Carreira

VP da Uber nas Américas conta a lição vital que teve na carreira

Jill Hazelbaker, VP da Uber, é uma das executivas de ascensão profissional mais rápida em sua área de atuação. Confira a entrevista exclusiva

Jill Hazelbaker: vice-presidente de relações governamentais e de comunicação da Uber para as Américas (Divulgação)

Jill Hazelbaker: vice-presidente de relações governamentais e de comunicação da Uber para as Américas (Divulgação)

Camila Pati

Camila Pati

Publicado em 26 de janeiro de 2017 às 15h00.

Última atualização em 26 de janeiro de 2017 às 17h47.

São Paulo - Com alguns bons anos ainda para chegar à casa dos 40 anos, a vice-presidente de relações governamentais e de comunicação da Uber para as Américas, Jill Hazelbaker, é uma das executivas de ascensão mais meteórica na sua área de atuação.

Antes de comandar a comunicação na Uber, foi chefe de comunicação no Snapchat por um ano e chefe de comunicação corporativa do Google por quatro. Mas, o sucesso de carreira já tinha começado bem antes disso: com 28 anos foi diretora de comunicação da campanha do republicano John MacCain à presidência dos Estados Unidos

E foi na política, só que trabalhando na campanha de reeleição Michael Bloomberg à prefeitura de Nova York, em 2009, que ela contou ter aprendido uma das lições mais valiosas de toda a sua trajetória e da qual tenta se lembrar em todos os cargos: a importância de entender a diferença de perspectiva das pessoas.

Ela explicou como foi esse aprendizado e contou mais sobre sua carreira em entrevista exclusiva a Exame.com no escritório da Uber em São Paulo. Confira trechos da conversa:
Exame.com: você é considerada uma das jovens executivas que avançaram mais rápido na carreira. Você concorda que o sucesso veio rápido?

Jill Hazelbaker: provavelmente, eu acho que o fato de eu ter começado minha carreira na política me deu a possibilidade de ter grandes trabalhos, o que na minha idade talvez não fosse possível se eu trabalhasse para outras indústrias. Aos 28 anos, eu estava chefiando a operação de comunicação de uma campanha presidencial (do republicano John McCain), escrevendo discursos, lidando diretamente com o candidato, preparando –o para debate, chefiando uma grande equipe. Tive a oportunidade de desenvolver habilidades que talvez eu não desenvolvesse e acho que isso me preparou para outros trabalhos e atividades ainda maiores.

Exame.com: você buscou o sucesso?

Jill Hazelbaker: nunca estive interessada em ter grandes cargos, eu estava interessada em ter trabalhos interessantes. Eu acho que você tem que amar o que você faz e todo o resto vem daí.

Exame.com: o que foi vital para que você conseguisse conquistar o que já conquistou na carreira?

Jill Hazelbaker: tive grandes mentores ao longo do caminho, incluindo muitas mulheres que me ensinaram coisas básicas como, por exemplo, conduzir uma reunião, como fazer contato com um executivo, quando falar, quando ouvir.

Exame.com: pode citar alguma lição de carreira que considerou valiosa?

Jill Hazelbaker: depois da campanha presidencial de 2008, fui trabalhar para o Michael Bloomberg que, naquela época, era o prefeito de Nova York e essa foi uma experiência muito interessante para mim porque tinha trabalhado anteriormente com políticos conservadores, e Bloomberg era muito um prefeito muito mais centrista.

Muitas das pessoas com quem eu trabalhei naquela campanha eram do lado democrata, uma experiência incomum na política e aprendi uma lição de um valor incrível naquele ano que é entender que as pessoas têm perspectivas diferentes.

É algo de que tento me lembrar desde então em todos os trabalhos que eu tive. Mesmo quando você tem um claro senso do que quer alcançar ou do que a sua companhia quer alcançar terá um grupo de pessoas com outra perspectiva e que vai experimentar isso de uma maneira muito diversa também. Na Uber isso também tem sido verdade.

Exame.com: o que você acha que faz para ajudar mulheres interessadas em avançar na carreira executiva?

Jill Hazelbaker: acho que mentoria é muito importante. Ter, ao menos na minha experiência, um grupo de mulheres com as quais eu pude não só aprender, mas também me levantou ao longo do caminho e me trouxe outras oportunidades. Tento passar bastante tempo conversando com mulheres do nosso time na Uber e de fora também.

Tento ser bem aberta, se as pessoas querem falar sobre suas carreiras comigo, estou sempre disponível. Acho que é muito importante ter essas conversas e as pessoas fizeram isso comigo ao longo do caminho. Tenho certeza que não teria tido os empregos que tive se pessoas não tivessem sido incrivelmente generosas em relação ao seu tempo comigo.

Exame.com: buscar mentoras então é o seu conselho de carreira para as mulheres?

Jill Hazelbaker: pode ser, mas o meu caminho não é o único caminho. A trajetória de cada um é única, mas uma das coisas que realmente funcionaram para mim é não ter medo de procurar mulheres que tinham empregos que eu achava interessantes e que eram o tipo de trabalho empolgante que eu queria.

Quando eu comecei minha carreira, literalmente lembro de pegar o telefone e ligar para uma executiva que eu não conhecia e dizer: você passaria 20 minutos comigo, eu acho que o que você está fazendo é incrível e me inspira e eu adoraria falar com você.

