Ellen Taaffe, da Kellogg School: Ter a reputação de estar preparada para a perfeição não é suficiente se nosso objetivo é chegar a funções de liderança (Getty Images/Divulgação)
Escola de Negócios
Publicado em 12 de agosto de 2023 às 08h00.
Para muitas mulheres especificamente, as tendências ao perfeccionismo são uma benção no início da carreira. A superpreparação e a produtividade excessiva ajudam os perfeccionistas a se tornarem valorizados e até mesmo serem colegas indispensáveis.
Entretanto, eventualmente, o perfeccionismo pode se tornar um problema, diz Ellen Taaffe, professora associada clínica de gestão e organizações e diretora de programas de liderança feminina na Kellogg School. Pode impedir que as mulheres busquem ou recebam novas responsabilidades.
Em um novo livro, The Mirrored Door:The Mirrorred Door: Break Through the Hidden Barrier that Locks Successful Women in Place (A Porta Espelhada: Rompa a barreira oculta que prende mulheres bem-sucedidas), Taaffe aborda esse e temas afins. A “porta espelhada” do título, definida por Taaffe como uma forma de duvidar da prontidão e mérito comuns às mulheres ao longo de suas carreiras, faz parte de uma constelação de dinâmicas - incluindo culturas desatualizadas no local de trabalho - que impedem o progresso e o potencial pleno das mulheres.
Neste trecho de seu novo livro, Taaffe primeiro explica por que tantas mulheres de alto potencial acabam presas em um ciclo do que chama de "preparação para a perfeição". Em seguida, ela oferece quatro dicas para trabalhar de forma mais confortável com a incerteza e a imperfeição rumo ao avanço profissional.
Frequentemente somos treinados para nos prepararmos para a perfeição. Aprendemos rapidamente as expectativas sobre o que é necessário fazer em um projeto, como se portar em uma reunião e a melhor maneira de progredirmos. As pessoas que gostam de se preparar antecipadamente apreciam a oportunidade, pois ela está diretamente sob seu controle. Quando estamos bem-preparados, possuímos todas as respostas. Clientes e líderes executivos começam a contar conosco, sabendo que fizemos bem o trabalho. É um importante fator de sucesso, especialmente no início da carreira, quando é importante fazer tudo bem-feito e avaliar todos os impulsionadores, descarriladores e detalhes de um produto de trabalho. Somos reconhecidas, apreciadas e solicitadas repetidas vezes a participar dos fluxos de trabalho de outras pessoas.
Logo aprendemos a nos identificar como alguém que sabe o que faz. Continuamos assumindo mais e mais responsabilidades. Somos respeitadas como executoras, especialistas e líderes de projetos. Tornamo-nos bem-sucedidas dentro de equipes ou organizações. Porém esse sucesso tem um ponto fraco quando nosso perfeccionismo nos classifica como o preparador ou a abelha operária, pois pode levar a vários desafios perigosos.
Por fim, ter a reputação de estar preparada para a perfeição não é suficiente se nosso objetivo é chegar a funções de liderança. Líderes devem ser capazes de decidir um curso de ação com apenas informações limitadas. Sempre que dependemos de horas de preparo, não aprendemos como seguir adiante com informações parciais e com o sucesso ou fracasso resultante.
A mulher bem-intencionada e superpreparada pode facilmente ser marcada como excelente para fazer parte de equipes, mas não para liderar. Pior ainda, nossos altos padrões podem nos tornar excessivamente críticas em relação às pessoas que lideramos e desenvolvemos. Em vez de treinar outras pessoas para o destaque, podemos ser vítimas de microgestão, outra reputação perigosa.
Se você se vê em qualquer parte da estratégia de preparação para a perfeição, não está sozinha. Muitas mulheres líderes de sucesso enfrentaram ou continuam a enfrentar esse problema e encontram coragem para abrir a porta espelhada. Pesquisas mostram que as mulheres lidam com o perfeccionismo administrando o paradoxo de suas expectativas internas e sua crença no que a sociedade, o trabalho e a família esperam delas.
Por meio de entrevistas aprofundadas com mulheres de grupos demográficos com diversidade, um estudo mostrou que o perfeccionismo é vivenciado de forma única e que as mulheres encontraram seus caminhos dentro das restrições de suas normas culturais. Embora não existam soluções padronizadas, recomendo várias áreas à medida que deixa de lado ou se prepara para essa estratégia de sucesso.
Passar anos se preparando para a perfeição pode criar a sensação de sacies. Quando reflete sobre sua busca pela perfeição e seus objetivos e metas, provavelmente verá que algo tem que ficar de fora. Porém, garanta não ser sua carreira, seu bem-estar ou a grande contribuição que faz para seu trabalho e família. Uma maneira de se recuperar do perfeccionismo é adotar uma mentalidade de crescimento em vez de uma mentalidade fixa. A reflexão é a chave para o sucesso, pois ajudará a ver objetivamente seu próprio progresso e aprendizado. Caso se pegue pensando demais sobre algo, analise e reflita sobre os fatos, sua interpretação e o que mais pode estar acontecendo. Veja se há acompanhamento para tirá-la da ruminação, para que possa deixar de girar improdutivamente.
