Partitura:" Cartola usou o recurso da figuratividade para eternizar seus sentimentos" (Ryan McVay/Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 2 de junho de 2015 às 14h03.
Angenor de Oliveira, compositor fluminense, mais conhecido como Cartola, é um dos raros seres que vivifica a metáfora; que dá vida à transposição do sentido próprio ao sentido figurado.
Já no título da canção "O Mundo é um Moinho", percebe-se a fundamentação da relação de semelhança subentendida entre o “mundo” e o “moinho”. O moinho de Cartola não tritura qualquer coisa; tritura sonhos de um alguém que se ilude na vida.
Com o vocativo “amor” – função sintática do chamamento devidamente separado por vírgula - ele implora:
“Ainda é cedo, amor / Mal começaste a conhecer a vida / Já anuncias a hora da partida / Sem saber mesmo o rumo que irás tomar”
Gravados com sincronizados violão, cavaquinho e flauta, os versos (aqui em meus singelos comentários também metafóricos) pedem com lágrimas; é um genuíno samba em tom de súplica.
Sentindo o mais fundo dos amores, toma Cartola o moinho como “amigo” visual. Graças à metáfora, versos dizem em tom implorativo:
“Ouça-me bem, amor / Preste atenção, o mundo é um moinho / Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos / Vai reduzir as ilusões a pó”
Quase aos últimos segundos musicais, o compositor professa para um alguém que está a se aventurar:
“Quando notares estás à beira do abismo / Abismo que cavastes com teus pés”
Por meio do gentil acento grave, denota o poeta a localidade feminina (à beira do abismo) para, mais uma vez, advertir. Não é um abismo qualquer, mas um abismo cavado por próprias decisões (representadas lá pelos pés).
Como ser humano que muito amou, Cartola usou o recurso da figuratividade para eternizar seus sentimentos e deixar-nos o Texto para a vida.
Eterno Cartola!
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