A conclusão do Ensino Médio na EJA eleva a renda mensal em 6%, em média, para o grupo de 18 a 60 anos em comparação com quem parou no Ensino Fundamental (Jornal Brasil em Folhas/Flickr)
Repórter
Publicado em 12 de setembro de 2025 às 18h16.
Voltar à sala de aula depois dos 18 anos ainda é, para muitos brasileiros, um desafio carregado de obstáculos: conciliar trabalho, família e estudos parece um luxo distante. Mas um estudo divulgado nesta semana pelo Ministério da Educação (MEC), em parceria com a UNESCO, mostra que esse esforço pode transformar destinos.
A pesquisa, conduzida pela especialista Fabiana de Felicio, revela que a Educação de Jovens e Adultos (EJA) e a Alfabetização de Jovens e Adultos (AJA) não apenas devolvem o direito à escolaridade, mas também abrem portas concretas no mercado de trabalho, elevando rendas e ampliando oportunidades para quem não concluiu a educação básica na idade recomendada.
“O aumento da renda, da formalidade e da qualidade das ocupações não só melhora a qualidade de vida das pessoas, como também contribui para a produtividade e a redução da pobreza e da desigualdade”, diz Felicio.
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Apesar dos avanços das últimas décadas, o déficit educacional no Brasil ainda é expressivo. Segundo dados da PNADc/IBGE de 2024:
As desigualdades são ainda maiores em regiões como o Norte e Nordeste, em áreas rurais e entre a população preta, parda e indígena.
Esse contingente representa o público potencial da EJA, mas a adesão segue baixa: menos de 1% dos adultos que não concluíram os anos iniciais do fundamental frequentam a escola. O estudo aponta que parte desse cenário pode estar ligada ao desconhecimento sobre os benefícios econômicos e sociais do retorno à sala de aula.
A pesquisa utilizou dados da PNAD Contínua entre 2021 e 2024 e a metodologia de Propensity Score Matching, que permite isolar o efeito da escolaridade no mercado de trabalho. Os resultados revelam ganhos concretos:
Para a autora do estudo, os dados confirmam que investir em EJA é estratégico para o Brasil.
“Os ganhos ao longo da vida parecem ser suficientes para justificar os custos de curto prazo do retorno aos estudos, especialmente para os grupos de idade mais jovens”, afirma Felicio.
O MEC avalia que os resultados podem ajudar a ampliar o debate e orientar políticas públicas de incentivo. Além da oferta insuficiente, o estudo aponta barreiras práticas que explicam a baixa adesão: dificuldade em conciliar trabalho e estudo, falta de transporte, questões de segurança e o desconhecimento sobre os retornos econômicos da educação.