Sommelier
Publicado em 6 de outubro de 2024 às 06h01.
Em uma recente viagem pela Galícia, tive o privilégio de conhecer a região da Ribeira Sacra, um lugar que impressiona pela sua beleza natural e pela dedicação dos viticultores locais. As colinas íngremes, com inclinações de até 87 graus, são um desafio constante para os produtores. A região é conhecida pela prática da chamada "viticultura heroica", um termo bem apropriado para descrever o esforço de cultivar vinhas em terrenos tão acidentados, à beira de desfiladeiros sobre o rio Sil.
As variedades de uvas predominantes revelam o caráter único da Ribeira Sacra. A Mencía, Garnacha Tintoreira, Merenzao, Godello e Doña Blanca são as protagonistas dos vinhedos. Cada uma delas traz consigo a autenticidade da Ribeira Sacra, resultando em vinhos frescos e de alta acidez, características que os diferenciam das regiões clássicas da Espanha.
O que mais me impressionou nessa jornada foi o compromisso dos viticultores com a natureza. Famílias trabalham com um respeito profundo pela terra e pelo meio ambiente, sempre com um pensamento de longo prazo, planejando deixar um legado sustentável para as gerações futuras. Um trabalho que transcende a simples produção de vinho — é uma missão que preserva a cultura e o ambiente dessa região histórica.
Um dos produtores que visitei, Abadía da Cova, é um exemplo claro desse respeito pela natureza. Fundada por uma família com longa tradição vitivinícola, a adega se destaca por seus vinhos feitos com práticas sustentáveis. Localizada nas margens do rio Miño, seus vinhedos são cuidados com métodos orgânicos, respeitando o equilíbrio e prezando pela total maturação das uvas. Seus vinhos, especialmente os tintos de Mencía, expressam toda a complexidade e frescor que a Ribeira Sacra tem a oferecer.
Outra visita marcante foi ao Pazo la Cuesta, mais uma vinícola familiar. É uma das mais antigas de toda a Espanha que, sem abrir mão das tradições regionais, traz um olhar moderno para a produção. Seus vinhos Godello e Brancellao são um retrato autêntico das variedades típicas da Ribeira Sacra, com muita mineralidade e equilíbrio. O cuidado com as vinhas e o compromisso em preservar as características naturais dos solos e do microclima fazem da Pazo la Cuesta um nome que merece ser acompanhado de perto. A casa da família é praticamente um museu, com diversas obras de arte e documentos dos séculos passados.
Apesar de toda essa riqueza, a Ribeira Sacra enfrenta desafios. A mão de obra escassa é uma questão crítica, especialmente devido às condições difíceis de cultivo nas encostas. Os produtores dependem de trabalhadores dedicados e capacitados, o que torna o processo ainda mais desafiador e custoso. Além disso, a região, apesar de sua história, belos vinhos e ainda mais potencial, ainda é pouco conhecida fora da Espanha. No entanto, esse fato também contribui para uma vantagem: os vinhos da Ribeira Sacra têm uma excelente relação custo-benefício, sendo uma descoberta imperdível para os amantes de vinhos autênticos e únicos.