Carreira

Tóquio aposta na escala de trabalho 4x3 para combater o envelhecimento da população

A partir de abril, os funcionários do governo metropolitano da capital do Japão terão a opção de tirar 3 dias de folga por semana

Yuriko Koike, governadora de Tóquio: "Continuaremos a revisar os estilos de trabalho de forma flexível para garantir que as mulheres não tenham que sacrificar suas carreiras devido a eventos da vida, como parto ou criação de filhos" (Tomohiro Ohsumi/Getty Images)

Yuriko Koike, governadora de Tóquio: "Continuaremos a revisar os estilos de trabalho de forma flexível para garantir que as mulheres não tenham que sacrificar suas carreiras devido a eventos da vida, como parto ou criação de filhos" (Tomohiro Ohsumi/Getty Images)

Publicado em 11 de dezembro de 2024 às 12h19.

Última atualização em 11 de dezembro de 2024 às 12h19.

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A partir de abril, os funcionários do governo metropolitano de Tóquio terão a opção de tirar 3 dias de folga por semana, em uma tentativa de combater as baixas taxas de fertilidade e o rápido envelhecimento da população.

"Continuaremos a revisar os estilos de trabalho de forma flexível para garantir que as mulheres não tenham que sacrificar suas carreiras devido a eventos da vida, como parto ou criação de filhos", afirma Yuriko Koike, governadora de Tóquio, em matéria do jornal japonês “Japan Times”.

Além disso, os pais com filhos da primeira à terceira série nas escolas primárias têm a opção de trocar uma parte de seu salário por jornadas de trabalho mais curtas. Essa medida visa aliviar a carga sobre as mães que trabalham.

“Essas políticas não são uma semana de trabalho de horas reduzidas, mas representam um progresso significativo e uma evolução no pensamento, considerando a cultura de trabalho pesado do Japão, que não é conhecida por sua compaixão”, afirma Renata Rivetti, fundadora da Reconnect, empresa que trouxe o piloto da semana de quatro dias para o Brasil.

As apostas do Japão para mulheres terem mais filhos

O Japão é um dos países com a população mais envelhecida do mundo. Segundo o jornal “Japan Times”. Em 2023, a taxa de fertilidade do país caiu para um recorde de 1,2, bem abaixo da taxa de reposição global de aproximadamente 2,1. Fatores como casamentos tardios, menos casamentos, altos custos de vida, disparidades salariais de gênero e cuidados infantis caros contribuem para esse declínio.

Atualmente, a idade média de um cidadão japonês é de 49,9 anos, enquanto nos Estados Unidos é de 38,9 anos, e as expectativas para o próximo ano não são de melhorias quanto à taxa de natalidade, uma vez que a taxa de natalidade no Japão atingiu um mínimo histórico no início deste ano, segundo Joaquim Santini, pesquisador internacional em gestão de pessoas e empresas, com base em dados do Ministério da Saúde de Trabalho e Bem-Estar do Japão.

“De janeiro a junho, foram registrados apenas 350.074 nascimentos no país, uma queda de 5,7% em relação ao mesmo período de 2023”, afirma.

O governo japonês, segundo o jornal local, tem investido bilhões em iniciativas para reverter essas tendências, como melhorar o acesso aos serviços de cuidados infantis e promover o congelamento de óvulos.

“Recentemente, o governo de Tóquio também lançou seu próprio aplicativo de namoro para ajudar pessoas solteiras a encontrarem um parceiro e se casarem. No entanto, apesar desses esforços, a taxa de natalidade continua caindo consistentemente nos últimos oito anos”, afirma Santini.

Trabalho em excesso: o impacto não é só mental, é financeiro também

Em todos os pilotos globais, Rivetti afirma que a semana de quatro dias abriu espaço para que as pessoas pudessem conciliar melhor vida pessoal e profissional. “Vimos aqui no Brasil as pessoas falando o quanto elas tiveram mais tempo para se dedicar para coisas que elas deixavam de fazer, como estar mais com a família e cuidar dos filhos”.

A adoção de uma semana de trabalho de quatro dias pode ajudar a abordar questões centrais relacionadas à intensa cultura de trabalho do Japão, que afeta especialmente as mulheres, afirma Santini.

“A diferença entre homens e mulheres em relação ao trabalho doméstico é uma das maiores entre os países da OCDE, com as mulheres no Japão se envolvendo em cinco vezes mais trabalho não remunerado, como cuidar de crianças e idosos, do que os homens, segundo o Fundo Monetário Internacional”.

Para Rivetti, que trouxe a escala de trabalho 4x3 para o Brasil, ter mais tempo livre, num momento do mundo em que estamos sobrecarregados e sem tempo para a família, pode ser muito importante – principalmente para a economia local, como é o caso do Japão que busca agora melhorar as taxas de natalidade.

“Vivemos uma ‘pseudo produtividade’ em que passamos grande parte dos nossos dias focados em trabalho. Tóquio já está vendo o resultado disso e por isso está adotando medidas para incentivar a família, a natalidade, porque o modelo de trabalho atual está impactando não só mentalmente os profissionais, mas também financeiramente uma sociedade”.

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