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Se você não é Steve Jobs é melhor seguir este conselho

Pesquisador Tom Peters - que já trabalhou na McKinsey e no Pentágono - responde questões sobre liderança e desenvolvimento de equipe em tempos de crise

Steve Jobs (Divulgação)

Steve Jobs (Divulgação)

Camila Pati

Camila Pati

Publicado em 15 de novembro de 2016 às 15h00.

Última atualização em 15 de novembro de 2016 às 15h00.

É muito “patético”, nas palavras do guru de gestão Tom Peters, o que fazemos atualmente no campo de educação. E isso vai desde corrigirmos a maneira das crianças sentarem na escola até o modo com que trabalhamos em muitas empresas. Nós matamos a criatividade.

Coautor de mais de 20 livros, ele é formado em Engenharia e possui MBA em Stanford. Já trabalhou na McKinsey e no Pentágono, e hoje lidera a consultoria The Tom Peters Group, sediada em Palo Alto, na Califórnia. É um defensor ferrenho do investimento em gente – não só na hora de contratar, mas na hora de desenvolver. A famosa cultura ‘Employee First’.

No Brasil para o HSM Expo, ele argumentou que a atual crise econômica não é desculpa para as empresas pararem de investir no treinamento e desenvolvimento da equipe. Para ele, essa é uma questão de estratégia competitiva: a empresa que não valoriza e investe em seus funcionários não será capaz de entregar os melhores produtos ou serviços. Uma de suas máximas é: “Seus clientes nunca serão mais felizes que seus funcionários”.

Da mesma forma, funcionários satisfeitos também não existem em empresas com líderes arrogantes – ou que não estejam atentos ao que o seu time tem a dizer. Ele lembra que é importante manter motivados também os funcionários da “linha frente”, aqueles que estão em contato direto com o cliente mas que muitas vezes acabam esquecidos pela alta gestão: vendedores de loja, camareiras de hotel, etc.

A seguir, o pesquisador responde a três questões sobre liderança e desenvolvimento de equipes em tempos de crise:  

Como promover a cultura de aprendizado em uma economia tão focada em resultados de curto prazo?
Gaste o seu dinheiro com treinamento. Estou pouco ligando para a sua situação financeira (risos). Isso é problema seu, não meu. Tem coisas que você pode cortar e outras não. Venda metade dos caminhões da sua frota, mas não corte o treinamento. Porque a longo prazo o treinamento vai te dar muito, muito retorno. Não cortem coisas que vocês não deveriam cortar. Vocês têm que continuar desenvolvendo pessoas. A boa notícia é que falamos sempre “ah, o longo prazo”. Mas você sabe quanto tempo leva para começar a ver retorno sobre o investimento em treinamento? Cinco minutos. Uma semana.  

Como desenvolver a capacidade de saber ouvir em um ambiente de pressão e ansiedade?
Uma vez eu perguntei isso no meu Twitter e uma gestora respondeu que seu segredo era escrever na mão um lembrete para ouvir mais toda vez que entrava em uma reunião (risos). Mas esse é o jeito dela, não é a minha resposta. Na verdade, toda a empresa precisa dar um treinamento sobre como saber ouvir, mesmo se você só tiver dez funcionários.

E o principal funcionário que deveria saber ouvir é o CEO. Essa é uma área em que coach ou amigo podem te ajudar muito. Você pede para um coach ou amigo te observar em uma reunião. Daí ele vai te falar que você interrompeu outras pessoas onze vezes. O amigo vai ser um dos poucos que vão ter a coragem de te falar a verdade. É um feedback muito importante. E existem muitas pesquisas que mostram isso. Você acha que interrompeu uma ou duas vezes, mas interrompeu catorze. E se alguém te falar isso sem você pedir, você precisa ouvir. Mesmo se você é um super tenista, vai prestar atenção se alguém te falar que seu backhandé horrível, certo?  

Você fala muito da importância do líder ser gentil. Mas o Steve Jobs não era muito bom na cultura de gentileza, e mesmo assim criou uma grande empresa. Como isso é possível?
Vou começar com uma frase simples, que eu já respondi quando me perguntaram isso antes. Você não é Steve Jobs (risos). O que eu quero dizer, na verdade, é que talvez você consiga se safar sendo um pouquinho grosseiro. Você pode ser um em oito bilhões, mas eu sei que não sou. Mas tem uma segunda resposta para essa questão, mais importante, e é que eu estou pouco ligando se o Steve Jobs é bom ou não. Quando eu volto pra casa, eu não quero ter vontade de vomitar. Quero conseguir me olhar no espelho. É isso.

Tanto faz o que o pessoal de finanças ou dos MBAs famosos me diz. Eu quero ser gentil primeiro porque foi assim que aprendi com a minha família. O principal é que, tanto no Brasil como nos Estados Unidos, uma parte enorme dos nossos cidadãos trabalham para empresas. Por isso nós estamos trabalhando só com lucro. Nós estamos trabalhando com o desenvolvimento de cidadãos brasileiros, é um dever moral nosso estar atento à gentileza e à decência.

Eu já trabalhei com Steve Jobs como consultor. Tenho três Iphones e acho que eles são legais, mas o Steve Jobs é um babaca. E se você é um babaca, você é um babaca e ponto. Você pode inventar o que você quiser, não muda isso.

*Este artigo foi originalmente publicado pelo Na Prática, portal da Fundação Estudar

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