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Universitários não mostram interesse em carreira docente

Metade dos licenciandos em Física e Matemática não querem ou tem duvídas em ser professores de educação básica


	Sala de aula em uma universidade particular: escassez de professores, em especial na área de exatas, foi a motivação do estudo
 (Kiko Ferrite/Exame)

Sala de aula em uma universidade particular: escassez de professores, em especial na área de exatas, foi a motivação do estudo (Kiko Ferrite/Exame)

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Da Redação

Publicado em 1 de outubro de 2012 às 09h43.

São Paulo - Pesquisa realizada na Faculdade de Educação (FE) da USP mostra que metade dos alunos dos cursos superiores de licenciatura em Física e Matemática não se interessam ou tem dúvidas em se tornarem professores de educação básica. O estudo da pedagoga Luciana França Leme também ouviu alunos de Medicina, que manifestaram interesse pela profissão, mas que não a seguiram devido aos salários e as condições de trabalho. A pesquisadora recomenda que a licenciatura seja mais valorizada nas áreas de Física e Matemática, e que os alunos de Pedagogia tenham mais oportunidades de vivenciar a experiência de ensinar em sala de aula.

Ao todo foram aplicados 512 questionários para ingressantes nos cursos das licenciaturas em Física, Matemática e Pedagogia e do bacharelado em Medicina da USP. As questões verificaram se os estudantes tinham interesse em ser professores da educação básica, que abrange a educação infantil (de zero 5 anos de idade) e os ensinos fundamental (de 6 a 14 anos) e médio (de 15 a 18 anos).

“A maior motivação da pesquisa foi a escassez de professores no Brasil, em especial na área de ciências exatas, pois estudos indicam que poucos jovens querem seguir carreira docente”, diz Luciana.

A porcentagem de alunos que não pensavam em ser professores ou tinham dúvidas sobre essa opção foi de 52% na licenciatura em Física e 48% na Matemática. “Os estudantes apontaram que entraram nos cursos por interesse em Matemática e Física, pelo fato de a USP ser gratuita e dos recursos que oferece e que poderão ser úteis no mercado de trabalho, sendo que este último argumento poderia ser usado para justificar o ingresso em qualquer outro curso da Universidade”, afima a pegagoga.

Na Pedagogia, 30% descartaram seguir o magistério ou estão em dúvida. “O índice é menor porque muitos alunos ingressam nessa carreira pensando em ser professores, além de outras razões, como a possibilidade de trabalhar com crianças”.

A questão salarial apareceu como uma das principais razões pensadas para se optar ou não pela profissão. “Normalmente, quem queria entrar no magistério sabia exatamente o valor dos salários pagos aos professores, enquanto os que não tinham interesse estimaram valores fora da realidade, ou muito altos ou muito baixos”, diz a pesquisadora.


“A decisão também é influenciada por outros fatores intrinsecos à profissão, como a liberdade para trabalhar, pois boa parte dos alunos alegou que só seria professor se conseguisse ingressar numa escola reconhecida por ter bom trabalho educacional, onde pudesse ter relativa autonomia e ensinar com certa liberdade”.

Condições de trabalho

Entre os alunos de Medicina, a porcentagem daqueles que em algum momento da vida pensaram em ser professor chegou a 15%. “É um número alto, especialmente se for levado em conta que se trata de um grupo que normalmente apresenta maiores vantagens sociais, vindo de famílias de renda mais alta, e que por esses motivos pode escolher a profissão que quiser”, conta Luciana. “A maioria deles ainda assinalou que gostaria de dar aulas no ensino médio”.

A pesquisa apurou que os estudantes interessados no magistério não se tornaram professores de educação básica devido às condições de trabalho e os salários. “Entretanto, foi manifestado um grande respeito pela profissão de professor”, ressalta a pedagoga. “Eles apontaram com grande precisão o papel do professor como carro-chefe da sociedade e principal responsável pela aprendizagem social e cognitiva das crianças e adolescentes”.

Luciana recomenda que os professores sejam reconhecidos como profissionais da educação. “Isso não deve acontecer apenas em termos de imagem pública, pois o professor é o único profissional capacitado que pode atuar no aprendizado dos alunos da educação básica”, destaca. “O reconhecimento também deve vir em termos de carreira e de salário, viabilizando meios de ascensão social que não passem pelo abandono da atividade educacional.”

A pesquisadora observa que os cursos de Física e Matemática precisam conciliar mais a pesquisa científica com a formação de professores para a educação básica. “Muitos alunos entram pensando em fazer pós-graduação, seguir carreira acadêmica na universidade ou ir para outras profissões”, diz.

“Na área de Pedagogia, há um maior interesse pelo magistério, mas é necessário que esses alunos vivenciem de forma mais intensa a experiência das salas de aula, especialmente das escolas públicas”. A pesquisa faz parte de dissertação de Mestrado de Luciana, apresentada na FE e orientada pela professora Sandra Zakia Souza.

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