Christopher Podgorski, CEO da Scania América Latina: “Não queremos só vender na China, queremos aprender com eles” (Leandro Fonseca /Exame)
Repórter
Publicado em 26 de maio de 2025 às 09h06.
Última atualização em 26 de maio de 2025 às 11h51.
Com o objetivo de liderar a transição para um transporte mais sustentável, a Scania está apostando alto em mercados estratégicos. A montadora sueca acaba de concluir um ciclo de R$ 4 bilhões em investimentos no Brasil e já iniciou um novo plano de R$ 2 bilhões até 2028, parte do qual será destinado à produção local de veículos elétricos pesados.
“Estamos investindo fortemente, porque acreditamos no potencial do Brasil e no papel estratégico do país na transição para um transporte mais sustentável. Esses recursos nos permitirão avançar na produção local de veículos elétricos e consolidar a liderança da Scania em soluções de baixo impacto ambiental,” diz Christopher Podgorski, CEO da Scania América Latina, em entrevista ao podcast De Frente com CEO, da EXAME.
Paralelamente, a operação global investe mais 2 bilhões de euros na nova fábrica na China, com capacidade para produzir 50 mil caminhões por ano — quase o dobro da produção atual no Brasil. “Não queremos apenas vender na China, queremos aprender com eles”, afirma o presidente.
Segundo ele, estar presente no maior mercado automotivo do mundo é essencial para acompanhar as inovações tecnológicas e modelos de negócios emergentes. A estratégia global da companhia mira não apenas em participação de mercado, mas na liderança de uma transformação sustentável e uma atenção maior aos movimentos globais.
“A guerra comercial entre EUA e China ainda não está impactando muito o nosso negócio, mas não sabemos como é que isso vai terminar. As consequências não são só no produto final”, afirma. “Temos que ver o alcance e o impacto em toda a cadeia de suprimentos.”
Hoje, a Scania conta com 270 fornecedores no Brasil, cerca de mil na Europa e está desenvolvendo novos parceiros na China.
A fábrica de São Bernardo do Campo, primeira da Scania fora da Suécia, é hoje um hub multifuncional com nove unidades produtivas, mais de 6 mil funcionários e 400 engenheiros atuando em projetos de pesquisa e desenvolvimento.
Em 2023, Podgorski afirma que a unidade bateu recorde com 30 mil caminhões produzidos, atingindo sua capacidade máxima atual. É por isso que parte dos investimentos futuros será dedicada à expansão e modernização da planta para incorporar tecnologias limpas e atender à crescente demanda por veículos elétricos e movidos a biocombustíveis.
“Se não acreditássemos no Brasil, não estaríamos investindo mais”, afirma Podgorski, que reforça que o país foi o maior mercado da Scania dos últimos 20 anos.
Desde 2015, a Scania está comprometida com os objetivos do Acordo de Paris e metas validadas por instituições científicas (Science-Based Targets). No Brasil, os resultados já são concretos: redução de 50% nas emissões de carbono e 70% no consumo de água em dez anos.
Um dos projetos de destaque é o Climate Day, que paralisa a produção por duas horas para debater soluções sustentáveis com os próprios colaboradores. “A sustentabilidade não voa sem metas, nem sem engajamento dos funcionários”, diz o executivo.
Primeiro brasileiro a assumir a presidência da operação industrial da Scania na América Latina, Podgorski tem uma carreira de 27 anos na empresa. Com passagens por Suécia, México e Brasil, ele se define como um “blend multicultural com tempero brasileiro”.
Sua liderança é baseada em três pilares: conduzir transformações, delegar com empoderamento e oferecer feedbacks consistentes. “Liderar é como soltar pipa: você dá linha, mas também mantém o controle”, afirma.
Mesmo com a rotina intensa, ele mantém o equilíbrio emocional por meio do futebol amador, que pratica há mais de 50 anos. “O esporte ensina companheirismo e espírito de equipe. E ninguém faz nada sozinho.”
Com otimismo, Podgorski vê o Brasil como vitrine global de descarbonização, especialmente com o avanço de biocombustíveis como o biometano. Ele acredita que o país pode chegar à COP30, em 2025, como referência internacional em transporte sustentável.
“Temos a chance de mostrar que é possível ser sustentável e competitivo ao mesmo tempo. O futuro será eclético: elétrico, gás, biometano, dependendo da região. O importante é garantir custo-benefício e viabilidade.”
Ao relembrar sua transição da área comercial para a liderança industrial, Podgorski cita uma frase que mudou sua trajetória:
“O CEO global me disse: ‘preciso de alguém que traga a voz do cliente para dentro da fábrica’.”
Essa orientação se tornou um mantra. Aos 67 anos, ele quer deixar como legado uma cultura de sustentabilidade multiplicada por outras empresas. “Se cada um souber qual é sua contribuição, o futuro chega. E chega mais rápido.”