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Salário sob demanda: empresas no Brasil já estão apostando neste benefício para CLT; veja como

Com aporte de 3,6 milhões de dólares, startup chilena busca democratizar o acesso ao salário e diminuir endividados - inclusive no Brasil

Mafalda Barros e Gonzalo Blanco, fundadores da Quansa - fintech que chegou ao Brasil com o objetivo de flexibilizar o salário, principalmente de profissionais de baixa renda  (Quansa/Divulgação)

Mafalda Barros e Gonzalo Blanco, fundadores da Quansa - fintech que chegou ao Brasil com o objetivo de flexibilizar o salário, principalmente de profissionais de baixa renda (Quansa/Divulgação)

Publicado em 15 de março de 2024 às 12h12.

Última atualização em 15 de março de 2024 às 13h09.

Já pensou se fosse possível adiantar o salário dos dias em que trabalhou, sem precisar esperar o último dia do mês ou o quinto dia útil? Esse é o benefício que o uruguaio Gonzalo Blanco, junto com a sua sócia portuguesa Mafalda Barros, criaram enquanto faziam um mestrado de negócios na Universidade de Stanford, EUA, em 2019.

“Eu e Mafalda começamos a estudar as causas do endividamento na América Latina e percebemos que muito desse endividamento era devido a um valor pequeno que faltava no bolso do funcionário dentro do mês para pagar uma conta ou um imprevisto, o que o estimulava a fazer empréstimos longos”, afirma Blanco que comenta que a tecnologia estava ajudando as pessoas a se endividarem, mas não tinha encontrado nenhuma solução inovadora quanto ao pagamento do salário.

A solução chega no Brasil

O formato de salário flexível já é algo comum em alguns países, como o EUA e alguns da Europa, afirma o executivo, que cita como exemplo Walmart e McDonald's, nos EUA, e o National Health Service, que é um sistema público de saúde do Reino Unido. “O funcionário dessas organizações podem receber o salário de forma fluída, isso significa que no dia 10, você pode recorrer aos valores que você trabalhou sem precisar esperar até o último dia no mês”, afirma Blanco, que traz o motorista do Uber como exemplo. “O motorista do Uber, por exemplo, faz a corrida e recebe o pagamento na hora, porque não flexibilizar o salário para o CLT também?”.

A ideia de praticar o salário flexível deu origem a startup Quansa, que foi criada em 2020 no Chile, em pleno a pandemia, situação que foi difícil para muitos negócios, mas que no caso da fintech foi uma oportunidade de expansão.

“A pandemia acabou ajudando a viabilizar mais os problemas de saúde financeira, afinal, o nosso público-alvo são funcionários que recebem no máximo quatro salários-mínimos. São pessoas que se endividam por não terem muitas vezes 300 reais no bolso ou o dinheiro para pagar uma conta”, diz o executivo.

O assunto do salário sob demanda se intensificou no Chile, tanto que em 2021 a fintech recebeu um aporte de 3,6 milhões de dólares, que permitiu que suas operações chegassem ao Brasil no último ano. “Vimos no Chile um país com mais abertura, com menos burocracia para empreender. Já no Brasil, vimos uma vasta oportunidade de trabalhadores que possuem o perfil que atendemos”, afirma Blanco que conheceu os dois mercados após trabalhar muitos anos como executivo em grandes companhias, como Nestlé e McKinsey.

Como funciona o processo com o RH?

Com uma equipe de apenas nove funcionários, todos com formação em tecnologia, a Quansa entra com a solução tecnológica que é conectada com a folha de pagamento do RH. “O RH da companhia dará apenas as limitações de contratos, como informações sobre férias ou desligamentos, mas todo o processo de transferência será feito pela Quansa de forma online, por meio de um aplicativo”, afirma Blanco. “Desde a fundação, não aumentamos a equipe, porque o processo é totalmente digital, o que nos ajuda a oferecer um serviço com um custo mais acessível para as companhias, para assim gerar o impacto social que motivou o nosso negócio”.

O impacto social que Blanco fala é sobre diminuir o número de pessoas que recebem pouco para que possam assim buscar ter um uma cultura de investimento. “Com a flexibilidade do salário, as pessoas podem até economizar seu dinheiro no tempo que quiser ou até mesmo ter mais crédito no mercado para investimentos maiores, como carro ou até um imóvel”, afirma Blanco que é engenheiro industrial e pensou em uma área no aplicativo para estimular essa reserva, mesmo que pequena.

Atualmente, a startup já soma 45 empresas clientes no Chile e Brasil, como Belagrícola, Ecorodovias, Grupo Boticário, La Guapa e OAKBERRY.

Expectativa para este ano

Após chegar ao Brasil em 2023, as expectativas dos fundadores da Quansa seguem otimistas para este ano. “Em 2024 queremos crescer em número de clientes e funcionários, além de nos consolidarmos como a principal ferramenta de antecipação salarial para profissionais de baixa renda”, afirma Blanco que visa um crescimento de receita da fintech em 150% em 2024.

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