USP: universidade paulista é a melhor pública do Brasil em 2017 segundo prêmio do Guia do Estudante / Cecília Bastos | Jornal da USP (USP/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 17 de outubro de 2017 às 12h01.
Última atualização em 17 de outubro de 2017 às 14h41.
Criado em 2006, o Prêmio Melhores Universidades, do Guia do Estudante, publicação da Editora Abril, seleciona as melhores instituições de ensino superior do país com base na avaliação de cursos superiores realizada anualmente pela marca. Em 2017, quase 17.000 cursos em todo o país foram analisados por mais de 11.000 acadêmicos que atuam nas universidades brasileiras. A principal categoria do prêmio, Universidade do Ano, é dividida entre instituições públicas e privadas. Entre as públicas, USP, Unesp e Unicamp ficaram nas primeiras colocações. Conheça a seguir as áreas nas quais as três universidades se destacam.
Ensino e pesquisa de qualidade, avanço internacional e presença constante em rankings estrangeiros
Criada em 25 de janeiro de 1934, a Universidade de São Paulo (USP) é a mais prestigiada instituição de ensino superior do Brasil. Conhecida principalmente pela excelência acadêmica, a USP oferece uma sólida formação aos seus quase 90.000 alunos, matriculados nos 214 cursos de graduação e 222 programas de pós-graduação, que contemplam todas as áreas do conhecimento. Os pesquisadores e professores da universidade são responsáveis por cerca de um quinto da produção científica do país. E 99% dos 6 mil docentes têm, pelo menos, doutorado.
A infraestrutura da USP também impressiona: são oito campi, espalhados entre a capital paulista, onde se encontra a sua sede, o interior do Estado, nas cidades de Bauru, Lorena, Piracicaba, Pirassununga, Ribeirão Preto e São Carlos, e o litoral, em Santos. Os estudantes contam com dezenas de bibliotecas, museus, livrarias, salas de informática e laboratórios com tecnologia de ponta para práticas científicas, além de restaurantes, alojamentos, centros esportivos e o maior hospital da América Latina, o Hospital das Clínicas, considerado centro de referência internacional em ensino e pesquisa em saúde. Os alunos também são beneficiados com auxílios e bolsas, além de cursos de extensão e atividades extracurriculares.
A importância da internacionalização
Sempre presente nos principais rankings internacionais, em 2017, a USP perdeu a sua liderança na América Latina para outra brasileira, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) no levantamento da organização britânica Times Higher Education, considerada uma das principais avaliações educacionais do mundo. Ela caiu uma posição, tornando-se a segunda melhor. Ainda assim, ela mantém seu prestígio e também faz bonito em outros rankings estrangeiros. Por exemplo, ela é a mais bem colocada universidade latino-americana no Academic Ranking of World Universities (ARWU), publicado em agosto de 2017 pela Shanghai Ranking Consultancy.
De acordo com o reitor Marco Antonio Zago, o fato de a USP estar sempre bem posicionada nesses levantamentos traz muitos benefícios. “É inegável que a boa reputação da USP em rankings internacionais tem um impacto muito positivo nas parcerias com outras universidades, facilitando o intercâmbio de pesquisadores e o desenvolvimento de projetos de pesquisa com financiamento conjunto”, afirma.
A universidade possui hoje 1.263 acordos internacionais com instituições de vários países, um aumento de 40% em relação a 2016. Segundo a Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional (Aucani), 1.625 estudantes de outros países realizaram parte de seus estudos na instituição, enquanto 2.586 graduandos da USP foram enviados ao exterior em 2016. O programa de bolsa de intercâmbio internacional facilita a mobilidade estudantil, permitindo que os alunos cursem parte da graduação em uma universidade estrangeira. Em geral, os custos do programa e da acomodação ficam a cargo da universidade e, dependendo do convênio, o aluno precisa arcar com as passagens aéreas, alimentação e transporte no local.
De olho no futuro
Segundo o reitor Zago, o maior desafio da atualidade, além de superar a crise financeira que a USP enfrenta há mais de quatro anos, é diminuir as desigualdades e universalizar o acesso ao ensino gratuito e de qualidade da instituição. A ampliação das vagas destinadas ao Sisu (Sistema de Seleção Unificado) do Ministério da Educação (MEC) – de 13,5% em 2016 para 24,6% em 2018 –, bem como a adoção de cotas sociais e raciais devem contribuir para isso.
