IA: alunos vão aprender muito além da programação (oatawa/Thinkstock)
Luísa Granato
Publicado em 19 de setembro de 2019 às 06h00.
Última atualização em 19 de setembro de 2019 às 14h16.
São Paulo - A primeira turma de graduação em Inteligência Artificial do Brasil vai começar suas aulas em 2020 na Universidade Federal de Goiás (UFG). A criação do curso foi aprovada por unanimidade pelo Conselho Universitário.
Segundo o Anderson Soares, o futuro professor de Inteligência Artificial na UFG e doutor em Engenharia Eletrônica e Computação, a falta de mão de obra na área é um problema global e o Brasil já está atrasado.
O professor fala que mais de 30 países já possuem iniciativas do governo para promover estratégias de uso e desenvolvimento de inteligência artificial (IA). E as mudanças na sociedade virão rapidamente: segundo pesquisa da IBM, mais de 7 milhões de brasileiros vão precisar de recapacitação nos próximos 3 anos.
“O profissional especializado em inteligência artificial tem formação em nível de doutorado, por que antes era uma pesquisa feita a longo prazo. Tivemos um avanço muito forte desde 2012, com novas e diferentes aplicações para a tecnologia, o que tornou necessária a formação para níveis mais generalistas”, explica o professor.
Mesmo já existindo cursos de pós-graduação ou online e de curta duração, ele defende que a área é complexa e o mercado precisará de grandes líderes na transformação causada pela tecnologia.
“O curso profissionalizante tem grande valor, mas a IA envolve muitas competências. Uma formação mais sólida será necessária, abordando computação e matemática junto com visão de negócios e soluções para o mercado. São muitas frentes para atacar em curto período de tempo”, fala ele.
O professor conta que manter o conteúdo do curso, que dura quatro anos, atualizado foi uma preocupação na elaboração do currículo acadêmico, uma vez que as linguagens de programação mudam e avançam constantemente.
A solução foi estruturar o curso em torno de questões mais amplas da área, pensando em soluções para o uso de dados. A parte técnica pode mudar, mas o ensino da lógica por trás das competências é perene.
Eles também tiveram grande preocupação com as demandas do mercado e as necessidades das empresas. No curso, os alunos vão aprender programação, mas sempre com um viés de empreendedorismo.
Assim, os alunos vão aprender sobre veículos autônomos, ciência de dados, assistentes pessoais, modelos preditivos e machine learning, entre outras vertentes do IA. O objetivo é que eles saiam da universidade não apenas desenvolvendo algoritmos e interfaces inteligentes, mas entendendo as diferentes aplicações da tecnologia nos negócios.
Como o papel da universidade também é gerar conhecimento científico, o professor conta que existem planos para criar um centro de excelência nacional em inteligência artificial, que será lançado ainda este ano.
A universidade deve ter um orçamento inicial de 23 milhões de reais para pesquisas na área. A expectativa é que o investimento alcance R$ 100 milhões em 7 anos.
“Esse centro poderá aumentar a competitividade do assunto no país, representando uma parceria da iniciativa privada e do poder público para desenvolver ciência de ponta e obrigar o curso a estar em sinergia com projetos demandados pelas duas frentes”, diz Soares.
Para ele, o novo curso acompanha um movimento global, com grandes universidades americanas, como o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e Universidade Carnegie Mellon, também abrindo graduação de bacharelado na área para 2020.
No Brasil, a forma de ingressar no curso pioneiro será através do SISU. Os candidatos podem se inscrever gratuitamente no sistema do Ministério da Educação usando sua nota do Enem. As inscrições para 2020 ainda não estão abertas.
O projeto pedagógico para o curso está na sua fase final de apreciação e mais informações devem ser divulgadas até novembro pelo site do Instituto de Informática da UFG: inf.ufg.br.