Campus da PUC, no Rio: ambiente mais internacional do que o da maioria das escolas públicas brasileiras (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 4 de abril de 2013 às 15h36.
São Paulo - Uma das críticas às universidades brasileiras feitas por especialistas em educação é seu baixo nível de docentes e estudantes estrangeiros. Se comparadas às melhores universidades do mundo, nosso percentual de professores e alunos internacionais é extremamente baixo .
Esse fato impede as instituições nacionais de figurar no topo dos principais rankings mundiais. Afinal, a diversidade no ambiente acadêmico é um fator altamente valorizado. Para mudar esse cenário, a palavra de ordem entre as principais escolas brasileiras é globalizar. Para isso, elas estão tentando atrair os estrangeiros — professores e alunos — para cá.
Se esse projeto prosperar, quem sai ganhando é você. A diversidade de etnias e de formação oxigena o ambiente universitário, ampliando a troca de conhecimentos e a geração de novas ideias.
Nos últimos anos, nossas escolas vêm melhorando em alguns parâmetros. Já somos líderes em pesquisas na área agrícola e ampliamos a nossa participação mundial em publicações científicas de 1,7% para 2,7% entre 2002 e 2008, o que nos colocou como o 13º país entre os que mais publicam trabalhos científicos.
Dinheiro também parece não faltar. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) deverá desembolsar 780 milhões de reais para o fomento da ciência e tecnologia, o dobro do montante previsto no orçamento do governo federal para este ano no estado paulista.
A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) é uma das que lideram esse movimento de internacionalização. Após publicar três anúncios em revistas científicas internacionais em 2009 e 2010, recebeu 220 currículos de cientistas estrangeiros interessados em vir para o Brasil.
Apenas 12 foram convidados a conhecer a universidade e quatro iniciam os trabalhos este ano como professores visitantes: um francês, um canadense, um cubano e um brasileiro que vivia nos Estados Unidos. A expectativa é ter ao menos 20 novos professores pesquisadores em 2011.
“A universidade é uma instituição sem fronteiras e, com mais pesquisadores e estudantes estrangeiros, nossos alunos passam a conviver com realidades de ensino diversas”, diz Ronaldo Aloise Pilli, pró-reitor de pesquisa da Unicamp. A partir deste ano a instituição vai aplicar provas também em inglês nos seus concursos públicos, para dar chance a estrangeiros.
A Universidade de São Paulo (USP) tem assumido um posicionamento mais ativo nos últimos anos para ampliar a presença internacional em seus campi, mas considera que a legislação brasileira não ajuda muito nessa tarefa.
“As universidades públicas não têm autonomia para contratar sem concurso público e há restrições legais para fazer concursos para estrangeiros”, diz Adnei Melges de Andrade, vice-reitor de relações internacionais da USP. A alternativa é ampliar os convênios internacionais de professor visitante.
Quanto à vinda de alunos de outros países, a universidade pretende triplicar em cinco anos o atual número de estudantes visitantes, que hoje é de 1.700 por ano.
As intenções por trás desse projeto são elevar a qualidade do ensino, aumentar a quantidade e a qualidade das pesquisas e ampliar a reputação dessas instituições na comunidade acadêmica internacional.
No geral, as universidades brasileiras estão muito aquém do mix de professores e estudantes internacionais presentes em universidades como Harvard, nos Estados Unidos, Cambridge e Oxford, na Grã-Bretanha, que possuem 30%, 33% e 36%, respectivamente, de professores estrangeiros, contratados por serem experts em sua área de conhecimento.
No Brasil, a participação dos gringos não chega a 10%, segundo levantamento exclusivo da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), feito a pedido da reportagem de Você S/A.
Aliado de peso
A Fapesp também publicou 12 anúncios entre 2009 e 2010 na revista científica internacional Nature para atrair pesquisadores interessados em projetos de pós-doutorado no estado de São Paulo. Mais de 200 PhDs estrangeiros se interessaram pela oferta e há escolas de outros estados interessadas no assunto.
A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) também está de braços abertos para os estrangeiros. Ela passou de 66 convênios internacionais bilaterais em 2002 para 268 em 2010. “Para nós, é mais importante ter um trânsito constante de pesquisadores visitantes que possam participar de pesquisas e lecionar por um tempo.
Dá mais dinamismo ao ambiente acadêmico”, diz Eduardo Viana Vargas, diretor de relações internacionais. O bom momento econômico do Brasil também ajuda. “A gente nota nos encontros internacionais que as universidades brasileiras viraram a bola da vez. E isso tem muito a ver com a situação que o país vive, de maneira inédita”, afirma.
No Rio de Janeiro, 4.000 empregos serão criados para brasileiros e estrangeiros nos próximos cinco anos nas áreas de matemática, computação, geologia, geofísica, química e engenharia quando o Parque Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) estiver pronto.
Serão 260 empresas das áreas de tecnologia, petróleo e gás em 350.000 metros quadrados. “Seremos uma referência global, com o maior centro de pesquisas do mundo”, diz Maurício Guedes, diretor do parque.