Carreira

A Mormaii toca o negócio sem a noia dos números

O modelo de gestão desencanado da Mormaii vem atraindo profissionais que buscam equilíbrio entre carreira e qualidade de vida

Eduardo Barros Gil, da Mormaii:  no almoço, pausa para o surfe (Michel Teo Sin)

Eduardo Barros Gil, da Mormaii: no almoço, pausa para o surfe (Michel Teo Sin)

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Da Redação

Publicado em 5 de agosto de 2013 às 15h57.

São Paulo - Há dois anos, o advogado Eduardo Barros Gil, de 25 anos, trocou o estresse de São Paulo por Garopaba, município com 18.000 habitantes no litoral de Santa Catarina.

"Queria um emprego que me proporcionasse viver em uma cidade pacata, onde pudesse reunir qualidade de vida, esportes e crescimento profissional", diz ele, que, na capital paulista, trabalhava 12 horas diárias numa consultoria global de recrutamento de executivos.

Ele decidiu tentar a sorte escrevendo um e-mail para Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, de 63 anos, presidente da Mormaii, fabricante de artigos esportivos. "Para minha surpresa, Morongo, que estava em uma viagem internacional, me respondeu em menos de 24 horas dizendo que me receberia para uma visita", afirma o paulista.

Em um mês, Eduardo estava contratado pela companhia, em que ocupa o cargo de coordenador de marketing institucional. Atualmente, ele acorda por volta das 6h30, malha três vezes por semana e quase sempre aproveita para surfar no horário de almoço, quando a temperatura do mar está mais favorável. E ainda pratica ioga e tênis. O expediente acaba às 6 da tarde, a tempo de contemplar o pôr do sol na praia.

A contratação de Eduardo reflete bem o modelo de gestão implantado por Morongo, que se orgulha de dizer que na Mormaii não se usa a palavra "chefe". "Sou o dono, mas não mando", afirma ele, cuja filosofia, repetida pelos funcionários, é da liberdade com responsabilidade.

O maior exemplo disso é a flexibilidade de horários dos profissionais, em sua maioria praticantes de surfe. Na empresa, é comum perguntar por alguém e ouvir: "Ele foi surfar e já volta".

"Se o cara está trabalhando e vê que o dia está com tudo para pegar onda e não pode, vai à loucura. Ele surfa, volta amarradão e trabalha até de madrugada, se precisar", costuma dizer. Terno e gravata tampouco fazem parte do dia a dia da empresa. 


Nos corredores, é comum ver os funcionários de camiseta e bermuda, o que inclui o presidente e o vice-presidente, Eduardo Nedeff. "A relação com nossos funcionários é franca, direta e amigável, sem nenhuma formalidade em nosso estilo de ser, de vestir e de curtir", diz Nedeff.

A receita parece estar funcionando, já que a Mormaii, que iniciou sua operação com a fabricação artesanal de roupas de neoprene para surfe, hoje fatura em torno de 350 milhões de reais com mais de 40 produtos licenciados, entre acessórios esportivos, calçados, eletrônicos, moda e até automóveis.

A marca é encontrada em 20.000 pontos de venda em todo o Brasil e está presente em mais de 80 países, além de 29 franquias e mais 170 lojas com inauguração prevista para os próximos cinco anos.

Esse jeito peculiar de produzir é traduzido nas palavras de Morongo. "Na Mormaii, não tem essa noia de números. Lucro é importante, mas em primeiro lugar está a satisfação de quem trabalha aqui", afirma. Essa frase, que pode soar estranha saindo da boca de um presidente, na realidade reflete a história do empresário, médico de formação.

Quando chegou a Garopaba, na década de 70, a cidade era uma vila de pescadores, sem água encanada ou luz elétrica. "Queria morar num lugar onde as pessoas realmente precisassem de um médico", diz Morongo, que, nos primeiros anos, trabalhou voluntariamente, recebendo dos pacientes alimentos em troca do atendimento.


O negócio da Mormaii surgiu quando Morongo, que é surfista, fabricou para si uma roupa de neoprene para praticar o esporte durante o inverno, quando a água do mar fica muito fria. Amigos e lojistas da região viram a criação e começaram a encomendar. "Mais do que montar um negócio, vi que poderia ajudar a encontrar uma solução para os problemas sociais da cidade", afirma Morongo. 

Esse DNA social ainda influencia os valores da empresa, que estimula os empregados a colaborar uns com os outros, e não a competir. Foi essa postura que atraiu Jacqueline Mendonça, de 31 anos, a Garopaba, para realizar o sonho de trabalhar na Mormaii, onde ocupa o cargo de coordenadora de comércio exterior. "O lema aqui é elevar o nível de consciência, o que significa nos tornarmos seres humanos melhores em todos os sentidos", diz ela. 

Reflexo do grau de satisfação dos colaboradores com a empresa, ao longo de quase 40 anos, a Mormaii sofreu menos de dez ações trabalhistas. "Sendo que todas foram originadas por funcionários de empresas licenciadas, que apenas incluíram a marca no processo", afirma Luana Aguiar, do departamento jurídico da companhia.

Além do engajamento dos funcionários, para a Mormaii, a fórmula para o crescimento está em fazer parcerias em que todos ganhem. "Seja ambicioso, mas não ganancioso", afirma o presidente. "Rico é quem tem tempo, para curtir ou gastar o dinheiro. Quantos empresários na minha idade já estão com hipertensão?" 

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