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Um coração tão delicado

Leia artigo de especialista sobre a saúde das executivas brasileiras

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Da Redação

Publicado em 12 de outubro de 2010 às 19h24.

A literatura é pródiga em referências à delicadeza e sensibilidade do coração feminino - mas, do ponto de vista médico, essa qualidade poética nunca foi tão real como agora. Um levantamento realizado pela Med-Rio Check-up sobre a evolução das condições de saúde de suas clientes desde 1990, quando a clínica foi criada, até 2006, mostrou que houve um expressivo aumento da incidência de problemas relacionados ou que podem provocar doenças do coração. Por exemplo, colesterol e triglicerídeos elevados subiram de 20% para 50% dos casos; a hipertensão arterial passou de 12% para 18%.

O estudo foi realizado a partir de uma base de dados de cinco mil mulheres entre 30 e 60 anos, executivas e profissionais liberais. O que se pode concluir dos números levantados é que a dupla e muitas vezes, tripla jornada (se forem incluídos cursos de especialização e pós-graduações) a que as mulheres vêm se submetendo nas últimas décadas está cobrando seu tributo. Ao assumir importantes responsabilidades, a executiva brasileira está desenvolvendo doenças antes mais peculiares ao universo masculino.

O levantamento feito mostra que o estresse e o estilo de vida inadequado cresceram entre as clientes da clínica de 40% para 60%, em 16 anos. Sob estresse crônico, o organismo humano passa a produzir altos níveis dos hormônios cortisol e adrenalina, que contribuem para a diminuição dos calibres dos vasos sanguíneos, alteram o metabolismo das gorduras do sangue e do açúcar, aumentam a coagulação e participam do desenvolvimento da hipertensão arterial.

A Sociedade Brasileira de Cardiologia fala em epidemia de infartos em jovens do sexo feminino. Hoje, é a primeira causa de mortalidade em mulheres. Há uma década, para cada dez infartos do miocárdio, nove ocorriam em homens e somente um em mulheres. Hoje, esta proporção aumentou de seis para um. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a mortalidade entre mulheres provocada por infarto e por acidente vascular cerebral é duas vezes mais elevada do que por todos os tipos de câncer somados.

Em tese, as mulheres estariam relativamente protegidas de doenças do coração, pelas ações dos hormônios sexuais femininos, até a menopausa. A prática médica revela o contrário: o estilo de vida e outras agressões do meio ambiente as tornam mais expostas às doenças cardiovasculares, minimizando a ação hormonal protetora. O levantamento mostrou que os índices de tabagismo, por exemplo, se mantêm altos (45%), apesar de estáveis.

Um dado surgido durante o estudo aponta para outro fator de estresse entre mulheres: a cobrança por uma aparência física jovem e bela. Os números mostram que esse mesmo grupo de executivas, apesar de ter apresentado piora nos indicadores mais importantes de saúde, melhoraram nos quesitos peso acima do ideal (de 60% para 45%), vida sedentária (de 70% para 50%) e alimentação desequilibrada (de 80% para 60%).

Isso faz pensar que não basta mudar alguns hábitos - o importante é modificar o estilo de vida, a forma de se relacionar com o trabalho, a família e o mundo. A medicina preventiva tem um importante papel a cumprir nesse esforço para preservar o coração feminino. O exame preventivo do câncer de colo de útero já é razoavelmente comum nesse estrato social, mas o coração vem sendo negligenciado, ainda com base nas velhas estatísticas sobre a incidência de doenças coronarianas em mulheres em idade de reprodução. O check-up completo deve fazer parte da rotina da mulher. E, acima de tudo, cabe o alerta: o principal inimigo do coração é o estresse.

*Diretor médico da Med-Rio Check-up

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