Mentiras durante entrevista de emprego podem colaborar para redução do salário (REUTERS/Rick Wilking)
Da Redação
Publicado em 18 de agosto de 2013 às 18h41.
Após horas de prática na frente do espelho de casa, com sorrisos modestos, traquejo na voz, barba e cabelo aparados e positividade no olhar, o candidato a uma vaga de emprego acredita que está pronto para enfrentar qualquer entrevista.
Pela internet, é possível encontrar diversos métodos “infalíveis” para passar sem problemas por esse momento tão importante na carreira. Alguns candidatos praticam tanto com esses recursos que até reclamam se o entrevistador esquecer de alguma coisa, e no final da entrevista intimam: "Mas você não vai nem me perguntar qual a minha melhor qualidade?".
A maioria já sabe o que vai responder — ou pelo menos acha que sabe —, e pode acabar até omitindo ou disfarçando alguns pontos na hora do show. O conhecido "Você trabalha bem em equipe?" com certeza virá seguido de um "Sim, é claro" animado, até mesmo de quem levava a bola embora quando o time perdia.
Em outras palavras, na entrevista de emprego quase todo mundo mente. E mente com convicção. Mas, na verdade, esse efeito pode ser reverso, e até prejudicial para o mercado.
Os empregadores, mesmo quando se fazem de inocentes, sabem muito bem que a maioria dos candidatos vai ocultar uma coisa ou outra e podem tomar uma precaução importante para não sofrer grandes prejuízos: reduzir os salários pagos no primeiro ano de emprego.
Existem algumas formas de sinalizar características positivas para os contratantes.
Diplomas de bons cursos e certificados de exames padrão como o TOEFL contribuem para abrir portas nas mais diversas empresas. Um aluno do Instituto Tecnológico de Aeronáutica pode acabar trabalhando no mercado financeiro. Não porque sua escola ensina bem finanças, mas sim porque seu diploma sinaliza qualidade e eficiência para o mercado.
Ainda assim, um profissional bem preparado sofre com o custo de assimetria de informação. Em economia, assimetria de informação é um fenômeno que ocorre quando, numa negociação, uma das partes detém mais informações qualitativa e/ou quantitativa que a outra. O empregador sempre tem mais informações do que o candidato a vaga de emprego.
Logo, o empregado acaba tendo de suportar seu primeiro ano de trabalho — ou o temido período de testes — recebendo apenas uma parcela daquele que deveria ser seu salário graças aos mentirosos de plantão.
Samy Dana é professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, Ph.D. em administração e negócios e autor dos livros 10x sem juros, em coautoria com Marcos Cordeiro Pires, e Como passar de devedor para Investidor, com Fabio Sousa