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Da Redação
Publicado em 4 de abril de 2013 às 19h59.
São Paulo - Desde que a crise econômica europeia teve início, em 2008, o Brasil e outros países emergentes foram capazes de manter o nível de emprego numa situação bastante confortável. Enquanto países europeus viveram uma explosão na quantidade de desempregados, a situação no Brasil só melhorou no mesmo período.
A taxa de desocupação medida na Pesquisa Mensal de Emprego, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que em 2008 e 2009 oscilava entre 8% e 9% depois de ter atingido 13% em meados de 2003, caiu gradativamente de lá para cá, até chegar a 4,9%, na medição mais recente, de novembro do ano passado (veja tabela Piorou, Mas Foi Positivo).
Mas agora já há quem diga que essa espécie de blindagem pode estar chegando ao fim. Um relatório divulgado em janeiro pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta que nos próximos dois anos o Brasil deve ganhar mais meio milhão de desempregados, alcançando um total de 7 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho.
De acordo com a OIT, isso deverá acontecer porque o Brasil e demais países emergentes não escaparão dos efeitos da desaceleração do comércio global e da queda dos preços das commodities.
Trata-se do dado mais alarmante até agora sobre o tema do emprego no Brasil nos próximos anos, publicado dias antes de o Ministério do Trabalho informar que a criação de empregos formais em 2012 foi o pior resultado dos últimos três anos — foram criadas 1,3 milhão de vagas no Brasil no ano passado, um número 35,6% inferior ao de 2011.
Economistas brasileiros, porém, afirmam que não é preciso ligar o alerta de pânico. “A taxa de desemprego não deve voltar aos níveis do passado, que chegaram a 13%, ainda que haja uma interrupção na trajetória de queda ou uma pequena elevação do nível de desemprego”, afirma o economista Wilson Amorim, pesquisador da Fundação Instituto de Administração (FIA) e professor da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, para quem não há razão para temores.
“Ainda que tenhamos problemas a resolver, de maneira alguma vamos chegar aos níveis que hoje estão Espanha, Itália e Portugal”, diz.
Para o economista, há vários indicadores que mostram um bom grau de imunidade ao contágio da crise externa, que podem minimizar as eventuais perdas provocadas pela queda dos preços das commodities ou pela desaceleração da economia europeia.
Entre eles, o fato de que o país não concentra suas exportações na Europa, porque também tem como grandes parceiros os Estados Unidos, a China e a Argentina. Além disso, há muitos investimentos em setores como construção civil, infraestrutura e logística, e possíveis oportunidades abertas pela Copa do Mundo de 2014 e pela Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro.
Expectativa de dias melhores
A trajetória de queda acentuada do desemprego verificada nos últimos anos, porém, deve ser interrompida. “Esse não é um processo que vai durar para sempre, mesmo assim vale lembrar que 2012 foi um ano com baixa atividade, mas com mercado de trabalho bastante aquecido”, diz Eduardo Zylberstajn, pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e responsável pela elaboração dos Indicadores do Mercado de Trabalho Catho-Fipe, novo índice lançado em janeiro (veja quadro acima).
A expectativa de que dias melhores virão e o custo que as demissões têm explicam o fato de o desemprego não ter aumentado em 2012. “Até agora o nível de emprego se manteve porque as empresas encontraram outros meios de cortar custos — por exemplo, reduzindo as horas trabalhadas”, diz o economista Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria, de São Paulo.
“Como há perspectiva de recuperação a partir deste ano e demitir envolve um custo grande, nossa avaliação é de que não há espaço para um grande aumento do desemprego.”
De acordo com Rafael, a expectativa é de que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 3,2% em 2013 e a taxa de desemprego feche o ano em 5,2%, um índice baixo. Na indústria, a expectativa também é de recuperação da economia e do nível de emprego. “Ao longo de 2012, esse setor não demitiu. O nível de emprego ficou no mesmo patamar porque existe o custo da admissão e dos treinamentos, além da dificuldade de mão de obra especializada.
Esperamos aquecimento da economia para este ano”, diz Marcelo de Ávila, gerente de política econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ainda assim, segundo o relatório da OIT, países como o Brasil precisam dar um salto de produtividade. A visão é compartilhada pelo economista Wilson Amorim: “Ou o Brasil inova e aumenta sua produtividade ou vai amargar na hora de colher os resultados econômicos”.