desejo de conquistar “mais coisas” em minha vida.

Aos 15 anos, comecei a trabalhar como balconista em uma pequena loja que pertencia ao meu querido padrasto e talvez ali tenha despertado em mim o desejo de fazer Administração de Empresas. Foi esta a minha opção quando, em 1991, iniciei a faculdade em minha cidade natal. Neste processo, havia prestado vestibular para a melhor faculdade de Administração na época, a Getúlio Vargas, porém não passei na segunda fase. Não prestei para a Universidade de São Paulo, que era pública e gratuita, mas deveria haver feito. Hoje vejo o quanto os relacionamentos com os colegas da faculdade são importantes durante sua vida profissional e, se pudesse, haveria estudado um ano mais para entrar em uma Universidade de primeira linha.

No meu terceiro ano da graduação, uma tia, Marisa Camara, conseguiu para mim uma entrevista em uma empresa de pesquisa de mercado, onde ela trabalhava e que ficava na cidade de São Paulo. Era a inglesa Research International. Subi “a serra” cheio de sonhos, fiz a entrevista e fui aceito como estagiário, pelas mãos da fantástica Enny Sayomi. Sou muito grato a ela e ao Roland Hopman, que dedicou muito atenção em me orientar e me deu a oportunidade de ser efetivado.

No entanto, o custo desse sonho foi alto: passei a correr contra o tempo, acordando por volta das 5h30, tomando um ônibus para a capital, trabalhando, retornando para Santos no fim do dia, indo à faculdade e retornando para casa por volta de 23h30. Assim foram os meus dois últimos anos do curso, mas valeu a pena e nada faria de diferente.

Em seguida, fui atrás da minha pós-graduação, em Marketing, que fiz de 1996 até 1998, na “ESPM”. Durante este processo, saí da Research International e tive uma passagem rápida pela Itautec, até chegar à Philip Morris. Mais uma vez, quem me abriu as portas foi uma colega que trabalhara comigo na Research, a Cláudia Checcia, que me recomendou a Nadine Dahoui, outra pessoa que me ensinou muito e me deu muito apoio.

Na Philip Morris fiquei por um ano e meio. Dali eu mudei dentro do próprio grupo para outra empresa que se chamava Kraft e que, em 2012, foi rebatizada de Mondelez. Entrei como assistente de marketing, por indicação do Paulo Mareuse, e saí como gerente de Produto pleno. Tive grandes chefes e grandes líderes ali, e um deles se chamava André Vercelli, que é meu amigo até hoje e do qual sigo usando algumas técnicas de liderança de equipe. Depois de trabalhar com ele por dois anos, tive dois chefes, Marcelo Luz e Alaís Fonseca, que me abriram as portas para uma trajetória de crescimento rápido dentro da companhia.

Porém em 1999 a Mondelez decide mudar-se para Curitiba. Eu tinha acabado de conhecer aquela que viria a ser a minha companheira de vida, a Vanessa Lemos. Havia também acabado de comprar o meu primeiro apartamento em São Paulo e, como poderão imaginar, para alguém que tivera uma infância simples, comprar um imóvel representava uma conquista muito importante.

Isso fez com que eu buscasse opções em São Paulo e tive a sorte ser aceito como gerente de produtos da Refinações de Milho Brasil (RMB), em janeiro de 2000. Esta tradicional empresa havia se instalado em 1930 na capital paulista, como subsidiária da norte-americana Corn Products Company e tinha no seu portfólio, entre outras marcas, o caldo Knorr, o amido de milho Maizena e a marca Hellmann’s, com a qual fui trabalhar.

Uma linda corrida de obstáculos

Numa dinâmica natural de mercado, a RMB acabou comprando a Arisco em março, e em seguida (junho), foi comprada pela Unilever. Assim acabei, meio que por acaso, indo trabalhar no marketing desta gigante e realizando um dos meus sonhos profissionais: ser Gerente de Produto da Unilever. Lembro que aquela tia que me indicou lá atrás para a Research International, a Marisa, também tinha trabalhado ali e só falava maravilhas. Ela era um grande modelo profissional para mim, o que acabou me despertando natural e precocemente o desejo de um dia também fazer parte daquela equipe.

Meu chefe na Unilever era o argentino Douglas Denham, que contribuiu para acelerar muito a minha carreira. Aprendi muito neste período e sou muito grato a ele. Aos 27 anos, ainda muito jovem, me tornei diretor. Aos 30, já casado, tive a oportunidade de mudar de país pela Unilever e fui trabalhar no Chile. Assim realizei outro grande sonho, o de ser expatriado. Moramos um ano e meio em Santiago e, depois, mais dois anos e meio no México, onde tive a felicidade de ter como chefe Alfie Vivian, que hoje é general manager da empresa nos Estados Unidos e vice-presidente do segmento de refrescos da Unilever para a América do Norte.