Em 2107, pela primeira vez em 40 anos, a USP aderiu ao sistema de cotas para alunos da rede pública para ingresso na instituição, antes atrelado somente ao Sisu. Com um total de 37% das vagas de cada unidade de ensino reservadas para esses alunos, a universidade pretende chegar a 50% das vagas por curso e turno até 2021. Na reserva de vagas para estudantes de escolas públicas, também incidirá o percentual de 37% para estudantes autodeclarados pretos, pardos ou indígenas (PPI), índice equivalente à proporção desses grupos no Estado de São Paulo, segundo o IBGE.
O reitor classifica essa decisão como histórica. “É emblemático, porque representa uma universidade, que tem liderança e muita visibilidade no país, assumindo que a inclusão social é uma questão importante do ponto de vista de integração de nossa população”, afirma.
Para 2018, a USP também continuará investindo na modernização dos currículos dos cursos, atividade em prática desde 2014, quando suas unidades ganharam autonomia acadêmica e pedagógica para atualizar as grades curriculares, flexibilizando-as de acordo com as necessidades de cada disciplina. Além disso, novos cursos iniciarão suas primeiras turmas já em fevereiro de 2018: Medicina, em Bauru; e Biotecnologia, na USP Leste. Outra novidade é o bacharelado em Música com habilitação em clarone, único curso superior da América Latina especializado no ensino desse instrumento de sopro.
Ensino de qualidade e preocupação em garantir que o aluno consiga se manter na instituição
Uma das maiores universidades multicampi do país, a Universidade Estadual Paulista (Unesp) tem seus 34 campi espalhados por 24 cidades do estado de São Paulo, entre a capital, o interior e o litoral. Neles são ofertados 195 cursos de graduação e centenas de programas de pós-graduação, sendo 111 doutorados e 123 mestrados acadêmicos, além de 22 mestrados profissionais e 42 especializações lato sensu.
Os seus 57.000 alunos contam com um corpo docente formado em sua maioria por professores doutores com regime de dedicação exclusiva, além de uma enorme infraestrutura composta por mais de 1.900 laboratórios e 30 bibliotecas que, juntas, contêm um acervo de 1,3 milhão de livros. Além disso, eles têm à disposição museus, hortos, jardins botânicos, cinco fazendas experimentais, três hospitais veterinários e clínicas específicas para as aulas práticas dos cursos de Odontologia, Psicologia, Fonoaudiologia e Fisioterapia.
Merece destaque também o investimento em pesquisa: desde os primeiros anos da graduação os alunos são incentivados a participarem dos programas de iniciação científica. Além disso, a Unesp possui quase 60 empresas juniores formadas por graduandos que prestam diferentes serviços à comunidade, tornando-a uma instituição referência também em extensão. São realizados atendimentos psicopedagógicos a crianças com problemas de aprendizagem, orientação a micro e pequenos empresários, além de atendimentos médicos e odontológicos, dentre outros serviços.
Combate à evasão
“Sem dúvidas, uma de nossas maiores metas hoje é combater a evasão”, conta a pró-reitora de graduação Gladis Massini-Cagliari. Apesar de ter um índice abaixo da média nacional – em torno de 10%, enquanto a média é 18,4% nas públicas, segundo o Mapa do Ensino Superior no Brasil 2017 do Semesp – a Unesp busca desenvolver projetos no sentido de diminuir os índices de retenção em disciplinas, que acabam desestimulando os alunos a continuarem nos cursos.
Somado a isso, o Programa de Permanência Estudantil contempla os alunos de baixa renda com bolsas de apoio acadêmico, extensão, manutenção, moradia e iniciação científica, além de auxílios estágio e alimentação. “Não adianta darmos condições apenas para que esses alunos entrem na Unesp. Eles também precisam se manter nela durante todo o curso”, argumenta a pró-reitora. Desde 2017, a Universidade aumentou para 50% o percentual de vagas destinadas a alunos da rede pública.
“Poder cursar uma parte da graduação no exterior também é um grande estímulo para o aluno ficar conosco”, completa Gladis. Apesar de ter dimuído quase pela metade o número de acordos assinados com universidades estrangeiras, a Unesp ainda é uma das universidades públicas que mais investem nessa área, com 250 convênios para intercâmbio mantidos atualmente.
