São Paulo - A história da fabricante de papel-cartão Ibema mostra como uma solução simples é capaz não apenas de aumentar a motivação do time como também tirar uma companhia do prejuízo.

A partir do momento em que a liderança colocou nas mãos de seus empregados a responsabilidade pela inovação dos processos administrativos e produtivos (por meio de um singelo programa de ideias de melhorias), a empresa conseguiu voltar ao azul e, de quebra, introduzir uma nova cultura de colaboração.

O desafio

O ano de 2010 foi marcante para os negócios da Ibema. Terceira maior fabricante de papel-cartão do país e dona de uma área de florestas plantadas de mais de 3 900 hectares de pinus, a empresa vendeu naquele ano toda a sua produção — batendo a marca de 90 000 toneladas do produto.

“Operamos no limite da capacidade produtiva da empresa”, diz o diretor administrativo e financeiro, Clécio Chiamulera. Apesar do aquecimento do mercado, que fez o setor crescer 10% naquele período, a fabricante fechou o ano no prejuízo, acumulando as perdas já registradas no ano anterior.

O problema estava no custo altíssimo da produção, que tornava as despesas sempre maiores do que a receita, mesmo num ano tão otimista. Era preciso descobrir como enxugar esses custos e aumentar a receita, sem perder a qualidade do produto.

A solução

Criado em agosto de 2011, o Programa Inspiração tem por objetivo colher e desenvolver sugestões dos funcionários da Ibema que visem à diminuição do tempo de parada de máquinas, à redução de custos de processos, à facilitação da mão de obra e até à prevenção de acidentes de trabalho.

Qualquer funcionário das três unidades da empresa — a área administrativa, em Curitiba, o centro de distribuição, em Araucária, e a fábrica, em Turvo — pode participar. Basta inscrever a sugestão no site da companhia ou em urnas e totens na fábrica. As ideias passam, primeiramente, por um comitê técnico. Na sequência, gerentes e diretores avaliam a viabilidade das sugestões.

“Quando lançamos o programa, oferecíamos dez prêmios, de 200 reais cada um, para as melhores ideias do trimestre, além de três prêmios anuais de 10 000 reais cada um”, diz Chiamulera. “Com o passar do tempo e a certeza de que esse deveria ser um programa permanente, aumentamos o reconhecimento, elevando o valor dos prêmios trimestrais para 500 reais.”

O dinheiro é debitado em um cartão que pode ser usado no comércio da cidade. Além disso, em 2014, a companhia passou a oferecer prêmios especiais para supervisores, especialistas e gerentes. No primeiro caso, os supervisores e especialistas que mais ajudarem os funcionários a colocar suas ideias em prática serão reconhecidos com meio salário.

E os gerentes cujas equipes tiverem mais sugestões, mais ideias colocadas em prática e maior participação no comitê que avalia ideias concorrem a uma viagem ao exterior com acompanhante. “Nosso objetivo é aumentar a implantação de ideias, saltando do percentual de 40% para 60% até o fim deste ano”, diz Chiamulera.

O resultado

Desde que o Programa Inspiração foi criado, a Ibema já recebeu 1 673 sugestões de melhorias. Somente neste ano, foram computadas 743. A expectativa é chegar a março de 2015 com mais 1 000 ideias e ultrapassar a marca de 2 600 em três anos e meio de programa.

As sugestões vão da melhor organização das ferramentas de trabalho à automatização de máquinas, passando pela eliminação de bombas no processo produtivo, o que reduz gastos com energia, por exemplo. A área administrativa também vem desempenhando papel importante no programa, contribuindo com dicas para aperfeiçoar roteiros logísticos e reduzir contas de telefone.

“Mais de 70% da empresa abraçou a iniciativa”, afirma o diretor. Graças ao Programa Inspiração, entre 2011 e este ano, a Ibema aumentou 2% a produção de corte de papel-cartão por mês, a produtividade cresceu 3% e as paradas de máquina caíram 0,5%. Assim, alcançou, em 2013, a produção recorde de 92 000 toneladas de papel-cartão.

“Nossa produção mensal de embalagem de resma também aumentou 50% entre 2011 e 2014, enquanto os acidentes de trabalho tiveram redução de 10% e o consumo de água por hora diminuiu 16%, diz Chiamulera. Já em 2011, com o empenho de seus funcionários, a empresa conseguiu retomar a rota de lucro, o que era sua principal meta.

Mas, segundo o diretor, o mais importante foi a transformação da cultura interna, que ficou muito mais participativa. “Os empregados do nível operacional sabem que, hoje, têm liberdade para dizer como os processos devem ser melhorados”, diz ele. “E os gerentes passaram a ouvir mais seus funcionários e a atuar mais próximos deles, além de promover uma integração maior entre equipes de diferentes setores.”