Foi um período muito feliz da minha vida, ainda mais porque, em julho de 2007 nasceu o meu primeiro filho, em solo mexicano. Ainda assim, eu e minha esposa decidimos voltar para o Brasil, para que nosso filho cultivasse as raízes familiares dele. Era Março de começo de 2008 e, depois de 15 anos de trajetória profissional, retornei àquela empresa que me ofereceu uma oportunidade de estagiário, a Research International, mas agora como seu presidente. Assim, não poderia ter escolhido um roteiro melhor para este meu regresso ao país.

Mas, ironia do destino, fui também o último presidente da história desta empresa no Brasil. Na metade de 2008, a mega companhia britânica de comunicação WPP, dona da RI, adquiriu também a TNS e, por uma questão de realinhamento estratégico, no início do ano seguinte, promoveu uma fusão destes dois braços de pesquisa, com toda a estrutura global da RI sendo transferida para a TNS. A nova estrutura e forma de trabalho não me agradou e segui o meu caminho, atuando em outra empresa do setor, a Ipsos numa jornada de dois anos e meio.

Finalmente, em julho de 2012, assumi a direção geral de uma das divisões do Grupo GfK no Brasil, essa que é uma empresa de data analytics. Desde então, tenho vivido a jornada mais excitante da minha vida profissional, com muitos desafios e oportunidades fantásticas de crescimento pessoal e profissional. Hoje sou o responsável pela empresa em toda a América Latina, gerenciando 300 profissionais em 8 diferentes países.

Por uma atitude de aprendiz para toda a vida

Um dos meus piores chefes, me fez uma das melhores perguntas, em um almoço bastante difícil: “Felipe, por que você não investe em você? Há quanto tempo você não faz um bom curso?” Percebi o quanto fazia sentido aquilo o que ele estava me dizendo, afinal, me dedicava a um monte de coisas, trabalhava que nem um doido, mas fazia tempo que eu não ia para um “banco escolar”.

Pouco tempo depois, tive a oportunidade de entrar para o grupo YPO, sigla para Young Presidents Organization, graças à indicação de Fernando Sálvia. Essa é uma comunidade global de executivos em postos de liderança, que busca o desenvolvimento constante, através da troca de experiências e educação formal.

E a partir do momento que entrei no YPO, não parei mais de estudar. Em 2015, fiz um curso na London Business School; em 2016, em Harvard; em 2017, outro na Fundação Getúlio Vargas; mais outros três em Harvard, em 2019, 2020 e 2021 (e já me inscrevi para 2022). Então, basicamente, ao longo destes últimos anos venho dedicando parte relevante do meu tempo para os estudos, minha formação e aperfeiçoamento. Isso tem um custo pessoal e financeiro alto, mas como aquele chefe me alertou, hoje eu vejo isso como um investimento em mim. Isso me faz um profissional melhor hoje, mas também me prepara para o futuro.

Não é demais sugerir que você jamais acredite que já está “formado”, pois isso é um processo contínuo. E falo isso com conhecimento de causa, pois parei de estudar por muitos anos e percebi o dano que fiz para mim mesmo. Hoje sou um crente do que se convencionou chamar de lifelong learning, o aprendizado para vida inteira. Com todas as mudanças que o mundo tem vivido e a possibilidade que os avanços na saúde trouxeram, para que possamos nos manter ativos por mais tempo precisarem demonstrar ao mercado que seguimos atualizados e, portanto, relevantes. Através das minhas ações e palavras, tento passar essa mensagem para as pessoas que trabalham comigo, aos meus amigos e meus filhos.

Mesmo preparados, alguns precisam de uma “caixa maior”

Sabemos hoje o quanto o CEP da rua em que nascemos tem a ver com sucesso que teremos na vida. Se você nasce em um bairro muito carente ou violento, há uma grande chance de que venha a ter muitos problemas para alcançar uma vida feliz e bem-sucedida. Nasci em um lugar simples, mas, como disse, filho de educadores, e isso fez a diferença na minha vida. Mas quantos não tiveram essa sorte e ficaram pelo caminho?

Por isso que acredito que precisamos “dar oportunidades diferentes, para que as pessoas tenham oportunidades iguais”, ou seja, precisamos promover o equilíbrio. Uma analogia simples para exemplificar o conceito: se eu quero fazer com que três crianças com idades diferentes enxerguem o que está acima de um muro, ao dar a elas caixas com o mesmo tamanho, não promoverei oportunidades iguais. Aquela que tem 13 anos vai conseguir facilmente olhar o outro lado, pois com a ajuda daquela caixa seu peito vai estar mais alto que o muro. A de sete anos talvez passe apenas os olhos, mas ainda assim conseguirá ver alguma coisa. Já a de três, mesmo com aquela caixa, não conseguirá ver nada, pois o que ofereci foi insuficiente para que ela superasse aquele obstáculo.

Essa analogia reflete a diferença entre igualdade (mesma caixa) e equidade (mesma oportunidade). O Brasil é desigual e precisamos reduzi-la, mas não com culpa ou acusações, simplesmente aceitando a ideia que pessoas com históricos diferentes precisam receber caixas de tamanho diferente, para atingir os mesmos objetivos. Os americanos têm uma expressão que diz “ check your privileges ”, a qual traduzo como “aceite seus privilégios e os use para o bem de outros menos privilegiados”.

