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Trocando figurinhas

Conheça o braço paulistano da TEC, organização que ajuda dirigentes de empresas a superar a solidão do poder

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h35.

Há quatro anos, o empresário Mario Ceratti Benedetti recebeu proposta de um fundo de investimentos interessado em adquirir o controle acionário do Frigorífico Ceratti. No início, Benedetti considerou vantajosa a oferta para se desfazer da empresa, fundada em 1932 e proprietária da marca de mortadela que leva o sobrenome da família. Mais tarde, no entanto, percebeu que o negócio não era tão bom quanto parecia. "Se não tivesse levado o assunto aos meus colegas, eu teria tomado uma decisão precipitada", afirma Benedetti, que divide com a irmã, Evelina, o comando da fábrica, no bairro do Ipiranga.

Os colegas que influíram no destino do Frigorífico Ceratti com suas sugestões e opiniões fazem parte da TEC (The Executive Committee), uma organização internacional nascida nos Estados Unidos que tem o objetivo de contribuir para o desenvolvimento profissional e pessoal de empresários e CEOs. Integrante de um dos grupos da TEC há cinco anos, Benedetti afirma aguardar as reuniões mensais para tomar algumas decisões importantes na administração do Frigorífico Ceratti. "Enquanto estiver na gestão da empresa, pretendo continuar na TEC", diz.

Fundada em 1957 na Califórnia, a TEC chegou a São Paulo há seis anos. Foi trazida por Antonio Carlos Cortese, ex-diretor do Citibank, e por Luiz Paulo Ferrão, ex-diretor da mineradora Degussa e da Ferro Enamel. Cortese conheceu a TEC há cerca de dez anos, quando vivia na Suíça. Durante sua carreira, o executivo sentiu muitas vezes na pele a responsabilidade de ter de tomar, sozinho, decisões importantes para o futuro da corporação. Como não convinha a um líder mostrar sua insegurança ou seus pontos fracos aos subordinados, a tendência era se isolar dos outros funcionários da companhia. Para Cortese, a saída foi participar de grupos da TEC na Europa. Hoje, além de representar a organização no Brasil, ele coordena um grupo de executivos em São Paulo.

Não é terapia

A proposta da TEC é fazer que os membros de um grupo compartilhem problemas e estratégias de negócios. Os grupos promovem reuniões mensais que duram de seis a oito horas. A cada mês, um dos integrantes é indicado como anfitrião e se encarrega de escolher o local do encontro, que pode ser na própria empresa. Em toda reunião ocorrem debates sobre temas como planejamento estratégico, planos de contingência, indicadores de negócios ou mesmo o impacto do ano eleitoral. Discutem-se também questões pessoais, como doença na família. "É uma troca de experiências, não uma consultoria ou terapia", diz Cortese.

Caso o grupo não tenha muito conhecimento sobre o assunto a ser discutido, cabe ao coordenador levar um especialista para participar da reunião. Mais de 100 conferencistas já abordaram temas que vão desde questões tributárias até assuntos médicos com os 70 membros que formam os sete grupos da TEC no país (cinco em São Paulo, um no Rio de Janeiro e outro em Belo Horizonte). Ainda neste ano, a TEC deve abrir novas turmas em Porto Alegre e no interior do estado de São Paulo.

Ao final de cada reunião, os membros fazem avaliação em grupo e individual sobre o encontro. Com essa análise em mãos mais o resultado da reunião que realiza uma vez por mês com cada participante, o coordenador tem condições de avaliar o aproveitamento dos membros. "O grupo se recicla. Quando a TEC deixa de ser útil para um dos integrantes, ele deve sair", diz Cortese.

FHC, não

Os integrantes são escolhidos a dedo -- o número de participantes não pode passar de 12 por grupo. Para fazer parte da TEC, o empresário ou o executivo precisa ser convidado pelos coordenadores. "Se o pretendente não se encaixa em nenhum dos nossos grupos ou se está interessado apenas no status, ele não entra", afirma Cortese. Segundo ele, o presidente Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, não teria hoje lugar na TEC -- só poderia participar de um grupo com outros chefes de Estado. Do contrário, haveria desequilíbrio entre os membros, o que não é interessante para ninguém. Para entrar na organização, é preciso passar por uma entrevista individual com o coordenador. Se admitido no grupo, o participante passa a pagar uma mensalidade de 2 062 reais.

Para evitar conflitos de interesse, uma das exigências é que não haja concorrentes, sócios ou clientes e fornecedores dentro do mesmo grupo. Eles devem atuar em diferentes setores, o que tem um benefício adicional: a diversidade de personalidades e opiniões. "A discussão em grupo me ajuda a enxergar um problema de uma ótica diferente", diz o engenheiro José Gerbovic, dono da empresa de telecomunicações SGM. Ao entrar na TEC, todos assinam um documento em que se comprometem a manter sigilo sobre o teor das discussões com os colegas.

Quem vive no mundo dos negócios sabe que, muitas vezes, sua rede de relacionamentos fica restrita à vida empresarial. "Na vida corporativa, é difícil conversar com colegas de trabalho sobre assuntos que não envolvam negócios", diz Gerbovic. Ele encontrou num grupo da TEC uma alternativa para enfrentar a solidão do poder. Preocupado em equilibrar a divisão do tempo que dedica ao trabalho, à família e a si mesmo, Gerbovic mudou completamente sua rotina depois que começou a participar da TEC, há cinco anos. "Aprendi a separar os escaninhos", diz, referindo-se às aulas de francês e de canto e às horas que passa com seu personal trainer. Seguindo uma recomendação médica para combater o estresse, ele ainda arruma tempo na agenda para correr quatro ou cinco vezes por semana -- já participou de duas edições da corrida de São Silvestre. "Hoje em dia, não abro mão dessas atividades", afirma Gerbovic.

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