Alessandra Restaino: ela dirigiu a empresa por 7 anos (Le Postiche/Divulgação)
Luísa Granato
Publicado em 29 de julho de 2018 às 06h00.
Última atualização em 23 de outubro de 2018 às 16h33.
São Paulo - “Uma pirralha querendo inventar moda”, essa é a imagem que a sócio diretora da Le Postiche, Alessandra Restaino, de 47 anos, tinha quando começou a trabalhar na empresa do pai, Álvaro Restaino, com apenas 20 anos de idade.
Fundada em 1967 como uma fábrica de perucas, a Le Postiche entrou para o mercado de bolsas de couro mais tarde, em meados dos anos 70. Na época que Alessandra entrou como estagiária, em 1991, a marca já era consolidada no mercado de moda varejista em São Paulo.
“Não achava que iria trabalhar com meu pai”, conta ela. A executiva fazia faculdade de administração e já havia feitos alguns “bicos” com o pai, inclusive trabalhando como caixa de loja. Em seu último ano do curso, ela e a irmã, Fabiana Restaino, ficaram encarregadas de suas lojas próprias.
Jovem, recém-formada e atualizada sobre o mercado, ela ia a todas as lojas diariamente e começou a trazer novas métricas para entender o padrão de consumo e a performance de cada local, uma mensuração de vendas que nunca havia sido feita.
“Quando entrei, muitos dos que já trabalhavam há anos no negócio duvidaram de mim. Me viam como uma pirralha de 20 anos, querendo inventar moda. Não foi fácil no início, tive que conquistar minha própria confiança e fazer jus aquela oportunidade. Fui estudar mais e me especializar em varejo. E então assumi a área de marketing e produto”, conta.
Em sua carreira como executiva, ela passou pelas áreas de vendas, compras, marketing, logística e dirigiu a empresa como presidente por 7 anos.
O convite para ser CEO veio em 2010. Ao ser chamada para a sala do pai, Alessandra se surpreendeu. Ela não imaginava que ele, tão ativo e empreendedor, deixaria o cargo tão cedo. “Senti uma responsabilidade enorme de respeitar seu legado e garantir a longevidade da companhia”, fala ela.
Embora tenha sido uma surpresa, a executiva conta que se sentia preparada para o novo desafio. “No passado, acreditavam que a empresa familiar precisava de um filho homem. Quando fiquei mais velha, casei e tive filhos, questionavam se meu marido assumiria o negócio. Já vinha me preparando e formando minha autoconfiança ao longo dos anos. Eu tive que estudar mais, me preparar muito mais e as pessoas sempre olhavam muito para mim. Não foi fácil, mas fui conquistando meu espaço”, diz.
Hoje, ela atua como diretora de marketing e compras e sua irmã como diretora da área financeira e administrativa. As duas permanecem no conselho da empresa, enquanto contrataram um executivo CEO em 2017, Carlos Eduardo Padula.
A decisão faz parte do movimento de profissionalização e modernização da Le Postiche, que agora passa a investir mais no e-commerce. “Para o bem ou para o mal, sendo uma empresa de família, temos muitos vínculos emocionais. Ainda fazemos parte das decisões, mas o novo presidente traz visões isentas e estratégicas para o negócio”, explica.
Em entrevista exclusiva para EXAME, Alessandra Restaino conta sobre sua experiência e aprendizado após anos de liderança:
“Para mim, o sucesso está em três pilares: família, trabalho e eu. Eles têm que estar alinhados, preciso estar bem nas três esferas. Sou casada e tenho dois filhos, com 19 e 15 anos. Tenho uma relação boa com os três e jantamos juntos todas as noites. Posso chegar atrasada, mas não abro mão desse momento em que conversamos sobre nosso dia. No trabalho, sou muito bem realizada com o que faço, tenho vocação e me preparei para isso. No terceiro, tenho coisas que faço para mim, cuido do meu equilíbrio emocional, faço terapia e dança. Cuido da cabeça, da alma e do corpo para estar funcionando 100%”
“É difícil dar uma receita. Pela minha história, vivi o trabalho nas principais áreas da empresa e tive contato com o mercado, o consumidor, os lojistas. São áreas cruciais para a empresa de varejo: produtos, mercado, marketing e operações. Você assim entende de toda a extensão da marca. Hoje, também acredito que a experiência na área financeira seja importante. Não podemos mais tomar decisões pelo ‘feeling’, com a economia mais difícil, precisamos de suporte na tomada de decisões”.
“Onde posso tenho levado a bandeira da igualdade no mercado de trabalho, participo de fóruns e palestras sobre o papel da mulher como líder. Quero dar voz aos números que mostram as poucas mulheres em cargos de liderança. Chamar atenção para o problema é papel do líder hoje. Na Le Postiche, temos um quadro forte de mulheres, mais de 90% dos colaboradores. Na diretoria, temos metade das cadeiras ocupadas por elas. Procuramos empoderar as funcionárias, para que tomem suas decisões na carreira e assumam posições superiores”.
“Nos funcionários da Le Postiche, gosto e valorizo pessoas diretas, pró-ativas e comprometidas com o projeto da empresa”.
“Meu pai foi minha escola inicial. Eu tinha apenas 20 anos quando comecei, então foi com ele que aprendi tudo. Eu olhava como ele conduzia a gestão desde o relacionamento com fornecedores até a ousadia com a qual ele agia nos detalhes. Tudo me inspirou”