A partir daí, vale a meritocracia, algo que promovo como líder e até vou além no conceito: acho uma covardia um líder aceitar a mediocridade de sua equipe de maneira passiva, isto é aceitar um nível de resultados abaixo do que cada pessoa tem potencial para entregar. Acho importante também não confundir “capacidade de entrega” com ambição, pois algumas pessoas realizam um trabalho excelente, porém o seu sonho é fazer por muitos anos aquela mesma atividade e isso precisa igualmente ser respeitado.

A grande sabedoria é dar espaço de crescimento para quem quer crescer, mas entre aqueles que não querem crescer, seguir exigindo entregas no limite de sua capacidade. Parece cruel, mas não é: essa atitude garante que essas pessoas terão uma maior empregabilidade que outras, garantindo o sustento próprio e de suas famílias por toda a sua carreira profissional.

Desafios para a nova geração de líderes

O propósito das empresas deve estar conectado com aquilo que elas fazem. A empresa em que trabalho se chama GfK, uma sigla para Growth from Knowledge (Crescimento pelo Conhecimento). Então, se tenho isso como princípio, devo apoiar instituições que tenham foco muito grande em melhorar a educação. Se sou uma empresa de química, por exemplo, preciso apoiar projetos de limpeza de rios, de saneamento. Não tenho dúvidas que teremos um país melhor quando as empresas exercerem aquilo que elas trazem desde o seu nascimento no Brasil, sua “Razão Social”, lógico que em seu conceito expandindo.

Outra crença que tenho para o futuro deste país e que se faz necessário criar um ambiente positivo para a inovação. Precisamos deixar de formar apenas empregados e formar mais empregadores, pessoas que darão empregos. Caso você esteja saindo da universidade e entrando no mercado de trabalho agora, pense sempre em gerar empregos, pois isso contribuirá para o crescimento do Brasil, e é isso que nós, como nação, precisamos.

Fomos abençoados com diversos recursos naturais (área, fontes diversas de energia, clima, baixa frequência de fenômenos naturais letais), mas ao mesmo tempo nossa renda média é pequena, a educação deixa muito a desejar e somos pouco competitivos, quando comparados a nossos concorrentes diretos no mundo. Então esta geração que está vindo tem que ter essa vontade de transformar o País em um lugar melhor. Muito já foi feito, mas há ainda muito por fazer.

A preparação constante para uma vida plena

Aos 47 anos, posso dizer que estou no segundo minuto do segundo tempo da minha vida. Já vivi os primeiros 45 minutos, mas desejo que essa partida siga para a prorrogação e preciso me preparar para ela, cuidando de 4 elementos da minha saúde: mental, física, social/emocional e financeira. Quero crer que tenho chance de viver até os 120 anos, ainda que ninguém na minha família tenha passado nem perto disso.

Em relação à saúde social e emocional, minha esposa e meus filhos, o Vinicius e o Henrique, bem como meus pais, tios e primos, são aqueles a quem dedico a maior parcela do meu “investimento” social. Espero ter a companhia deles por muitos anos e que o nosso relacionamento seja pautado pela sinceridade e respeito, mas também com independência.

Ainda sobre a família, tive meu segundo filho já com 39 anos, portanto imagino que terei netos lá pelos meus 70 anos e espero poder brincar muito com eles durante sua infância. Isso leva ao segundo elemento, que é a saúde física. A cada ano que passa, acredito mais que o meu corpo é o bem mais precioso que tenho, mas também tenho claro que tem uma “vida útil”. Tento comer um pouco melhor, fazer exercícios com um pouco mais de regularidade, dormir o necessário, tomar água e todas aquelas coisas que sabemos fazer bem. Tomo também o vinho que tanto adoro e faço um churrasco sempre que posso, tentando manter esses prazeres, mas com moderação.

Isso se conecta ao terceiro elemento, que é a saúde mental. Precisamos ter momentos de descanso mental, ainda que neles estejamos aprendendo coisas diferentes, ou apenas nos distraindo. Estou sempre lendo algo e tenho enorme prazer nisso, pois me sinto atualizado, mais capaz e mais seguro, além de sempre pensar que com isso estou retardando algumas doenças degenerativas do cérebro.

Esse hábito também colabora para a minha saúde financeira, já que se vou viver mais, vou precisar trabalhar por mais anos e preciso me manter como “carta dentro do baralho”. Se deixo de me atualizar, em algum momento alguém me tira do baralho, e o jogo segue. Encontrar o balanço ideal entre desfrutar do dinheiro que recebe, mas ao mesmo tempo economizar para o futuro, é uma grande sabedoria e acho que a aprendi tarde na vida, lá pelos meus 35 anos. Até aí, economizei um pouco mais do que deveria, o que com certeza é uma melhor opção de vida do que gastar um pouco mais do que deveria.

Para terminar, ser um executivo de ponta é como ser um atleta de elite. Você compete contra os outros, bem como contra você mesmo. Desejo que encontre muito prazer nessa decisão, caso seja a sua, para que sua carreira seja longínqua e vitoriosa.

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