Personalização dos currículos e novos cursos
Seguindo uma tendência mundial, a universidade vem reformulando os currículos dos cursos gradualmente, tornando-os mais personalizados. “A intenção é que os alunos de graduação tenham uma formação mais ampla, interagindo com a pós-graduação”, explica Gladis. Com a mudança na estrutura curricular, os estudantes podem escolher algumas disciplinas que, antes, eram restritas somente aos programas de pós-graduação stricto sensu.
A universidade pretende ainda investir em novos cursos, mesmo com a crise econômica que afeta as instituições mantidas pelo governo paulista. Neste ano, foi ofertado pela primeira vez o curso de Engenharia Aeronáutica, em São João da Boa Vista. A ideia é que a cidade se transforme em um polo da indústria de aviação e referência no ensino dessa área.
Investimentos em pesquisa e inovação são o destaque da instituição
Líder em registros de patentes no país e responsável por 8% da produção científica nacional. Só esses dados já colocam a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) entre as melhores do país. Mas ela também é a universidade brasileira que detém a maior média individual de artigos periódicos publicados por seu corpo docente. Os 1.913 professores, dos quais 99% têm titulação de doutor, tiveram mais de 20 mil produções publicadas em 2016, quase 10 per capita.
Considerada uma instituição jovem, com 51 anos de existência, a Unicamp se destaca ainda por integrar o ensino com a pesquisa e a extensão. Os 20.000 alunos dos 89 cursos de graduação são incentivados, desde os primeiros anos, a participarem de projetos de pesquisa. A pós-graduação também é de grande importância, uma vez que seus 152 cursos estão entre os mais bem colocados do país, muitos com nível de excelência internacional.
Devido à sua relevância, a Unicamp conquistou um importante título em 2017. Pela primeira vez, ela ultrapassou a USP no ranking elaborado pela organização britânica Times Higher Education, tornando-se a melhor universidade da América Latina. Apesar de a USP liderar em pesquisa, a Unicamp acabou levando a melhor na quantidade de citações em trabalhos internacionais e em transferência de conhecimento para a indústria. Para se ter uma ideia, nos últimos 14 anos foram criadas 500 empresas a partir da Agência de Inovação da universidade. Somadas, essas empresas geram um lucro de 3 bilhões de reais por ano.
Uma escola só de extensão
Com quatro campi distribuídos entre as cidades de Campinas, Piraciba e Limeira, todas no interior de São Paulo, a Unicamp é marcada também por ser uma das universidades que mais investem no campo da extensão. Na Extecamp, Escola de Extensão da Unicamp, são ofertados mais de mil cursos, dentre eles atendimento a mulheres grávidas e casais na preparação de parto humanizado, identificação de microorganismos que deterioram os alimentos e até mesmo leitura e interpretação de contos de fadas e fábulas.
Faz parte também da Escola um banco de talentos online, que cadastra empresas, públicas ou privadas, interessadas nos profissionais qualificados pelos cursos de extensão. Os alunos, por sua vez, também preenchem um cadastro e têm seus dados cruzados com os dessas empresas, garantindo que cada um deles tenha aumentadas as chances de ingressarem no mercado de trabalho.
Questão social
A Unicamp é uma das universidades pioneiras na adoção de ações afirmativas. Desde 2004, com a criação do Paais (Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social), candidatos que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas ganham um bônus na nota do vestibular (com acréscimo de pontos para aqueles autodeclarados pretos, pardos e indígenas). O programa tem sido um sucesso e, desde 2016, mais da metade dos alunos ingressantes são provenientes da rede pública de ensino
No entanto, para o reitor Marcelo Knobel, isso ainda não é suficiente. “A diversidade é um princípio fundamental. Queremos mais estrangeiros, mais pretos e pardos, mais indígenas, mais pessoas com deficiência”, afirma. Segundo ele, a proposta, ainda em discussão, é adotar cotas para esses grupos, além da adesão ao Sisu para parte das vagas e também a criação de um vestibular exclusivamente indígena.
Para o futuro, ele pretende também realizar mais alterações. “Queremos mudar os currículos. Eu gostaria que os estudantes tivessem uma formação mais ampla, com menos horas em salas de aula e mais em projetos e trabalho em equipe. A ideia é pensar num modelo mais flexível, em que o aluno possa mudar com mais facilidade de um curso para outro. O ensino superior brasileiro é muito rígido. Essa é uma discussão que eu gostaria muito de abrir”, finaliza.