Quando minhas clientes dedicam tempo proativamente para refletir sobre seus sucessos ao longo do tempo, descobrem que realizaram mais, ficaram mais fortes e progrediram. Peço a elas que listem todos os riscos que correram, o que aprenderam, como se recuperaram quando algo não correu conforme o planejado e o que fariam de forma diferente da próxima vez. Elas compartilharam suas respostas comigo, surpresas com seu crescimento. É por isso que a reflexão é minha principal recomendação para perfeccionistas e uma das melhores maneiras de avaliar, ignorar a Antagonista Interna e as demandas diárias e celebrar vitórias, perdas e conhecimentos. Essa reflexão deve ser uma prática semanal. Adicionar gratidão à sua reflexão pode levá-la a uma mentalidade positiva.
Estar preparada para a perfeição tem maior probabilidade de se tornar perigoso quando nossos papéis se expandem e crescem. Podemos assumir mais responsabilidade na empresa ou em casa e abordá-la com o mesmo nível de esforço que havia dado certo antes.
Muito frequentemente, mais é adicionado e nada é tirado, o que exige que operemos com mais eficiência ou tiremos itens da lista. Esta é uma parte difícil da transição de função que estamos vivenciando. O paradoxo é que não podemos aplicar o mesmo nível de esforço à perfeição, mas ainda acreditamos que não seremos bem-sucedidas se não formos perfeitas. Para atrapalhar mais ainda, temos que repensar a perfeição e mergulharmos em nossas expectativas com os papéis que desempenhamos. À medida que ganhamos mais responsabilidade pelas pessoas no trabalho, talvez precisemos nos forçar a delegar e estabelecer verificações individuais sobre progresso e resultados. Em casa, nossa estratégia pode ser refletir sobre nossa visão do que é feito e por quem.
Pedi a uma cliente para listar todas as tarefas em sua casa e pedir para que seu parceiro fizesse o mesmo. Foi chocante para eles ver a enorme diferença no tamanho das listas e isso levou a mais diálogos sobre o que poderiam fazer, dividir ou jogar fora. O livro de Tiffany Dufu, Drop the Ball: Achieving More by Doing Less (Pisar na bola: Alcançar Mais Fazendo Menos) é um apelo às mulheres trabalhadoras para que reconsiderem os padrões aos quais nos mantemos.
Embora seu manifesto seja mais focado na vida familiar, o espírito de sua mensagem também pode ser aplicado à vida profissional. À medida que avançamos em nossas carreiras, temos que deixar de lado parte do preparo que nos garantiu a perfeição no passado. Precisamos reformular nossas funções e os padrões aos quais produzimos, equilibrando nossos próprios valores e necessidades com o que é mais importante em cada função.
Muitas vezes, resistimos a decidir porque não queremos arriscar um resultado ruim. Se esse for seu caso, considere criar uma estrutura para seus critérios de decisão que lhe permita agir. Isso pode ser tão simples quanto determinar, por exemplo, que você pode avançar em sua carreira se três de cinco suposições existirem. Peça informações e orientação de seu gerente para que possa avançar com informações menos do que perfeitas.
Quando receber uma nova tarefa em cima de tudo que já tem para fazer, pense sobre o tempo que você terá que dedicar a ela e pergunte se isso será suficiente para o nível de risco envolvido no trabalho. Caso contrário, pense sobre como priorizar ou descarregar outros trabalhos. Envolva outras pessoas para ajudá-la a fazer essa mudança.
Recomendo conversar com o gerente sobre seus deliverables. Trabalhe com seus superiores para identificar o trabalho de alto risco e onde você pode produzir de forma mais eficiente ou delegar. Eu digo às minhas clientes e alunas: Identifique As, Bs e Cs. Negocie quantos As pode realizar realisticamente com a excelência requerida, juntamente com o nível de conclusão dos Bs e Cs. Esse tipo de conversa pode ajudá-la a criar expectativas compartilhadas sobre o trabalho que será necessário fazer.
Você não está mais no colégio querendo tirar notas perfeitas. É hora de concentrar o esforço onde é mais necessário e combinar os projetos restantes com o nível de rigor apropriado. Você pode pensar: na minha empresa tudo é tratado como digno de nota 10. Se esse for o caso, a conversa deve ser diferente. Assim como quando combinava sua carga horária com o conteúdo difícil ou o grau de dificuldade de um determinado semestre no colégio, é fundamental se preparar para o sucesso através de conversas corajosas que contribuam para uma vida profissional sustentável.
Identificar os projetos A, B e C é uma maneira de fazer isso. Muitas vezes, nosso medo de errar leva ao medo de perder. Quando nos seguramos para evitar o medo de errar, podemos alterar a probabilidade de oportunidades futuras. Mais tarde, na retrospectiva, podemos imaginar que oportunidades poderiam ter sido nossas se tivéssemos abandonado o perfeccionismo e entrado de cabeça em ações que pudessem ter nos levados à nossa próxima função. Quando nos preparamos demais repetidamente, passamos na pele o medo de perder de outras maneiras pelas quais podemos estar desperdiçando nosso tempo.
As mulheres são estereotipicamente consideradas mais empáticas. Mesmo assim, quando lutamos pela perfeição, raramente somos empáticas com nós mesmas. Seja realista sobre o grau de rigidez que se aplica e seja mais compassiva com si mesma. Pare de exagerar na preparação e comece a pratica de se mostrar ao mundo de forma menos que perfeita. Dê um passo pequeno e corajoso de cada vez, seguido por outro maior. Escolha o progresso em vez da perfeição. Esteja preparada o suficiente para progredir. Quando reconhecer que está mais preparada do que pensava ao passar por aquela porta espelhada, perceberá que chegou lá. Aposto que logo você perceberá que sabia muito mais do que pensava. É uma jornada, e você não é mais uma viajante solitária. Por que esperar?