(sorbetto/Getty Images)
Sofia Esteves
Publicado em 8 de dezembro de 2020 às 12h00.
Você já reparou como uma criança pequena fica agitada e nervosa quando não tem imediatamente algo que deseja? Agora, reflita comigo: como você se sente quando a internet está lenta, ou o serviço de delivery que você pediu demora mais do que o esperado? E, quando aquela mensagem de whatsapp foi visualizada, mas ainda não foi respondida?
Pois é, a tecnologia nos trouxe avanços imensuráveis, no entanto, também nos fez regredir à mentalidade de uma criança que ainda não desenvolveu inteligência emocional o suficiente para saber esperar. O fato é que o mundo está acelerado e nós também.
“Preciso disso para ontem!” – quem já não ouviu essa frase inúmeras vezes ao longo da carreira? Tudo é urgente, tudo é para agora. Transformamos nossas vidas em um grande pacote de macarrão instantâneo. Afinal, quem não for rápido o suficiente, perde espaço em um mercado veloz e altamente competitivo. Estamos vivendo na cultura do imediatismo – e sofrendo as consequências disso.
Agora, una toda essa construção de personalidade imediatista ao surgimento da pandemia. Com o isolamento fomos obrigados a parar muitas coisas qual estávamos acostumados. As viagens, os passeios, os encontros e, principalmente, a falsa ideia de que tínhamos controle sobre o futuro. Sem respostas definitivas sobre o fim da pandemia, muitos estão angustiados e impacientes.
O resultado? 55% da população brasileira sofre com sintomas de depressão, ou ansiedade, de acordo com pesquisas da Fiocruz em parceria da Universidade de Valência (Espanha) e da UFRS.
Afinal, como exigir produtividade, criatividade e inovação se os profissionais estão gastando tanta energia com suas próprias batalhas emocionais internas? A solução começa com a mudança dessa própria pergunta, já que a exigência excessiva é quem nos colocou nesse cenário. Ou seja, como as empresas e os profissionais podem lidar melhor com essa situação?
Há muitos tabus em torno das doenças mentais. Quem atravessa essa situação, normalmente escuta frases de “incentivo” nocivas, como: isso é falta de força de vontade! Você é preguiçoso! Isso aí é frescura, você consegue, levanta e faz!
As psicopatologias mentais confundem a mente, desorganizam as ações, geram atrasos, letargia, esquecimentos, tristeza, angústia e impactam o corpo, através de sintomas, como: falta de ar, agitação, aceleração, mal estar, sono excessivo, enjoos, enxaquecas e etc. É uma batalha silenciosa que precisamos aprender a compreender e, principalmente, a respeitar!
Lidar com um colaborador que passa por essa situação de forma equivocada, provoca mais culpa e insegurança, gerando um lopping de autosabotagem inconsciente. Sendo assim, empresas, gestores, pessoas e todos nós temos o dever de desvendar os mistérios dessa pandemia silenciosa e colaborar para real mudança de cenário.
O alerta já havia sido emitido pela ONU em 2018. A organização anunciou que as doenças mentais seriam, em 2020, o principal motivo de afastamento do trabalho. Com a chegada da pandemia, esse cenário foi agravado. No dia 18 de agosto, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), órgão vinculado à Organização Mundial de Saúde (OMS), voltou a alertar a gravidade da situação.
Segundo dados levantados pela instituição, aflições mentais como ansiedade e depressão atingiram um pico nunca visto antes nas Américas. O novo cenário requer que as empresas aprendam, agora, mais do que nunca, a cuidar do seu capital humano, das suas pessoas. As organizações não devem se perguntar o quanto custa investir no bem-estar de quem trabalha, mas, sim, o quanto vai custar deixar de investir.
A lógica da rigidez meritocrática não será efetiva com essa (grande) parcela da população. Sendo assim, a nossa forma de gerir e de nos relacionarmos profissionalmente precisa ser revista. A humanização está sendo convidada a deixar de ser um discurso bonito e ser posta em prática. Precisamos, de uma vez por todas, aprender a cuidar bem de nós mesmos e dos outros. É urgente, é necessário e é possível – através do conhecimento!
Sim, o conhecimento sobre o tema é quem nos levará a outro nível de compressão sobre quais são as melhores práticas para lidar com essa situação. A boa notícia é que a Exame, junto ao Grupo Cia de Talentos, o Hospital Israelita Albert Einstein e a GETHEAD, se uniram para realizar o Summit de Saúde Mental nas Organizações.
Serão 3 dias de painéis com importantes lideranças do mercado nacional e internacional para tratar da urgência do tema, do papel das lideranças neste cenário e de como conduzir a pauta! Clique aqui para conferir a programação completa e realizar sua inscrição.
Esse não é apenas um convite, mas também um pedido meu. Precisamos conscientizar o maior número de pessoas sobre essa questão. Conto com a sua presença e colaboração na divulgação! Até lá!