Confesso que sou aficionado por curiosidades. Durante recente visita a uma página na internet, vi duas bizarrices gramaticais nesta manchete:

"Piloto não freiou a aero-nave, aponta a caixa-preta"

De acordo com as regras ortográficas, a forma correta é "aeronave", sem o uso de hífen. Com o prefixo "aero", só se usa hífen se a primeira letra da palavra for idêntica à última de "aero", ou se a palavra iniciar-se por H: "aero-hidro", "aero-hidropata", "aero-hidroterápico".

O verbo "frear", assim como os verbos finalizados em -EAR, não recebe a letra "i" no pretérito perfeito. A forma correta é "freou". Vejamos todo o pretérito perfeito do indicativo: freei, freaste, freou, freamos, freastes, frearam.

Ademais, o uso de hífen ocorre pela formação de um novo vocábulo (quando duas palavras unem-se à atribuição de novo sentido), percebendo-se o mesmo fenômeno em termos como "segunda-feira", "cachorro-quente", "ano-novo (no sentido da virada de ano), "guarda-chuva" e tantos outros compostos.

Por fim, a manchete da citada página assim seria:

"Piloto não freou a aeronave, aponta a caixa-preta"

Aliás, vale comentar uma curiosidade. A caixa-preta dos aviões, que registra conversas entre pilotos e todos os dados de voo, não é preta. Fundamental na investigação de acidentes, as caixas-pretas são cilindros cor de laranja vibrante, de modo que, em caso de acidente, sejam encontradas com maior facilidade pelas equipes de resgate. O nome, contudo, vem da aviação militar que - de fato - utilizou por muito tempo esse dispositivo na cor preta, a fim de que, em caso de acidente, os inimigos não desvendassem os planos dos rivais.

Um grande abraço, até a próxima e siga-me pelas mídias sociais!

Diogo Arrais (@diogoarrais) é professor de língua portuguesa e autor gramatical pela Editora Saraiva.