Liderança (Prostock-Studio/Getty Images)
Sofia Esteves
Publicado em 28 de dezembro de 2020 às 17h19.
Última atualização em 28 de dezembro de 2020 às 17h46.
Por muitos anos, trabalhar era uma questão de sobrevivência, até o surgimento da era industrial. A revolução, então, permitiu avanços históricos na produtividade e, consequentemente, na nossa capacidade de consumo.
Logo, passamos a deixar de nos preocupar apenas com a comida na mesa para desejar bens e experiências de lazer. De avanço a avanço, chegamos aqui. Em um tempo onde a felicidade começa a deixar de ser material, para se tornar uma prioridade intangível, mas amplamente desejada — bem-estar, saúde física, emocional e a vontade de viver, além de apenas existir.
Uma era em que sobreviver está muito mais ligado a encontrar um propósito de vida, um motivo para a nossa existência individual e coletiva, do que em conquistar um imóvel, ou trocar o carro pelo modelo mais recente. Essa necessidade existencial cresceu juntos às novas gerações, impulsionando a urgência por mudanças nos modelos organizacionais das empresas.
Dessa forma, a humanização vem se tornando cada vez mais importante no mundo do trabalho. Afinal, presenciamos um avanço tecnológico nunca visto. Com tudo se tornando cada vez mais rápido, fomos aprendendo a valorizar a velocidade, tornando os meios de produção e, seus agentes, uma vida de urgências e falta de tempo.
No entanto, por outro lado, fomos afastados de saberes primordiais, como o respeito aos ciclos naturais. O plantio, a rega, o desabrochar, a maturação, a espera e então, a colheita. Plantamos hoje e buscamos, aflitos, resultados na mesma semana, quando não, no mesmo dia.
Nos cobramos, somos cobrados e temos pouco tempo para nos inspirar. Em nossa pluralidade de personalidades, ainda assim, insistimos em nos encaixar num mesmo ritmo produtivo global e incessante. A competitividade tomou o espaço da colaboração e a ânsia em suprir a necessidade de validação externa, nos colocou em busca de uma produtividade que nos adoeceu.
Burnout, depressão, ansiedade, vícios, compulsões, ciclos infinitos de autossabotagem e uma eterna sensação de falta assolou a humanidade nos últimos anos e, especialmente agora, durante a pandemia.
Por mais que a gente se distraia com as redes sociais, ou por trás da sobrecarga de trabalho, há em todos nós muitas emoções para lidar. Seja resiliente, adquira inteligência emocional e seja o protagonista de sua própria história! Essas são as ordens para o profissional do futuro e concordo com elas, já que sem autoresponsabilidade não conseguimos conquistar nada! Mas, falta algo.
Falta mais laços e menos nós — indivíduos. Para que as empresas encontrem a produtividade que almejam, a humanização precisa ir além — e isso requer tempo!
Como oferecer uma gestão humanizada, se os gestores não têm tempo, ou paciência para escutar e compreender as necessidades mais íntimas de seus talentos? Como oferecer espaços necessários de pausa aos processos criativos dos colaboradores, sem ferir às necessidades produtivas da empresa? Como criar um sistema de trabalho que respeite integralmente a humanidade em todos nós, sem fazer a roda parar de girar?
Sinto que esse é o desafio de 2021 e que não podemos ignorar essa tendência. O buraco existencial não é frescura dos jovens talentos, ou falta de profissionalismo dos “desajustados”.
O desajuste não pode mais ser relacionado a quem deseja viver uma vida mais equilibrada e significativa. São as empresas que precisam se desconstruir para abraçar as novas necessidades. O tempo cobra, a saúde cobra e agora, toda uma nova geração de talentos.
Para 2021, precisamos de lideranças com talento e disposição — e tempo! — para compreender que as caixas ficaram apertadas demais e a inovação e o brilho nos olhos só são possíveis, onde há permissão para a expansão acontecer.
Boa reflexão e boa jornada!