Carreira

"RomeroGate": mulher que quebrou obra do artista plástico está correta?

Na visão de especialistas em recursos humanos, há quase nada de exemplar na atitude da dona do restaurante de Miami para um liderança de equipes

Momento em que obra de Britto, avaliada em 26.000 reais vai ao chão (Twitter/Reprodução)

Momento em que obra de Britto, avaliada em 26.000 reais vai ao chão (Twitter/Reprodução)

LB

Leo Branco

Publicado em 15 de agosto de 2020 às 15h22.

Última atualização em 16 de agosto de 2020 às 10h32.

A atitude de uma dona de restaurante de Miami, nos Estados Unidos, de quebrar uma obra do artista plástico brasileiro Romero Britto, avaliada em 26.000 reais, viralizou nas redes sociais nesta semana. O episódio tem sido chamado nas redes sociais, de forma irônica, de "RomeroGate", numa alusão ao escândalo do Watergate, que culminou na renúncia do presidente americano Richard Nixon em 1974.

Divulgado inicialmente no perfil da rede social TikTok de Faye Pindell, uma assistente da galeria do artista brasileiro, o vídeo teve mais de 19 milhões de views e foi compartilhado em outras plataformas.

No vídeo, a dona do restaurante espanhol Tapelia questiona o artista plástico por supostamente ter sido grosseiro com os funcionários do estabelecimento.

“Você foi ao meu restaurante, reservou uma mesa para 20 pessoas para tomar café da manhã a 8 dólares, que é barato, e ainda pediu desconto”, diz no vídeo a mulher, dona do estabelecimento, que fica em frente à galeria de arte de Britto, na Lincoln Road em Miami.

Neste sábado, o artista disse, em comunicado, que o vídeo é de 2017, e que não admite “desrespeito” às suas obras, ainda mais por ter exposto as pessoas presentes na galeria ao risco de sofrer machucados com os cacos. “É lamentável, mas a integridade física das pessoas foi colocada em risco naquele momento", disse em nota.

"Para onde envio meu CV?", diz internauta

Internautas nas redes sociais, contudo, comemoraram a atitude da dona do restaurante, que ainda não se pronunciou publicamente sobre o ocorrido. Um post do perfil do restaurante Tapelia no Instagram tinha mais de 20.000 curtidas neste sábado.

Boa parte dos comentários eram brincadeiras de brasileiros detratores de Britto e pedindo para trabalhar na equipe do Tapelia. “Para onde envio meu CV?”, disse um. “Parabéns pela atitude, você fez algo incrível pelos seus funcionários”, disse outro. “Tem vaga pra Presidente do Brasil”, afirmou um terceiro.

Afinal, há algo de exemplar na atitude da dona do restaurante para um líder de equipes? Na visão de especialistas em recursos humanos, a resposta é: quase nada.

Daiane Andognini, presidente da Hug, consultoria brasileira especializada em ajudar CEOs na formação da cultura de gestão de pessoas em empresas em expansão, aponta que a dona do restaurante praticou, de fato, o “people first” (funcionários em primeiro lugar), conceito cada vez mais comum no mundo corporativo. “Ela se colocou no lugar dos funcionários, o que é uma qualidade que todo chefe deve ter”, diz Daiane, psicóloga com 20 anos dedicados à gestão de pessoas.

“Mas também é atitude de um líder ter controle emocional e não se deixar levar pela raiva, algo que ela não conseguiu fazer.” A maneira correta de lidar com a situação, na visão de Daiane, seria procurar ouvir os dois lados, o dos funcionários e o do artista. Além disso, ela poderia ter cobrado o artista numa situação privada. “Do jeito que ela fez, ela expôs a todos, inclusive aos funcionários, de uma maneira negativa”, diz.

Cultura do cancelamento

Thaylan Toth, fundador e CEO da Mindsight, uma startup para automação de processos de recursos humanos, vai na mesma linha. “Por um lado, é positivo é defender time e mostrar que eles têm amparo e que ela está preocupada com o bem-estar da equipe. O errado foi a força da atitude, agressiva. O risco é o time entender que isso vale para qualquer coisa. Por exemplo, um garçom do restaurante achar que que é válido destratar um cliente”, diz Toth.

Rodrigo Vianna, diretor do Talenses Group, empresa especializada em recrutamento e seleção de recursos humanos pondera que a dona do restaurante não deu espaço para o artista se defender. “Ela poderia ter ido direto pra ele, numa reunião, por exemplo, ou relatado o caso nas redes sociais, dando a chance de ele se defender. O que ela acabou fazendo foi uma agressão pública”, diz.

Para Camila Giannella, sócia e diretora de operações da consultoria de marcas iN, a dona do restaurante conseguiu uma projeção mundial para o estabelecimento dela. "Apesar disso, não espero repercussões positivas para o restaurante", diz Camila, para quem a celeuma causada pelo episódio tem a ver com a cultura do cancelamento presente nas redes sociais. "Quem não gosta do Romero Britto vai execrá-lo, independentemente se ele estiver certo ou errado. Quem gosta irá defendê-lo", diz.

Acompanhe tudo sobre:ArtistasGestão de pessoasRecursos humanos (RH)

Mais de Carreira

Klabin abre 50 vagas para estagiários de diferentes regiões do Brasil

Agulha no palheiro? Este é o líder que toda empresa procura, mas poucos estão prontos para o desafio

Como usar a técnica de repetição espaçada para aprender novas línguas

Quer ser influente no trabalho? Saiba como fazer as perguntas certas, segundo especialista