Diogo Arrais: "Ouvir Rita é ensacar o lixo do ódio, para encher o quarto com a rima do amor" (Rita Lee Oficial/ Roberto de Carvalho/Instagram)
Redação Exame
Publicado em 9 de maio de 2023 às 13h17.
Última atualização em 9 de maio de 2023 às 13h21.
É chegada a hora em que o céu proclama. Aqui, Rita, muito faltará você.
Órfãos de seus óculos coloridos, como agora tiraremos as cataratas nossas diante de tantos medos que só sua arte foi e é capaz de nos tirar? A saudade desafina, neste instante, os nossos sentidos.
Se não mais em presença física, levaremos para sempre a coragem tecida em Agora só Falta Você.
Sua voz, madrinha da força feminina, ao lado das teclas amorosas de seu companheiro Roberto, deu a tantos de nós, seus fãs, a atitude para rebelar-se e ser feliz:
“Um belo dia resolvi mudar
E fazer tudo o que eu queria fazer
Me libertei daquela vida vulgar
Que eu levava estando junto a você”
Em resolver, no pretérito, conjuga-se a vontade de fazer o que precisa ser feito no presente. Você nos foi um: de Deus!
O pronome, em próclise praticada no Brasil, grita a libertação. Rita, você retirou tantos das inúmeras prisões que um relacionamento infeliz gera. Garantiu hábeas-córpus, por meio da poesia:
“E em tudo o que eu faço
Existe um porquê
Eu sei que eu nasci
Sei que eu nasci pra saber”
É esse porquê, acentuado e assertivo, na voz que acentua a beleza sua, ao palco, nos discos e em tantas entrevistas-aulas, da ovelha tão bem-quista nas festas de amigos e de famílias.
Isso sem contar quantas viagens foram trilhadas pela estrada de seus refrães:
“E fui andando sem pensar em voltar
E sem ligar pro que me aconteceu”
Sua atitude deu mais luxo à nossa Língua Portuguesa; ouvir Rita é ensacar o lixo do ódio, para encher o quarto com a rima do amor:
“Um belo dia vou lhe telefonar
Pra lhe dizer que aquele sonho cresceu
No ar que eu respiro
Eu sinto prazer
De ser quem eu sou
De estar onde estou”
Tantas ironias finas, tantas metáforas acolhedoras, tantos conselhos à juventude, tantas sentenças genuínas, humanas, dos carnavais às salas clássicas. Rita Lee, por mais que a carne e o osso tenham ido, saiba que – quando as vitrolas dos nossos corações estiverem vazias – vamos aumentar o volume, para dizer:
“Agora só falta você
Agora só falta você
Agora só falta você
Agora só falta você”
Vá em paz! Amamos você!
DIOGO ARRAIS
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Professor de Língua Portuguesa