Alexandro Leônidas da Silva, técnico em eletromecânica: "Hoje, o técnico atua em sua área de especialidade e tem muito mais responsabilidade do que antigamente" (Geyson Magno/VOCÊ S/A)
Da Redação
Publicado em 26 de abril de 2013 às 15h00.
São Paulo - Em raras ocasiões o mercado de trabalho para técnicos de nível médio e profissionalizante se viu tão aquecido como agora. E, mesmo assim, estudiosos do mercado de trabalho e consultores de empresas de recrutamento afirmam que as escolas não formam profissionais em número suficiente para atender à demanda das companhias.
“A verdade é que o ensino médio profissionalizante ficou sem receber investimento por um longo tempo. Com o crescimento econômico, a falta de gente para a área ficou evidente. No Nordeste, essa situação é ainda mais difícil”, diz a diretora da empresa de recrutamento Fator Humano, Ana Thereza Almeida da Silva.
Estabelecida em Recife, Ana Thereza sabe bem dessas dificuldades. Procurada em julho por uma organização da área de energia para recrutar cinco técnicos para começar imediatamente, somente em novembro conseguiu fechar as vagas. “Depois de analisarmos mais de 400 currículos, tivemos que buscar esses técnicos em estados vizinhos a Pernambuco.
E olhe que o salário para a função chegava a 2 800 reais, considerado muito bom para a região”, diz. A dificuldade de encontrar bons profissionais não se deve apenas à má formação educacional, mas também a uma mudança nas competências exigidas. Atualmente, o mercado busca pessoas que trabalham em equipe, tomam decisões, têm iniciativa, atuam sob pressão e sabem gerenciar grupos de trabalho.
“Estamos vivendo uma espécie de apagão da mão de obra de nível técnico. As instituições não estão conseguindo suprir a demanda provocada por uma economia extremamente aquecida”, diz o diretor de desenvolvimento humano e organizacional da Votorantim Cimentos, Guilheme Rhinow. “Hoje em dia, consegue-se qualificar a pessoa rapidamente. Difícil é desenvolver valores, a sintonia entre o profissional e a companhia de maneira a evitar choques e rupturas. O conhecimento é volátil, muda rapidamente. Isso até se resolve, mas valores são perenes”, diz Guilherme.
Temos vagas
A antiga placa de “não temos vagas” foi substituída por “temos vagas, desde que haja gente capaz de preenchê-las”. O Estaleiro Atlântico Sul (EAS) é um bom exemplo, porque nunca conseguiu preencher completamente seu quadro de colaboradores. Com cerca de 4 500 funcionários, o EAS “importou” 150 decasséguis do Japão — país que possui forte indústria naval — para repassarem o know-how e a metodologia japonesa às equipes nacionais. Os salários, dependendo do cargo ocupado no estaleiro, variam entre 1 000 e 4 000 reais, como é o caso do especialista na área de soldagem.
Também preocupada com a escassez de mão de obra, a Suzano Papel e Celulose está antecipando a formação de seus profissionais em função de seus planos de expansão no país. Só no Nordeste, onde serão instaladas plantas industriais no Maranhão em 2013 e Piauí em 2014, serão 9 000 profissionais. Até 2020, a empresa vai passar dos atuais 4 500 para 19 000 funcionários . “O maior desafio é encontrar gente qualificada, principalmente na área técnica”, diz o diretor executivo de RH, Carlos Alberto Griner.