Carreira

Sucesso que vem dos bastidores

Com uma liderança baseada em cobrança e planejamento intenso, a administradora Patricia Kamitsuji levou a Fox à liderança da indústria de cinema no Brasil

Patricia Kamitsuji, da Fox: por trás de uma indústria badalada, uma rotina de trabalho que exige disciplina (Raul Junior / VOCÊ S/A)

Patricia Kamitsuji, da Fox: por trás de uma indústria badalada, uma rotina de trabalho que exige disciplina (Raul Junior / VOCÊ S/A)

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Da Redação

Publicado em 4 de abril de 2013 às 17h36.

São Paulo - Em 2008, Patricia Kamitsuji, presidente da distribuidora de filmes Fox no Brasil, participava de uma reunião da empresa em Santa Mônica, na Califórnia, quando recebeu um envelope misterioso com instruções para se apresentar no saguão de seu hotel às 7 da noite.

Sem imaginar do que se tratava, apareceu no local na hora marcada, onde outras poucas pessoas seguravam o mesmo convite. Um homem apareceu e, sem informar o destino, convidou o grupo para entrar numa van. Minutos depois, Patricia chegava à produtora do cineasta James Cameron, diretor de Avatar e Titanic.

Lá, tornou-se uma das 20 primeiras pessoas no mundo a assistir ao blockbuster dos ETs azuis. “O Cameron nos recebeu pessoalmente”, lembra a administradora de empresas Patricia, 39 anos, desde 2006 à frente da unidade brasileira da Fox. 

O episódio acima mostra o lado charmoso da indústria do cinema. De fato, um executivo desse ramo tem a possibilidade de conhecer atores e diretores de renome e de frequentar festas bacanas. “Mas, no dia a dia, as responsabilidades de uma presidente são as mesmas em qualquer multinacional”, diz ela.

“Você tem prazos, resultados para apresentar ao chefe estrangeiro e uma equipe para liderar.” Essa atividade de executiva, Patricia vem cumprindo muito bem, diga-se. Em sua gestão, a Fox cresceu e tornou-se líder em participação no mercado de distribuidoras de filmes em 2010, sendo dona de 8% do faturamento total da indústria.

A operação brasileira equivale a 30% da bilheteria, em dólar, que a Fox arrecada nos Estados Unidos — detalhe: só existem 2.200 salas de cinema no Brasil, ante 40.000 nos Estados Unidos. Com Patricia, a Fox distribuiu filmes como Avatar (2009), Ensaio sobre a Cegueira (2008), do cineasta Fernando Meirelles, e os atuais Cisne Negro e Amor e Outras Drogas, ainda nos cinemas. 


Também coproduziu Nosso Lar (2010), baseado em livro homônimo de Chico Xavier, e o sucesso Se Eu Fosse Você (2006) e sua sequência, Se Eu Fosse Você 2 (2009), que, juntos, levaram quase 10 milhões de brasileiros ao cinema. “Patricia tem ótimos resultados de vendas, assim como expertise em finanças, administração e marketing”, diz Eduardo Echeverria, vice-presidente executivo da 20th Century Fox na América Latina e chefe de Patricia. 

Um dos principais méritos de Patricia, segundo Eduardo, foi ter montado uma equipe muito competente, que faz um trabalho rigoroso de planejamento e pesquisa. Toda a definição da estratégia de lançamento de um filme é calculada.

Meses antes da estreia de uma produção americana, mesmo sem saber o assunto do filme, o time de 32 pessoas que trabalham diretamente com Patricia começa a reunir informações sobre o diretor, o roteirista, os atores; começa a avaliar quanto eles costumam render em bilheteria, qual é o público que frequenta esses filmes e se o gênero agrada ao público brasileiro.

Esses dados vão sendo cruzados com outros que aos poucos vão chegando de Los Angeles, sede da Fox, como data de estreia e movimentação dos concorrentes. 

Para que esse trabalho de planejamento dê certo, entra em cena outro traço da gestão de Patricia, que é a preocupação com resultados. “Cobro muito de mim mesma e, consequentemente, dos funcionários. Temos uma equipe muito pequena que precisa dar conta do recado”, admite Patricia.

Em contrapartida, procura respeitar as individualidades. Como acredita ser impossível que uma pessoa se esqueça dos problemas pessoais durante o expediente, ela pede que os funcionários digam quando estão com problemas. “É preferível que a pessoa avise para que eu possa deslocar alguém para ajudá-la. Assim, a produtividade não diminui”, diz ela.

Parte do estilo de líder exigente vem de berço. Na família de origem japonesa, 7 era nota ruim. Parte do estilo, porém, foi cuidadosamente construída na hora de assumir o cargo de presidente. Segundo ela, a medida foi necessária.

“Eu ia substituir um profissional que era muito carismático e divertido sem ter esses atributos e sabia que meu estilo de liderança precisava ser claro”, explica Patricia, que entrou na Fox em 2003, como diretora comercial. 

Imersão pessoal

O perfil meticuloso se acentua quando se trata de um filme nacional, nos quais a Fox atua como coprodutora. Nessas ocasiões, Patricia faz um mergulho em cada produção. No caso de Nosso Lar, do diretor Wagner de Assis, que estreou no país em setembro do ano passado, a executiva chegou a ir a um centro espírita para entender a temática do filme. 


Também levou um teólogo para o escritório para explicar o espiritualismo aos funcionários. “Fiz uma imersão de corpo e alma”, conta Patricia. O envolvimento foi tão grande que, depois da experiência, ela, batizada católica, adotou o budismo, religião dos avós. 

Antes de ingressar na Fox, Patricia teve duas experiências importantes de carreira — uma boa e outra ruim. A primeira e positiva foi na rede Cinemark, onde entrou ainda jovem, no momento em que a multinacional de salas de cinema ainda se instalava no Brasil. Ali, teve seu grande aprendizado de carreira e cresceu até se tornar executiva.

Ela se recorda dos primeiros passos dentro da empresa, quando passou quatro meses fazendo um intensivão em Dallas, sede da Cinemark. “Limpei sala de cinema, vendi ingresso e fiz muita pipoca”, diz.  “Aprendi ali que você tem que conhecer todos os detalhes de uma operação para conseguir bons resultados.”

Já conhecida no mercado, foi convidada para presidir uma concorrente da Cinemark, a Hoyt General Cinema. Foi uma experiência malsucedida. Patricia aceitou o cargo sem ter sido informada de que teria de morar em Buenos Aires, de onde a operação brasileira seria comandada. Mudou-se para a Argentina mesmo assim.

Lá, teve dificuldade para se adaptar à cultura local. Quando a coisa parecia ter se acertado, a Hoyt decidiu sair do Brasil e concentrar-se no mercado argentino. Patricia voltou para o Brasil e pouco tempo depois foi contratada pela Fox. 

A rotina de trabalho de Patricia é puxada. Embora tenha a aura das celebridades, o negócio do cinema é nervoso. Domingo é sempre dia de trabalho, momento de Patricia reportar à matriz os resultados da bilheteria do fim de semana.

Às vezes, precisa enviar uma prévia aos sábados. No fundo, Patricia parece gostar. Para ter uma ideia, sete semanas após o nascimento de seu caçula, Rafael, de 1 ano e 9 meses, Patricia já estava de volta ao trabalho. Também decidiu se mudar para perto do escritório da Fox, em São Paulo, para ficar mais próxima dos filhos, almoçar com eles e suprir a culpa das longas ausências. Planos para 2011? “Superar os resultados dos anos anteriores.”

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