Wal Flor, Fundadora e CEO da Flow.Ers (Fonte: LinkedIn | Reprodução)
Redatora
Publicado em 30 de setembro de 2025 às 11h52.
Última atualização em 30 de setembro de 2025 às 13h21.
Durante 15 anos, Wal construiu carreira no marketing de grandes empresas e agências. O sucesso, no entanto, trouxe inquietações: “Percebi que não fazia sentido viver apenas para estimular o consumo. O que eu estava deixando para o mundo?”, diz.
“Eu vinha de um desempenho acelerado no mundo corporativo, mas comecei a me questionar. Vim para este mundo só para fazer as pessoas consumirem mais e mais?”, recorda.
A maternidade acelerou essa virada e quando seu primeiro filho. “Eu faço parte da estatística de que quando nasce um filho, nasce também uma empreendedora.”
A certeza que tinha escolhido o caminho certo, apesar dos percalços da vida inicial de empreendedora veio quando seu filho, aos oito anos de idade, perguntou à Wal qual era o sentido da vida.
A executiva tentou traduzir para uma criança o que ela mesma ainda elaborava em silêncio: “A gente vem ao mundo porque tem uma missão. Igual o Batman.” O menino não se deu por satisfeito e perguntou então qual era a missão da mãe.
A resposta veio sem hesitar: “Proteger a natureza e cuidar das pessoas que mais precisam.”
Wal identifica esse episódio como um momento marcante. Poder responder ao filho que sua missão não era estimular o consumo e sim construir um mundo melhor, lhe encheu de orgulho e resiliência para não desistir.
Mais de 20 anos se passaram e Wal segue como uma das principais lideranças do setor, como fundadora e CEO Flow.Ers Hub, empresa oferece soluções de impacto para regenerar a vida de forma criativa e inovadora, conectando negócios, governo, startups, universidades e sociedade civil para desenvolver soluções em larga escala.
À frente do hub, Wal já conduziu mais de 200 projetos no Brasil e na América Latina, atuando em temas como biodiversidade, água, educação, saúde, geração de renda, mobilidade urbana, entre tantos outros.
A experiência acumulada em duas décadas lhe mostrou que, antes de propor inovação, muitas vezes é preciso formar o cliente.
A inquietação profissional sempre levou Wal a buscar conhecimento de forma mais estrutura. Em sua trajetória, dois cursos da Saint Paul foram fundamentais: o Advanced Boardroom Program for Women (ABP-W) e o Programa Avançado para CEOs, Conselheiros e Acionistas (SEER).
No ABP-W, encontrou a importância estratégica da presença feminina na liderança. “Entendi que, se eu quisesse acelerar a agenda socioambiental, precisava estar nesses espaços de decisão. Ficar apenas no nível executivo levaria mais tempo.”
No SEER, a descoberta foi outra. “O programa traz para o presente uma visão de futuro. Discutimos filosofia, neurociência, criatividade. Me aprofundei em Nietzsche e percebi que aquilo que muitas vezes é muito visionário, pode parecer incompreensível para pessoas mais apegadas ao passado”, trouxe Wal.
“Isso me faz entender que preciso melhorar a minha comunicação ao mesmo tempo que me dá mais segurança para ser quem eu sou”, ela complementa.
Além do conteúdo, Wal destaca a comunidade criada: “Nos ambientes acadêmicos, os vínculos são mais profundos. Não é só networking, mas especialmente confiança, estabelecida em bases como a lógica, a empatia e a autenticidade. Fiz amizades, negócios e parcerias que jamais teria encontrado fora da sala de aula.”
A questão de gênero atravessa sua trajetória. Wal lembra que foi demitida após voltar da licença-maternidade do seu primeiro filho, apesar de consequentes avaliações de alta performance.
“Na época, não havia tanta discussão sobre isso. Hoje seria escandaloso. Olhando para trás, percebo quantas situações foram marcadas pelo fato de eu ser mulher.”
Por isso, valoriza espaços de formação dedicados às lideranças femininas.
Olhando para frente, Wal vê dois eixos centrais, tecnologia e inclusão social. “Não dá para ignorar a inteligência artificial. Quem não aprender a usar no dia a dia vai perder o bonde. E, ao mesmo tempo, como podemos falar em IA se ainda temos apenas 60% das crianças alfabetizadas na idade certa?”
Ela acredita que o Brasil tem vantagens únicas, como uma matriz energética majoritariamente renovável, mas alerta para a urgência de construir “novas economias”: verde, de impacto, baseadas na natureza e que sejam realmente essenciais à vida.
“Temos condições de liderar, mas precisamos resolver o básico: educação, saúde, renda, biodiversidade e infraestrutura. Estes assuntos não são problemas só do governo, são de todos nós”, complementa a executiva.