Carreira

Tamara Klink, que cruzou o Atlântico sozinha, mostra que liderar exige coragem: 'Nunca estou pronta'

Aos 28 anos, Tamara Klink compartilha as lições que aprendeu ao atravessar o oceano sozinha: a importância do erro, da confiança e da escuta para liderar — mesmo quando não se sente pronta

Tamara Klink: atravessou o Oceano Atlântico sozinha em uma jornada que revela lições de liderança e autoconhecimento (Arquivo Pessoal/Reprodução)

Tamara Klink: atravessou o Oceano Atlântico sozinha em uma jornada que revela lições de liderança e autoconhecimento (Arquivo Pessoal/Reprodução)

Guilherme Santiago
Guilherme Santiago

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Publicado em 10 de abril de 2025 às 09h05.

Em alto-mar, Tamara Klink descobriu muito mais do que rotas náuticas. Aos 28 anos, a navegadora — filha do também explorador Amyr Klink e da fotógrafa Marina Bandeira Klink — acumulou não apenas milhas náuticas, mas vivências que a prepararam para enfrentar os grandes desafios da vida (e do trabalho).

Sozinha em embarcações pequenas, enfrentando mares congelados e dias sem ver ninguém, ela entendeu na prática o valor do erro, da vulnerabilidade e da confiança. Para Tamara, a preparação não vem do acúmulo de títulos ou da certeza do acerto, mas da familiaridade com os próprios erros.

"Eu prefiro confiar minha vida a quem já errou muito do que a quem nunca errou e pode falhar quando for mais perigoso"Tamara Klink, velejadora e escritora brasileira, conhecida por suas travessias solo pelo Atlântico.

Em entrevista para a EXAME, durante o South Summit 2025, em Porto Alegre, Tamara compartilhou conselhos preciosos sobre a coragem de não estar pronta. A seguir, estão algumas das principais lições que Tamara trouxe.

Essas são as lições de Tamara Klink

1. A preparação vem do erro

Tamara não romantiza o erro, mas o respeita como ferramenta de aprendizado. “A preparação vem do erro”, reforça. Para ela, falhar é inevitável, mas repetir os mesmos erros é opcional. “A gente precisa errar sempre, mas erros novos”, brinca, com a sabedoria de quem já enfrentou o risco real da morte ao cair em águas geladas e teve que confiar na própria experiência para sobreviver.

Para a liderança, confiar apenas em quem parece perfeito pode ser perigoso. A maturidade, segundo ela, está justamente em reconhecer o que se aprendeu com os tropeços e como eles moldam a tomada de decisões.

2. Estar pronta não é um pré-requisito, mas um processo

“Eu nunca estou preparada para os projetos que quero realizar. É por isso que eu me preparo", conta. Para ela, líderes não precisam chegar prontos, perfeitos e irretocáveis às posições que ocupam. Em vez disso, ela prefere dividir grandes desafios em pequenas etapas, aprender com quem tem mais experiência e admitir as próprias limitações.

Esse pensamento é especialmente potente para mulheres, que, segundo ela, muitas vezes sentem que precisam provar o dobro para ocupar espaços de poder. Tamara mostra que não é necessário ter todas as respostas antes de começar — o essencial é estar disposta a aprender no caminho.

3. A força vem da solitude — e da escuta

Durante longos períodos isolada em alto-mar, Tamara aprendeu a valorizar o silêncio e a escuta interna. “A gente precisa, de tempos em tempos, fingir que morreu por uma semana, desaparecer. Não para fugir do mundo, mas para descobrir o que ainda vive dentro da gente”, disse. É nessa solitude que nascem as decisões mais honestas — inclusive as relacionadas à liderança.

Dar-se o direito de estar só, de lembrar e de sentir, é parte fundamental do amadurecimento. “A gente não precisa do outro para definir o que é prazer. Às vezes, é só sentir o sol no rosto ou andar até os barcos do outro lado da praia”, contou. Para liderar, é preciso primeiro saber o que nos satisfaz de verdade — e isso só se descobre quando há espaço para escutar a si mesma.

O livro Nós — O Atlântico em Solitário, de Tamara Klink (Companhia das Letras/Divulgação)

4. Confiar é parte da liderança

Em momentos extremos — como enfrentar tempestades ou dormir por poucos minutos em águas perigosas — Tamara diz que a confiança nas decisões tomadas anteriormente é o que a mantém viva. “Quando eu durmo, confio nas escolhas que fiz antes, nas pessoas que me ajudaram, nos conselhos que recebi", explica. Essa confiança prévia, construída com base em preparação e apoio, é o que permite que ela descanse, mesmo em contextos de risco.

No ambiente corporativo, liderar também é confiar nas equipes, nos processos e em si mesmo. E, sobretudo, aceitar que o controle total é uma ilusão.

5. A liderança nasce do coletivo

Apesar de ser conhecida por enfrentar o oceano sozinha, Tamara rejeita a ideia de autossuficiência. “Eu sempre busco estar cercada de pessoas que viveram mais do que eu, que erraram mais do que eu. Isso me ajuda a estar menos imatura para os desafios.” Liderar, para ela, é saber que ninguém faz nada sozinho — e que isso exige escutar, aprender, dividir e seguir.

Sobre o evento

Tamara Klink participou do painel Women’s Boat by Lojas Renner S.A. durante o South Summit Brazil 2025, em Porto Alegre. A iniciativa, voltada para lideranças femininas, promoveu conversas sobre protagonismo, coragem e transformação com acesso restrito às categorias Business e Executive.

A conversa foi mediada por Renata Altenfelder, diretora de Marketing e Comunicação da Lojas Renner S.A, que destacou a importância de abrir espaço para mulheres que inspiram pelo exemplo. "Um espaço como esse é extremamente importante", diz ela. "Ter uma loja falando sobre o papel da mulher é essencial para evoluirmos como sociedade."

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