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Só uma pessoa falou que eu era louco, diz pai que tirou licença de 40 dias

Gerente de sustentabilidade da Natura tirou licença-paternidade de 40 dias e conta como foi.

Bebê (EvgeniiAnd/Thinkstock)

Bebê (EvgeniiAnd/Thinkstock)

Camila Pati

Camila Pati

Publicado em 12 de agosto de 2018 às 06h00.

Última atualização em 20 de janeiro de 2020 às 12h01.

São Paulo - Você é louco, a empresa não vai olhar com bons olhos. Esta foi a única opinião negativa que o gerente de sustentabilidade da Natura, Keyvan Macedo, ouviu em seu círculo de amigos e conhecidos quando contou que ficaria 40 dias em licença-paternidade.

Desde junho de 2016, a Natura concede 40 dias de licença-paternidade remunerada a todos os funcionários, inclusive a casais do mesmo sexo e em casos de adoção.

A saída não é obrigatória, é o profissional quem decide e, com o nascimento do segundo filho a caminho, Macedo, funcionário com 13 anos de casa, quis aproveitar o benefício. E ele tinha mais do que motivos.

“Quando a minha primeira filha, Maya, nasceu, ainda não existia essa possibilidade eu tirei os cinco dias e pedi mais 15 dias de férias”, lembra. Como a menina teve problemas de saúde teve que voltar para o hospital logo nos primeiros dias de vida para ser internada na UTI, o período de contato com ela foi, além de escasso, turbulento.

“Ela voltou para casa numa sexta-feira e na segunda-feira eu já voltei a trabalhar”, diz. Para ele, a licença paternidade para o nascimento de Dylan, hoje com 9 meses, também permitiu um resgate com a Maya, de 3 anos e 10 meses. “Foi uma experiência única, especial. Pude aproveitar o primeiro e o segundo filhos”, diz.

Quando voltou da licença, ele estava realmente agradecido e até escreveu ao comitê executivo para contar o quanto tinha sido bom desfrutar do benefício, bem mais generoso aos pais do que o que prevê a lei brasileira.

Segundo a Constituição Federal, os pais têm direito a se ausentar do trabalho por cinco dias em razão do nascimento do filho. Em 2016, com a criação do “Programa Empresa Cidadã” pela Lei 13.257 é possível a partir do cumprimento de alguns requisitos prorrogar o prazo por mais 15 dias, caso a empresa decida aderir.

Na Natura, o período de licença para o pai poderá ser de até 70 dias, caso o colaborador decida emendar com as férias. Licença paternidade estendida ainda é novidade por aqui. Segundo pesquisa da Mercer Marsh Benefícios, realizada com 690 empresas nacionais e multinacionais, 18% das empresas oferecem licença paternidade estendida.

Por ser raro, o benefício é apresentado como "diferencial" na atração de talentos, segundo a diretora Mercer Marsh Benefícios, Mariana Lucon.  “As empresas têm percebido que um pacote de benefícios padrão já não é mais suficiente para estabelecer uma vantagem competitiva na atração e retenção de talentos. Benefícios como licença paternidade e maternidade estendida, horários flexível, home office, programas de promoção e prevenção à saúde, além de ampliar o pacote de benefícios, agregam às propostas de valor ao empregado que hoje já não olha somente a questão de remuneração para escolher uma empresa para trabalhar”, diz Mariana.

Homens têm medo de tirar a licença?

Aos colegas da Natura e de empresas que também concedem período mais longo de licença aos pais, Macedo nunca indica que tirem menos de 40 dias. “Não perde vínculo com a empresa. Pelo contrário cria mais vínculo”, diz.

Macedo se junta à maioria dos 200 outros funcionários da Natura que já tiraram licença -paternidade desde 2016: 80% se ausentaram por 40 dias.

Mas nem sempre é assim, uma pesquisa feita pela Deloitte em 2016 identificou que o conhecido de Macedo que disse ser loucura afastar-se por 40 do trabalho não está sozinho.

De acordo com o estudo, mais de um terço dos 1000 participantes ouvidos pela Deloitte sentiam que tirar licença poderia prejudicar sua posição no trabalho. Mais da metade disse que a ausência poderia ser vista como falta de comprometimento e 41% temiam, na época, perder oportunidades e projetos.

As informações dadas pela equipe de RH da Natura a EXAME vão de encontro ao investigado pela pesquisa. E a cultura da empresa pode explicar por que lá as coisas parecem ser diferentes.

“Enxergamos um alinhamento maior com a cultura da empresa. A adesão ao programa é um dos indicadores. Também reflete na pesquisa de engajamento, que mostra um colaborador mais dedicado”, diz Marcos Milazzo, diretor de remuneração e reconhecimento da Natura.

Mais dedicação e comprometimento são os efeitos mais claros, medidos pela equipe de RH da Natura. “A gente se sente mais realizado no ambiente de trabalho”, diz Macedo.

E ele nota todo um esforço da empresa para manter as atividades de pé. É reconhecida a importância desse vínculo e as pessoas se ajudam, garante Macedo.

Keyvan Macedo: período foi bom para curtir os dois filhos (Arquivo Pessoal/Divulgação)

 

 

 

 

 

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