Bruno Martins, sócio e cofundador da Trilha Carreira Interativa: “Está cada vez mais comum o profissional decidir a sua jornada dentro da empresa, por isso o plano de carreira é algo que está muito em desuso no mercado” (RedVector/Getty Images)
Repórter
Publicado em 6 de junho de 2024 às 08h00.
Plano de carreira. ao que tudo indica, já virou passado para muitas empresas. O que é tendência hoje em uma companhia é ter profissionais que sejam protagonistas em suas carreiras, afirma Bruno Martins, sócio e cofundador da Trilha Carreira Interativa, empresa que presta serviço de mentoria para recolocação e desenvolvimento profissional de executivos e C-Levels.
“Está cada vez mais comum o profissional decidir a sua jornada dentro da empresa, por isso o plano de carreira é algo que está muito em desuso no mercado. É o profissional que tem que ter os seus anseios, ele que precisa entender o que você faz sentido para ele seja quanto ao cargo, empresa e até salário”.
Parece fácil ser o “dono da carreira”, mas sabemos que há diversos desafios para conquistar essa certa “autonomia”, além de exigir muito autoconhecimento também. No fundo, as escolhas que fazemos realmente nos levam a esse lugar de protagonismo, mas algumas decisões precisam ser validadas por chefes e pela própria empresa. É o caso do aumento de salário e a troca de cargos.
“Pedir aumento nunca será um momento agradável, mas além de coragem, o funcionário precisará ter jeito e argumentos para aproveitar essa conversa da melhor maneira possível”, diz Martins.
Antes de pedir um aumento, o profissional deve ter uma compreensão clara dos projetos realizados, do tempo de casa e dos resultados alcançados. “É preciso que o profissional tenha conhecimento e segurança para defender todos os resultados e metas que alcançou. Você realmente merece um salário melhor? Você está preparado para esse novo cargo? Sem argumentos e confiança fica difícil negociar um aumento, afinal, trata-se de uma recompensa”, diz o executivo da Trilha Carreira Interativa que realiza treinamentos para o desenvolvimento profissional.
Entenda o momento certo para abordar o gestor, considerando a agenda, o humor dele e o momento da companhia. “Faça o pedido em um ambiente descontraído e leve, evitando pressão. Também é importante avaliar em qual situação está a empresa, como resultados financeiros e o clima organizacional”, diz Martins.
No momento da conversa, leve informações sobre as conquistas e metas superadas, seja em um papel ou celular para não esquecer resultados e tarefas importantes. “Levar uma relação de resultados mostra comprometimento e responsabilidade do funcionário. Essa informação será o argumento, é o que mais vai pesar na decisão do chefe e da empresa em promover um profissional”.
Mantenha a conversa focada em questões profissionais, evitando mencionar problemas pessoais ou familiares, afirma Martins. “Não importa para empresa de onde você veio, onde você mora ou se precisa pagar uma dívida grande, ela avaliará os seus resultados, além do comportamento também.”
Apresentar metas de curto e médio prazo é importante para demonstrar continuidade, comprometimento e ambição. “A sua trajetória na empresa não acabou. É importante pensar como será a jornada e para isso é preciso criar metas de curto e médio prazo. Ou seja, pense em novos desafios e mostre o seu diferencial neste momento”, diz Martins que costuma treinar C-Levels.
Entenda as políticas de cargos e salários da empresa e pesquise em sites confiáveis a média que o mercado costuma pagar. “É importante ter coerência do valor e cargo que deseja ocupar. Pesquisar salários do mercado pode ajudar a fazer um pedido coerente e evitar superestimação. Vale reforçar que fazer comparações com colegas de trabalho é algo negativo, mostre o profissional que você é,” afirma o executivo.
Combinar um prazo para retorno mostra seriedade e compromisso. “Sempre tente deixar organizado um feedback junto com o teu gestor. Isso mostra também que você está tratando com seriedade o seu pedido. Por isso, vale perguntar, por exemplo, se é possível combinar um prazo para retorno para daqui um mês”.
Se a resposta para o aumento de salário e mudança de cargo for negativa, Martins sugere o profissional demonstrar interesse em saber quando o assunto pode ser revisitado.
“Primeiro, é importante ter a consciência que normalmente essa decisão não depende só do seu gestor, mas também foi uma decisão da organização. Se você entende que a empresa é bem conectada com os seus valores, que a cultura combina e você gosta do seu gestor, vale insistir no trabalho e perguntar quando vocês poderão tratar do assunto novamente”.
Avaliar outras possibilidades dentro da companhia que possam motivar e desenvolver o seu profissional, inclusive na parte financeira, também pode ser uma opção:
“Boa parte das desmotivações não vem só do financeiro e sim da gestão, e neste caso envolve o líder e a cultura da empresa, como ela está se posicionando lá fora, como seus colegas e que tipo de ambiente de trabalho ela oferece”, diz Martins. “A troca de área pode oferecer novos desafios que podem trazer novas motivações. Por isso que antes de sair, de pensar em novos empregos, se é uma empresa que vale a pena, sugiro primeiro gastar fichas nessa empresa.”