Carreira

Você é um procrastinador... ou um precrastinador?

Você passa o dia resolvendo tarefas, mas está sempre atrasado? Talvez você seja o que cientistas americanos chamam de "precrastinador"

Relógio: a má administração do tempo não é exclusiva dos famosos procrastinadores (Flickr/Creative Commons/JD)

Relógio: a má administração do tempo não é exclusiva dos famosos procrastinadores (Flickr/Creative Commons/JD)

Claudia Gasparini

Claudia Gasparini

Publicado em 13 de agosto de 2015 às 11h13.

São Paulo - O mercado de trabalho está repleto de procrastinadores confessos - profissionais que não escondem seu vício em adiar tarefas difíceis, intrincadas ou desinteressantes.

Quem pouco se declara (ou mesmo se enxerga) como um mau administrador do tempo é o precrastinador.

O termo, cunhado por pesquisadores norte-americanos, designa o indivíduo que realiza diversas pequenas tarefas enquanto evita suas entregas mais complexas.

Tem emails antigos para responder? Precisa organizar a bagunça da sua mesa?

Se você é um precrastinador, qualquer atividade vira “prioridade” diante daquele longo e difícil relatório encomendado pelo seu chefe

Como antecipa trabalhos (daí o "pré" de "precrastinador"), esse indivíduo não reconhece sua própria falta de produtividade.

Surpresas de um experimento
O perfil do precrastinador, bem menos conhecido do que o do procrastinador, foi descrito pela primeira vez pela equipe do pesquisador David Rosenbaum, da Universidade Estadual da Pensilvânia.

O tipo psicológico foi identificado com  um experimento científico, em que os participantes precisavam escolher entre dois pesados baldes d’água para carregar.

Um ficava próximo do ponto de partida, e o outro, próximo do ponto de chegada. Havia duas instruções: primeiro, eleger um balde; depois, levá-lo até o pesquisador.

Para a surpresa dos acadêmicos, a maioria escolhia o balde mais perto de si, ainda que precisasse se esforçar mais carregando seu peso até o fim da linha.

O estranho comportamento foi interpretado como uma forma de se aliviar rapidamente da “tarefa” mental de escolher um dos baldes - ainda que essa opção consumisse mais energia física.

A postura do precrastinador diante dos baldes de Rosenbaum pode ser transposta para o universo do trabalho. Seguindo uma estratégia de fuga, ele gasta energia excessiva com tarefas irrelevantes, apenas pelo prazer psicológico de eliminar pendências.

Precrastinar x procrastinar
“Gostamos do imediatismo, porque resolver algo rapidamente elimina o estresse”, explica o psicólogo Piers Steel, professor da Universidade de Calgary, no Canadá.

Steel diz que esse comportamento pode ter consequências danosas para o desempenho no trabalho. “Quanto mais deixamos essas tarefas menores preencherem nossas vidas, mais difícil é manter o foco nos objetivos mais importantes”, afirma o professor.

Mesmo assim, ele garante que o precrastinador ainda está numa situação menos grave do que seu “gêmeo”, o procrastinador.

Enquanto o primeiro deixa o trabalho para depois, o segundo cumpre tarefas - ainda que menores - imediatamente. “Os dois fogem do desconforto, mas pelo menos o precrastinador faz alguma coisa”, observa Steel.

"Produtivo", mas atrasado
Mesmo assim, valem alguns alertas para quem tem esse perfil, na opinião de Alessandro Saade, diretor da consultoria Academia da Estratégia.

“Quando você realiza mil ‘tarefinhas’, tem a falsa sensação de estar sendo produtivo”, explica ele. Enquanto o procrastinador se sente culpado por não estar trabalhando, o precrastinador se considera ágil, competente - um mestre das “check-lists”. 

O problema, segundo Saade, é que você pode passar horas trabalhando sem executar nada do que realmente era urgente ou necessário. “O lado perverso desse hábito é que você se esforça, se esforça e, no fim, perde prazos e compromissos”, explica.

Conselhos para um precrastinador
Para Saade, a tecnologia contribui fortemente para nossa tendência a precrastinar. “Somos seduzidos pela rapidez da internet e reproduzimos o ritmo dela: preferimos trabalhar naquilo que podemos resolver aqui e agora”, explica.

Nesse sentido, uma das táticas para driblar a tentação é dificultar seu próprio acesso aos estímulos tecnológicos. “Experimente desligar algumas notificações do celular e do email, por exemplo”, recomenda Saade.

Outro conselho importante é se esforçar para concluir ciclos de tarefas. “Abriu um email? Leia e responda agora. Tem um relatório para fechar hoje? Concentre-se nele até terminar”, aconselha o consultor.

Segundo Saade, o precrastinador precisa entender que eficiência não tem a ver com a quantidade, e sim com a pertinência, a pontualidade e a relevância de suas entregas. “Ninguém se torna super-herói só pelo número de tarefas que é capaz de riscar de sua agenda”, conclui. 

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