(Arte Exame/Exame)
Janaína Ribeiro
Publicado em 26 de março de 2020 às 18h14.
Última atualização em 26 de março de 2020 às 18h30.
Há quem defenda a eliminação da crase da língua portuguesa, tamanha a dificuldade de saber quando ela ocorre. É bom lembrar, porém, que a utilidade desse sinal ortográfico vai além de marcar a ocorrência da contração da preposição “a” com o artigo definido “a” (em outras palavras, “a + a = à”).
A função dos sinais gráficos e ortográficos é esclarecer o discurso. Por isso, muitas expressões que na origem não eram craseadas agora são vistas acompanhadas desse sinalzinho. Afinal, de nada adianta respeitar a sintaxe na hora de escrever e não se preocupar com a semântica, ou seja, o sentido do texto.
Esse é o caso de “a/à distância”. Embora as opiniões se dividam quanto ao uso do acento grave, nos últimos tempos é a expressão com a crase que tem prevalecido. E isso principalmente por uma questão de clareza do enunciado. Exemplos: observar à distância; estudar à distância; fotografar à distância.
E nesse caso não se trata de ser menos ou mais tradicional em relação à gramática, como também argumentam por aí. Mas o bom senso é quem dita. Afinal, um texto cuja mensagem chega ao leitor de forma distorcida, com ambiguidade na interpretação, já perdeu seu valor. Ainda mais na esfera jornalística, cuja missão é divulgar informações.
Diversas outras expressões formadas com palavras femininas são usadas com crase para evitar duplo sentido. Exemplos: lavar à mão; cheirar à gasolina; matar à fome; trancar à chave; cortar à faca. E há aquelas cujo uso da crase já prevaleceu há muito tempo: à direita, à luz, à vista, à parte, à toa, à deriva etc.
Então, para resumir, está corretíssimo o emprego da crase na chamada de capa da revista EXAME: “Vida à distância”. É a evolução da língua, que tem pressa em ser compreendida.