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Só 25% das empresas atuam em casos de violência contra funcionárias

Levantamento, divulgado com exclusividade para VOCÊ S/A, mostra que o tema ainda não é pauta prioritária em grande parte das organizações

Violência contra a mulher: as empresas ainda precisam se debruçar sobre esse tema (Valeria Francese/EyeEm/Getty Images)

Violência contra a mulher: as empresas ainda precisam se debruçar sobre esse tema (Valeria Francese/EyeEm/Getty Images)

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Juliana Américo

Publicado em 7 de novembro de 2019 às 06h00.

Última atualização em 7 de novembro de 2019 às 17h51.

São Paulo - A cada 2 minutos uma mulher foi vítima de violência doméstica só no ano de 2018 - no total, foram 263.067 casos. Os números divulgados em setembro pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) mostram uma leve alta quando comparados com os do ano de 2017: houve um aumento de 0,8%, quando 252.895 mulheres sofreram algum tipo de agressão.

As vítimas estão em todos os lugares - inclusive, dentro das empresas. Ainda assim, o número de companhias engajadas com o combate a esse tipo de violência é muito baixo: apenas 25% das organizações monitoram e atuam sobre os casos. É o que releva a pesquisa “Violência e Assédio Contra a Mulher sob a perspectiva do mundo corporativo”, realizada no segundo semestre deste ano com 311 empresas pela Talenses, consultoria de recrutamento especializado, em parceria com o Instituto Maria da Penha (IMP) e com o Instituto Vasselo Goldoni com o apoio do ONU Mulheres -- e divulgada em primeira mão por VOCÊ S/A.

Mais da metade das empresas (55,31%) não monitoram e nem atuam sobre os casos de mulheres que sofrem com algum tipo de violência e 19,29% dos respondentes afirmaram não saber se há alguma ação nesse sentido por parte do empregador.

Apesar do pouco engajamento verificado pela pesquisa, Edna Goldini, fundadora do Instituto Vasselo Goldoni,  diz que a pauta tem se tornado cada vez mais relevante para a iniciativa privada porque o tema sensibiliza toda a sociedade. “A empresa tem uma atuação relevante, deve ter consciência de qual é o seu papel para acolher essas mulheres, como elas podem contribuir financeiramente e psicologicamente com as vítimas. A gente tem que entender que a responsabilidade não é só da família ou do governo. Deve existir [no trabalho] um espaço de fala e acolhida”.

Olhar para dentro de casa 

Enquanto as companhias têm uma postura mais atenta a casos de assédio moral e sexual, os de violência doméstica ainda não são devidamente explorados. Rodrigo Vianna, diretor da Talenses e membro da Aliança para Empoderamento da Mulher, analisa que os movimentos acontecem em ondas: primeiro fala-se de lideranças femininas, depois de assédio moral e sexual. E isso acontece porque a corporação olha para essas mulheres como suas funcionárias. “Quando você percebe que 60% das empresas afirmam ter políticas voltadas a questões de assédio moral e sexual, mas apenas 25% delas entram na questão da violência, se entende que elas estão preocupadas com o que acontece dentro do universo corporativo. Elas esquecem que atrás do funcionário tem um ser humano, que é vítima em casa. O primeiro passo do processo é ultrapassar as paredes da organização”, avalia.  

Quando questionadas sobre o motivo de não mapearem os casos de funcionários que sofrem algum tipo de violência, 33% das corporações afirmam que o tema não está na agenda prioritária da organização; 12% dizem sentir dificuldade para mensurar e controlar as ocorrências; e outros 12% alegam falta de apoio da liderança. 

A alta liderança é fundamental 

O olho atento dos gestores é, inclusive, um dos pontos mais relevantes para que se a cultura seja disseminada dentro da organização. É comum mencionar o papel do RH, mas Rodrigo destaca a relevância do CEO da empresa estar atento ao tema. “Muitas vezes a própria área do canal de denúncias está no RH e esse é um ponto cirúrgico. O ideal é estar ligado à presidência da companhia. Por mais que o RH seja importante, o CEO tem que ser rapidamente informado porque ele é o responsável maior”, afirma.

O perfil das empresas também acaba sendo parecido: companhias com capital aberto são as que mais possuem políticas e ações para apoiar funcionárias vítimas de violência doméstica (28%). Em organizações de capital fechado, o número é 18%. Levando em conta a nacionalidade das organizações, as empresas estrangeiras são as que mais possuem políticas e ações para apoiar funcionárias vítimas de violência doméstica (22%). Nas nacionais, o número é 17%. Rodrigo acredita que isso seja algo cultural. “O Brasil é um país majoritariamente machista. Muitas das corporações globais já têm políticas lá fora e estão acostumadas com esse tema”, avalia.

O que pode ser feito

A pesquisa ainda aponta alguns exemplos de ações voltadas ao combate ao assédio moral e sexual: as principais políticas são canal de denúncias (38%), campanhas de conscientização e sensibilização (32%), canal de ouvidoria para apoio à mulher (25%), apoio jurídico (17%) e subsídio psicológico externo (14%).

Todos os exemplos também podem ser utilizados com o foco no combate à violência doméstica. Alguns cases já são famosos, como o da varejista Magazine Luiza, que criou um canal de denúncias em 2017 após o feminicídio de Denise Neves dos Anjos, gerente de uma unidade em Campinas (SP).

Edna, do Instituto Vasselo Goldoni, pontua que é importante que as empresas comecem a discutir o tema, mesmo com algo singelo, como uma cartilha sobre o assunto. Isso ajuda a conscientizar todos os membros da organização - inclusive sobre os tipos de violência doméstica (que podem ser física,  sexual, psicológica ou patrimonial). “Muitas vezes a mulher não quer falar, se expor. Mas ela entende que tem um ambiente seguro para isso. Como líder de RH, você deve saber que o impacto da ação pode ser muito grande. Em uma empresa com mil ou duas mil vidas, quantas mulheres não têm a oportunidade de pedir ajuda?”.

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