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Temer, o Palmeiras e a gripezinha: três lições com erros de português

Alguns erros de português podem se tornar exemplos memoráveis de como o uso da língua pode alterar uma mensagem. Professor dá lição com os exemplos

MICHEL TEMER: presidente se posicionou sobre indulto a Daniel Silveira (Adriano Machado/Reuters)

MICHEL TEMER: presidente se posicionou sobre indulto a Daniel Silveira (Adriano Machado/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 27 de outubro de 2020 às 18h20.

Última atualização em 27 de outubro de 2020 às 20h36.

Leia a frase abaixo:

"O Brasil voltou, 20 anos em 2."

Esse foi o lema produzido pela assessoria do ex-presidente Michel Temer em 2018: uma infeliz sentença, sob o ponto de vista linguístico.

Explico: sem as revisões semântica (sobre o sentido) e gramatical, uma sentença solta nem sempre revelará a intenção comunicativa. O verbo "voltar" pode referir-se a "ressurgir" ou "reaparecer", mas nessa específica situação expõe mais o sentido de "retroceder". Foi uma escolha lexical lamentável.

Na escrita, a vírgula daquela forma tem o mesmo papel de dois-pontos ou do próprio travessão. Na fala, na pronúncia, está ali o grande problema: "regressar 20 anos em 2" interrompe a intenção do governo, gerando a ambiguidade, a dupla compreensão (algo jamais bem-vindo neste momento de tanta turbulência no cenário brasileiro).

O Palmeiras

Nesse baú de sentenças inadequadas, houve o dedo da Adidas, ex-patrocinadora do Palmeiras: "O bom filho à casa torna."
Sim! Um deslize gramatical em plena camisa comemorativa, para o dia 19 de novembro de 2014. Foram muitos os protestos à época, por causa de um bendito acento grave.

Explico: o termo "casa" no sentido de "lar", "lugar onde se mora", é usado sem artigo, justamente o que impede a ocorrência de crase. Apesar disso, se o termo casa fosse acompanhado de um adjetivo (um termo especificador), haveria sim crase: "O bom filho à casa dos pais torna."

Maldito diminutivo

Neste ano, um diminutivo deu o que falar: "gripezinha". A palavra fez parte de um discurso presidencial lido, à época dos primeiros casos do atual coronavírus.

Mesmo que a intenção, com o uso do termo, fosse acalmar o ouvinte, o que se via, na prática, era uma doença devastadora, infelizmente.

Por essas e outras, para evitar ruídos e polêmicas desnecessárias, a revisão textual é o grande aliado de um escritor e um comunicador. Na dúvida, é melhor esperar ou (até mesmo) não publicar.

Um abraço e inscreva-se no meu canal!

Diogo Arrais
http://www.ARRAISCURSOS.com.br
YouTube: MesmaLíngua
Professor de língua portuguesa
Fundador do ArraisS Cursos

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