Em nove de dez vezes essas pessoas me ligavam de volta. Descobrir o que te motiva é muito importante e daí tentar achar pessoas e mapear pessoas inspiradoras que talvez tenham um papel parecido dentro da sua indústria ou fora dela. Pergunte a elas se elas passariam tempo com você e ficará surpresa com quantas vão realmente dizer: claro, tomarei um café com você.

Exame.com: como foi a mudança da política para indústria de tecnologia?

Jill Hazelbaker: quando a equipe do Google fez o contato comigo, eu não sabia diferença entre um browser e um sistema operacional. Já se falava em revolução mobile e acho que eu usava um Blackberry. Mas eu estava pensando sobre o que eu queria fazer e percebi que a indústria de tecnologia fazia sentido para mim.

Na política eu estava trabalhando com pessoas orientadas por um propósito, que eram os candidatos. E quando eu conheci o pessoal do Google, seu grupo de executivos vi que era também óbvio que eles também tinham uma missão que era, naquela época, organizar a informação mundial.

E para mim uma questão importante era a chance de aprender. Sabia bastante sobre campanhas políticas naquela época, mas não sabia nada de tecnologia, então essa oportunidade de aprender com as pessoas mais espertas com as quais já tive chance de trabalhar.

Exame.com: o processo de seleção no Google é conhecido pela sua dificuldade. Para você também foi?

Jill Hazelbaker: sim, me disseram que foi até rápido, mas para mim durou para sempre. Tive muitas entrevistas, exercício de escrita para o CEO que na época era o Eric Schmidt. Foi desafiador e me lembro de estar no meio da campanha para tentar reeleger Michael Bloomberg e o pessoal do Google me ligava e dizia: você pode vir aqui para mais uma entrevista?

Eu queria muito o emprego, mas também não queria perder o trabalho que eu tinha naquele momento ao tentar conquistar esse novo trabalho.

Mas, no fim foi uma experiência incrível e me preparou para trabalhar com algumas das mais extraordinárias companhias e também empreendedores como Evan Spiegel, no Snapchat e Travis Kalanick, da Uber. São pessoas extraordinárias na história da tecnologia e tive muita sorte de ter a chance de ver como eles pensam e como eles constroem coisas.
Exame.com: você mudou de setor mas sempre trabalhou com comunicação, uma habilidade essencial para todo profissional. No seu trabalho de comunicar, o que você acha mais desafiador?

Jill Hazelbaker: na essência, se você é um político ou uma pessoa de negócios, o seu trabalho é comunicar para os seus clientes, a razão e o valor do negócio e como ele pode ter impacto em suas vidas. No nosso caso, na Uber, nossos clientes são motoristas e passageiros.

Esse é um exercício de comunicação, entender sua audiência, saber como falar com ela. Saber falar em uma linguagem que seja acessível pelas pessoas é um desafio muito difícil para muita gente.

Muitos dos empreendedores com quem eu trabalho podem resolver problemas matemáticos muito complexos em suas cabeças, mas eles têm dificuldade para explicar seu propósito e o valor de seus negócios de um jeito simples.

Exame.com: em que atitude você presta mais atenção na hora de contratar alguém para sua equipe?

Jill Hazelbaker: olho muito para a autoconfiança e essa atitude do tipo: eu posso fazer isso. Acho que essa mentalidade leva muitas pessoas ao sucesso porque você pode e deve ter muito treinamento, mas um elemento importante é estar disposto a dar um salto no escuro.

É importante para quem faz esse tipo de trabalho e para quem faz qualquer tipo de trabalho saber que há um período na sua rotina que estarão fazendo coisas que nunca fizeram antes, tentando algo novo. Isso deixa pessoas assustadas e preocupadas com o que pode acontecer, mas não há um substituto para a ação, para ir lá e fazer.

Exame.com: a Uber cresceu rápido no Brasil e, agora, com mais clientes (8,7 milhões de passageiros e 50 mil motoristas), o número de reclamações também cresceu muito. Qual o seu desafio de comunicação agora no Brasil?

Jill Hazelbaker: Somos ainda uma empresa jovem e temos um grande impacto no mundo. Temos muitas coisas que fazemos bem e muitas coisas que ainda temos que melhorar.

Uma das coisas mais empolgantes para mim é que 2017 é o ano do motorista. Acho que nossos passageiros já entendem o valor e o impacto da Uber, ainda que obviamente tenhamos que melhorar o serviço.

Mas estamos nos voltando mais aos motoristas, entendemos o desejo deles de serem parte da nossa comunidade recebendo notícias nossas e dando feedback para a gente. Para mim isso é um grande desafio e uma grande oportunidade neste ano.

Acompanhe tudo sobre:EntrevistasMulheresMulheres executivasSucessoUber

Mais de Carreira

Home office sem fronteiras: o segredo da Libbs para manter o trabalho remoto sem parar de crescer

Escala 6x1: veja quais setores mais usam esse modelo de trabalho, segundo pesquisa

Como preparar um mapa mental para entrevistas de emprego?

Para quem trabalha nesses 3 setores, o ChatGPT é quase obrigatório, diz pai da OpenAI, Sam Altman